A maioria dos brasileiros acredita que h� racismo no pa�s e que isso � o fator que mais gera desigualdade social. Mas se 81% das pessoas enxergam que este � um pa�s em que h� preconceito pela cor da pele, apenas 11% reconhecem atitudes discriminat�rias em si mesmos. A constata��o � da pesquisa Percep��es sobre Racismo no Brasil, feita pela Intelig�ncia em Pesquisa e Consultoria Estrat�gica (Ipec). Aproximadamente 2 mil pessoas com mais de 16 anos foram ouvidas, em todas as regi�es.
O abismo entre o n�mero que mostra que as pessoas acreditam ser o Brasil racista (81%) e o que aponta a dificuldade de assumir a pr�pria responsabilidade pela discrimina��o (11%) chama a aten��o. Os dados do levantamento trazem, ainda, que al�m de faltar olhar para si mesmas, as pessoas n�o percebem que trabalham (77%), estudam (67%) ou convivem (61%) em ambientes racistas. Representa que, apesar de a percep��o de racismo ser clara, h�, segundo a pesquisa, "dificuldade de nomear o racismo" nas experi�ncias pessoais de cada um.
Para a antrop�loga Lia Zanotta Machado, professora em�rita da Universidade de Bras�lia (UnB), essa � uma "contradi��o b�sica". "Voc� acredita no valor da igualdade, no dever, mas, ao mesmo tempo, nega que no dia a dia v�rias vezes voc� estabelece valores desiguais e hier�rquicos", observa.
M�rcio Black, coordenador de projetos do Instituto de Refer�ncia Negra Peregum — um dos respons�veis por encomendar a pesquisa —, salienta que "falta um entendimento de nomear e de entender atos de racismo nas rela��es pessoais". Ele acrescenta que, � dist�ncia, a viol�ncia racial f�sica � percebida pela popula��o, mas no cotidiano n�o h� essa compreens�o clara, o que, como frisa, "dificulta avan�ar na redu��o das desigualdades".
A pesquisa aponta que quase metade da popula��o (44%) sabe que o racismo � o principal fator da desigualdade social. Entre as pessoas que tiveram mais dificuldades em definir os fatores geradores das diferen�as, 11% t�m 60 anos ou mais e 8% foram at� o ensino fundamental. Assim, fica claro que a educa��o � um fator determinante na luta contra o racismo — esse corte geracional n�o recebeu informa��es sobre quest�es sociais e parte dele tem dificuldade de formar uma an�lise cr�tica do que seja discrimina��o pela cor da pele.
"A educa��o amplia o entendimento sobre o racismo, questiona imposi��es e status. Por isso, � urgente avan�ar em pol�ticas para ampliar a educa��o antirracista no pa�s", afirma M�rcio Black.
O levantamento aponta que quando perguntados se as pol�ticas p�blicas s�o suficientes contra a desigualdade social, 45% dos entrevistados responderam que sim. Para Black, isso quer dizer que as pessoas n�o conseguem "entender o papel das pol�ticas p�blicas no combate ao racismo".
Uma das pol�ticas pela igualdade de oportunidades mais conhecidas, as cotas raciais, t�m alta aprova��o entre aqueles que responderam ao question�rio (74%). Isso, por�m, n�o diminui a necessidade de se investir — segundo a pesquisa — em educa��o antirracista, de promover campanhas de conscientiza��o sobre as formas de discrimina��o e de estimular a participa��o do movimento negro, ind�gena e quilombola na cria��o de pol�ticas p�blicas.
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