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Estado de Minas ARTE DE RUA

'Olhai por N�is': artista que pichou o Pateo do Collegio lan�a exposi��o

Conhecido por interven��es em SP, como no Monumento �s Bandeiras e na est�tua de Borba Gato, M.I.A. reunir� obras em exposi��o solo a partir de sexta (10/6)


09/06/2022 17:50 - atualizado 09/06/2022 19:34

Montagem com uma foto de João França, conhecido como M.I.A., em preto e branco. Acima de sua foto, lê-se 'NEGRO' em uma tipografia de pichação. Abaixo, lê-se 'Exposição Black Contemporary Art'
M.I.A. lan�ar� a exposi��o Black Contemporary Art nesta sexta-feira (10/6) (foto: M.I.A./Redes Sociais/Reprodu��o)
O artista paulistano Jo�o Luis Prado Sim�es Fran�a, mais conhecido como M.I.A. (Massive Ilegal Arts), lan�ar� nesta sexta-feira (10/6) a Black Contemporary Art, exposi��o solo que reunir� obras desenvolvidas ao longo dos �ltimos anos. M.I.A. ficou amplamente conhecido por realizar interven��es de larga escala em monumentos hist�ricos da cidade de S�o Paulo.

Homem preto natural do bairro do Butant�, na Zona Oeste da capital paulista, Jo�o Fran�a teve seu primeiro contato com a arte urbana aos 13 anos atrav�s de seu irm�o, que era pichador. Aos 16, come�ou a espalhar sua express�o pelas ruas atrav�s do picho, para ele uma arte de rua, de resist�ncia e dos picos dos pr�dios. Futuramente, passou a grafitar e a desenvolver de outras formas suas cr�ticas e ideias.

Enquanto crescia, experimentou o crack, um subproduto da pasta de coca�na, o que lhe tirou sete anos de juventude. Se recuperou e encontrou novas motiva��es e perspectivas para expressar em sua arte, que tem sua experi�ncia no que chama de submundo como atributo e recurso principal de pesquisa. A partir da express�o suas viv�ncias, j� marcou presen�a em diversas exposi��es, colabora��es art�sticas e recebeu convites para palestras, semin�rios e mesas de debate sobre arte decolonial, contracultura e racismo.


Arte contra a discrimina��o


Em sua arte, M.I.A. tem a inten��o de traduzir o cen�rio de uma sociedade que possui um car�ter discriminat�rio e preconceituoso com as massas mais populares, que s�o frequentemente silenciadas. Seus atos pol�tico-art�sticos, entretanto, dividem opini�es e geram questionamentos, o que, para ele, � o princ�pio mais genu�no no campo da arte.

A cada interven��o realizada em espa�os at� ent�o considerados elitistas e restritos a uma parcela espec�fica da sociedade, M.I.A. pode ser considerado um v�ndalo que deve ser desqualificado, temido, preso e punido; ou um artista militante expressivo que utiliza sua forma��o na cultura do picho como forma de protesto e den�ncia em atos de desobedi�ncia civil.

Seus trabalhos mais conhecidos s�o aqueles em que bate de frente com s�mbolos que sustentam o hero�smo da �poca colonial no Brasil. Ao pichar monumentos hist�ricos que contradizem a realidade da hist�ria do pa�s, ele d� protagonismo aos pretos, ind�genas e pobres, grupos sociais silenciados e exclu�dos que sobrevivem, at� hoje, � margem da sociedade.

Monumento �s Bandeiras e Borba Gato


O ano de 2016 foi quando M.I.A come�ou a ganhar notoriedade. No final de setembro daquele ano, picha��es no Monumento �s Bandeiras e na est�tua de Borba Gato foram amplamente compartilhadas tanto em grandes ve�culos de m�dia quanto nas redes sociais.

Jo�o Fran�a e seus parceiros foram detidos e multados pelo ato, que foi considerado vandalismo. De acordo com o art. 65 da lei nº 9.605/1998, o ato de pichar uma edifica��o ou monumento � crime com pena de tr�s meses a um ano, al�m do pagamento de multa. No inciso um do artigo, a pena m�nima sobe para seis meses em caso de obras tombadas pelo valor art�stico, hist�rico ou arqueol�gico.

O inciso dois, entretanto, explica que o grafite n�o contraria a lei. “N�o constitui crime a pr�tica de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrim�nio p�blico ou privado mediante manifesta��o art�stica, desde que consentida pelo propriet�rio e, quando couber, pelo locat�rio ou arrendat�rio do bem privado e, no caso de bem p�blico, com a autoriza��o do �rg�o competente e a observ�ncia das posturas municipais e das normas editadas pelos �rg�os governamentais respons�veis pela preserva��o e conserva��o do patrim�nio hist�rico e art�stico nacional”, diz o texto.

Pateo do Collegio


Em 2018, o Pateo do Collegio foi pichado com a frase “Olhai por N�is”. O local onde foi levantada a primeira constru��o da cidade de S�o Paulo tamb�m foi onde se firmou o primeiro n�cleo de catequiza��o jesu�ta no Planalto e representa um marco do genoc�dio ind�gena. Para M.I.A., assim como nos outros casos, a interven��o n�o foi direcionada a nenhuma personalidade em espec�fico. “A cr�tica � geral, para as pessoas olharem umas �s outras. Para quem vestir a carapu�a”, afirma ele.

A inten��o do artista no dia em que realizou a interven��o, entretanto, n�o envolvia o Pateo do Collegio. A 250 metros dali, fica o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), alvo inicial de M.I.A. naquela noite, onde pichou a frase “Samo is not dead”, em refer�ncia a uma exposi��o do artista norte-americano Jean-Michel Basquiat, morto em 1988 e que, quando vivo, assinava suas obras com o pseud�nimo “Samo” e passou a escrever “Samo is dead” quando passou a grafitar.

Satisfeito e voltando para casa, passou em frente ao Pateo do Collegio, onde observou que havia um agrupamento de pessoas em situa��o de rua. “Passamos pelo local e vi umas 300 pessoas deitadas dormindo. A� veio a ideia de fazer uma a��o e na hora veio o insight do ‘Olhai por n�s'”, explica o artista.

Por conta da a��o, a pol�cia o procurou e chegou a interrog�-lo, mas Fran�a garante que n�o sofreu nada al�m de uma dor de cabe�a. “Era eu, uma amiga filmando e mais um ‘mano’. Os policiais vieram atr�s de mim, foi a maior press�o, mas me chamavam de M.I.A. com respeito, sem ofender”, conta ele.


SP-Arte


Os desdobramentos da interven��o, no entanto, ainda ecoariam para novas a��es do artista. Em 2019, M.I.A. compareceu � abertura da 15ª edi��o da SP-Arte, maior evento de arte da Am�rica Latina, onde estava exposta uma foto do picho no Pateo do Collegio. A fotografia teria sido feita, segundo ele, sem autoriza��o por um estudante branco da Belas Artes, uma institui��o privada de S�o Paulo.

“Descobri dois dias antes, quando o fot�grafo entrou em contato comigo. Fiz algumas exig�ncias: dobrar o valor para venda da foto, que estava em R$ 4 mil, me repassarem metade deste dinheiro e ter meu nome assinado”, relata. “Mas a foto j� estava l�, depois de passar pela curadoria. Estava no fim do processo”, complementa Fran�a.

Com o pedido ignorado, M.I.A. decidiu intervir mais uma vez. Com uma lata de spray em m�os, entrou no evento e escreveu “negro” em cima da foto emoldurada. Depois disso, distribuiu pelo espa�o notas falsas de dinheiro, onde lia-se que, na “Rep�blica Federativa da Elite, a Arte � sem valor”. Tudo foi registrado em v�deo e publicado posteriormente nas redes sociais.
 

Ao ser abordado por um homem que, segundo Fran�a parecia ser seguran�a do local, ele diz que pichou a palavra “‘Negro pela explora��o do povo e do trabalho do negro. Eu sou de periferia, jamais teria uma obra exposta na SP-Arte. Quem exp�s foi um fot�grafo estudante da Escola Belas Artes, branco, n�o o autor da interven��o, um homem negro”. 

Para o artista, escolher monumentos amplia o impacto de sua arte, mas garante que j� cumpriu sua meta. “J� fiz todos que eu tinha vontade e estava no prop�sito”, afirma ele ao portal Ponte Jornalismo. Ele tamb�m diz que o intuito de sua arte � ati�ar o julgamento cr�tico. “O que me motiva a fazer arte � a reflex�o, fazer com que as pessoas reflitam.”

Black Contemporary Art



Chamada de Black Contemporary Art, a exposi��o solo de M.I.A. promete apresentar obras desenvolvidas pelo artista entre os anos de 2019 e 2022 e acontecer� entre esta sexta-feira (10/6) e 9 de julho no Fenda Bar e Restaurante, localizado na regi�o de Pinheiros, na capital paulista. A exposi��o ficar� aberta entre as quintas-feiras e os s�bados, das 16h �s 22h.

Para Fran�a, ser� a representa��o de “muita viv�ncia transformada em arte, fragmentos da realidade que vivo no meu dia a dia, arte de rua na mais pura ess�ncia”.
 

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