
Jair Bolsonaro � um acidente na hist�ria brasileira. � produto de uma conjuntura espec�fica que dificilmente ir� se repetir. � um aventureiro que deu certo. E produto de um longo processo de desmoraliza��o dos valores republicanos patrocinado especialmente, mas n�o s�, pelo Partido dos Trabalhadores. Tudo ficou mais f�cil com a ida ao segundo turno do candidato opositor, patrocinado por um sentenciado. Era tudo o que ele queria. O eleitorado majoritariamente sufragou seu nome com o temor – mais que justificado – do retorno dos organizadores do maior desvio de recursos p�blicos da hist�ria, o petrol�o. Foi a elei��o do medo. O pa�s desconhecia suas ideias. Somente participou de um debate televisivo – e foi mal. Os eleitores votaram nele sem conhecer seu programa, que, a bem da verdade, o ent�o candidato nem sequer apresentou.
''As pesquisas de opini�o demonstram que o governo caminha para no final do ano atingir um �ndice de desaprova��o superior a 50%''
Fazendo quest�o, a todo momento, de demonstrar de que somente ele, Jair Bolsonaro, manda no governo – o que pode ser entendido como fraqueza e n�o for�a –, o presidente foi se isolando. Passou a priorizar o mundo paralelo que o cercou durante as tr�s d�cadas de vida parlamentar. Buscou dar sucessivas declara��es p�blicas para, segundo sua l�gica t�o particular, afirmar sua autoridade. Tamb�m insistiu em apari��es p�blicas falando para plateias domesticadas. Enquanto isso, no Congresso Nacional, sua base de apoio foi diminuindo. As principais lideran�as parlamentares est�o em compasso de espera. Sabem que o governo poder� ter vida curta, e que nada ser� aprovado sem a sua concord�ncia.
As pesquisas de opini�o demonstram que o governo caminha para no final do ano atingir um �ndice de desaprova��o superior a 50%. N�o indica que possa retirar o pa�s da estagna��o econ�mica. O presidente passou a focar temas afeitos �s quest�es de g�nero. � uma estrat�gia que pode ter efic�cia eleitoral, mas que nada agrega em termos pol�ticos e, especialmente, no campo econ�mico. Ou seja, Bolsonaro tem entendido o ato de governar como se fosse uma extens�o do processo eleitoral. Este engano pode ser fatal �s suas pretens�es.
O isolamento pol�tico poder� levar a um processo de radicaliza��o ainda maior do discurso bolsonarista. Ao ampliar o espa�o na m�dia com constantes declara��es incendi�rias, passar� a falar mais para cada vez menos adeptos. O Legislativo e o Judici�rio – al�m da Constitui��o – poder�o ser responsabilizados pelos fracassos governamentais. O objetivo de jogar a popula��o contra o Estado democr�tico de direito n�o dever� prosperar. Cabe observar que isso j� est� sendo feito – e n�o � de agora. Basta observar as sucessivas declara��es do presidente e de seu cl� atacando as institui��es – � inesquec�vel a declara��o de Eduardo Bolsonaro de que bastam um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal. H� 10 dias, Carlos Bolsonaro disse que o sistema democr�tico era um empecilho ao governo. E foi referendo pelo pai logo ao sair do hospital, em S�o Paulo, que concordou, em tese, com as observa��es do filho. Este m�todo de solapamento cont�nuo dos valores democr�ticos, se persistir, conduzir� o pa�s a uma grave crise pol�tica.
Nos �ltimos 100 dias de 2019, Jair Bolsonaro vai ter de escolher se pretende manter o caminho de embate com os valores democr�tico-constitucionais ou se ir� se amoldar aos preceitos da Carta de 1988, fazer pol�tica republicana e construir maiorias para que haja condi��es de governabilidade. O pa�s clama por estabilidade e uma dire��o governamental segura. Depois de 200 dias de Bolsonaro � frente do Pal�cio do Planalto, nada indica que isso v� ocorrer. O cen�rio � de turbul�ncia pol�tica, estagna��o econ�mica e de uma poss�vel crise social.