A f� deve estar presente todo santo dia

Seja na chuva ou com a Covid, em qualquer cidade, estamos todos preocupados com not�cias assustadoras que colocam a indigna��o dentro da sala de visitas. Gra�as a Deus, temos a b�n��o dos sacerdotes, que ainda esperam uns dias de ver�o, pois pelo menos a Igreja j� entrou no momento sagrado e comovente da quaresma, que nos enche de gra�a.

 

E logo, logo vem o outono se abrigando no afeto sereno que a lua minguante, ainda t�mida l� em cima, prefere aparecer nas horas mais tardias da madrugada. Finalmente, a cidade vai acordar, brilhar, piscar e acender com mais intensidade. Vai ser a hora de aproveitar a paci�ncia do outono, sua crepuscular paisagem. No outono, d� para pensar que a vida deve ser bem feliz. E ser�.

Na quaresma, voltamos para o Antigo Testamento, que, como os israelitas, passaram 40 anos atravessando o deserto, enfrentando a fome e a sede, um ch�o desconhecido, o calor do dia e o frio da noite. Caminhando na certeza de que a manh� trar� o man� branco como as sementes de coentro, que do rochedo brotar� �gua, e que o mar sempre abrir� para quem tiver coragem para nele colocar os p�s e acreditar que h� uma terra prometida para cada um de n�s.

 

Como No�, que durante o dil�vio passou 40 dias na arca com sua fam�lia e os animais, temos tamb�m a nossa arca, nossa casa, nosso lar, confiando que a chuva vai cessar, que vamos degelar as �guas e deix�-las fluir para recriar uma nova corrente, merecer um novo arco-�ris, fazer la�os dos retalhos.

Como Mois�s, que passou 40 dias no Monte Sinai para receber as leis das m�os do Senhor, vivamos esses 40 dias confiantes de que jejuando e orando e acreditando e esperando Ele vir� para nos dizer que podemos manter as velhas lembran�as desde que tenhamos novas esperan�as.

Como o profeta Elias, que levou 40 dias para chegar ao monte Horeb, ele se encontrou com Deus, para ter os p�s fortes para a caminhada, saboreando a brisa que desce da montanha, com for�a, resist�ncia e fibra para retomar, reformar, moldar, amadurecer e ter f� todo santo dia.

 

Como a quaresmeira, que s� floresce na quaresma encantando pela sua not�vel beleza, contemplemos essas alamedas de flores roxas que enfeitam ruas e avenidas como o convite a um modo de viver no mundo e com o mundo com mais delicadeza e generosidade.

Temos 40 dias para seguir os israelitas, No�, Mois�s ou Elias, e passar pela solid�o no deserto, o dil�vio ou a dist�ncia do Monte Horeb. Sejamos quaresmeiras, de raiz forte, sementes maduras e galhos que atraem beija-flores.

 

� sacerdotes do mundo inteiro, servindo em igrejas ou capelas cheias de calma e em bas�licas de muitos altares, sacerdotes das grandes cidades e das periferias das metr�poles; � sacerdotes das par�quias nos vales, reservando suas casulas de seda ou damasco roxas para as celebra��es lit�rgicas e com elas dirigindo o povo, o nosso povo, nesse tempo de penit�ncia e convers�o.

 

� m�sicos e cantores que cantam louvores na missa, vestem nossos instrumentos e nossas vozes, de roxo vestidas, sejam mais fervorosas para saudar o Senhor. Voc�s que chegam cansados do trabalho e cansados de procurar emprego; que andam oprimidos e felizes da vida; � voc�s que choram a perda do ente querido e que enfrentam doen�as dif�ceis; que est�o descal�os e parados nas margens; voc�s que jejuam, rezam de joelhos, que fazem sacrif�cios; voc�s que desistiram do sorriso, e s�o generosos e jovens cheios de alegria.

 

� voc�s, de todas as idades, homens e mulheres, vistam-se de roxo para subir at� Jerusal�m acompanhando este galileu que passa carregando uma cruz e distribuindo seu amor que n�o passa. � voc�s, todos voc�s, vistam roxo, o roxo da quaresmeira, que vai se encher de flores para saudar a P�scoa, o verdadeiro sentido da quaresma. � voc�s, vistam suas vestes e seus cora��es.