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Estado de Minas COLUNA

O lado amargo da vida

Fizeram tudo de novo e constru�ram uma nova hist�ria, outro lindo �lbum de lembran�as. Hoje, ele roda o Brasil dando palestras sobre como superar o imposs�vel


16/01/2022 04:00 - atualizado 13/01/2022 10:35

desabamentos e esperança para recomeçar
Este pa�s n�o toma mesmo jeito e n�o aprende a respeitar uns e outros, n�s e v�s, tu e eles. � a lama, � a lama, � a lama...


Todo ano � a mesma coisa. As chuvas chegam. E, com elas, inunda��es, deslizamentos, mortes nas estradas, fam�lias desabrigadas. � a �poca do desamparo e da tristeza. A tev� mostrando sofrimento, casas destru�das, corpos soterrados, rompimento de barragens.

N�o adianta mudar de canal. A dor j� se instalou, dona absoluta do resto da noite. Mas, se todo ano acontece por que sempre acontece de novo?

Perguntamos e ningu�m responde: se n�o � permitida a constru��o de casas em encostas de morro e �reas de risco, por que se permite? Este pa�s n�o toma mesmo jeito e n�o aprende a respeitar uns e outros, n�s e v�s, tu e eles. � a lama, � a lama, � a lama...

Agora, depois de tanto tempo, a chuva brinca na vidra�a sem o menor pudor em se transformar em inc�modas goteiras dentro de casas simples, modestos barracos no morro que pagam caro para verem a lua pela fresta do telhado em noites estreladas. Milhares de pessoas desabrigadas na Regi�o Metropolitana de BH, asfalto cedendo na rodovia Fern�o Dias.

Brasileiros que habitam este mesmo Brasil vivendo momentos t�o dif�ceis que � imposs�vel imaginar que sejamos irm�os neste pa�s tropical. A todo momento rep�rteres encharcados informando mortes, desaparecidos, desespero, os alagamentos nas cidades, crateras interrompendo rodovias. A chuva que cai na tela da tev� tem sido chuva de dor e sofrimento.

Tento pensar na chuva companheira, a embalar as madrugadas de sono, na chuva que faz nascer o pasto verde nas fazendas, pensar nos agricultores h� tempos esperando pelas chuvas nas lavouras, os p�s de manga agradecendo a �gua. Agora na tela est� uma brasileira, personagem t�o perto da nossa intimidade. Ela entrando sem mais nem menos na nossa casa, mostrada pela rep�rter a cozinhar para a fam�lia com �gua at� os joelhos. Tem os dias de temporal, �rvores ca�das nas cal�adas, carros arrastados pela enxurrada.

Grupos organizados, fi�is bondosos reunidos em igrejas que arrecadam donativos, roupas de cama, m�veis e panelas para entregarem a quem teve a casa inundada pelas enchentes ocorridas em cidades mineiras, j� se antecipando novas trag�dias. T�cnicos avisam que vir�o aguaceiros e trovoadas – para todos, sem escolher onde pode doer mais.

H� que se ter um jeito de dar jeito nessa situa��o. A solidariedade tamb�m jorra em abund�ncia. � cada um dando a m�o que faremos um cord�o para ajudar o outro irm�o. O ano novo come�a pedindo a prote��o do Senhor, que s� Ele nos ajuda a ter devo��o e f� levando uma gente boa e simples a buscar o amparo dos santos.

Anos atr�s, na madrugada de um domingo, um forte estrondo no pr�dio fez os moradores descerem escada abaixo antes que os dois blocos de apartamentos se esfarelassem no ch�o em quest�o de minutos. Foram-se peda�os da hist�ria, a varanda de frente para a pra�a, o jarro de porcelana, as escrituras, o carrinho do beb�, a caixa de veludo com os documentos, os momentos da lua de mel no pendrive, as ta�as de cristal.

Como um castelo de areia, desabaram bens, roupas, m�veis, a foto da primeira comunh�o, coisas sem import�ncia e coisas amadas, repletas de afeto. Os moradores foram alojados em hot�is, dividindo as dores uns com os outros, v�timas de uma trag�dia que os deixou sem casa e sem lembran�as.

E nosso amigo n�o passava uma semana sem ir ao local, horas ali encurvado entre os escombros, escavando tesouros mo�dos no meio das ferragens e do cimento. Um dia percebeu: o apartamento desabara, n�o ele, nem sua mulher. Eles tinham recebido a gra�a de continuar vivendo. O olhar deveria ser n�o para baixo, mas para o Alto. E ficou de p�.

Nunca mais recuperou o apartamento e percebeu que a construtora nada devolveria. Eles foram deixando o susto, o sofrimento, a correria nas escadas, custando a se esquecer do lado amargo da vida. Fizeram tudo de novo e constru�ram uma nova hist�ria, outro lindo �lbum de lembran�as.

Hoje, ele roda o Brasil dando palestras sobre como superar o imposs�vel. Tenta mostrar como transformar terreno de dor em canteiro de flor. Plateias as mais diferentes aplaudem este mineiro que aprendeu a deixar o passado no passado. Ao inv�s de contar l�grimas, conta b�n��os.

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