Peguei um voo no aeroporto da Pampulha em dire��o � Zona da Mata mineira com o objetivo de conhecer uma usina hidrel�trica de pequeno porte. Fomos eu, meu marido, que teve papel de consultor, e um dos s�cios da empresa majorit�ria do empreendimento. Al�m da casa de for�a, cujo projeto arquitet�nico nos remete aos antigos casar�es coloniais, me surpreendeu a queda d'�gua e o paisagismo com potencial de transformar o local em ponto tur�stico.
Tenho horas de voo em avi�es comerciais, tendo sido essa minha estreia em jatinhos executivos. Al�m dos dois pilotos, cabem cinco passageiros. O que levar�amos em m�dia 5 horas para percorrer por terra, foi feito em 30 minutos tranquilos. Nada mal! Nessa hora, fico me lembrando das in�meras conex�es e nos quase tr�s longos dias que demoro para chegar aos meus destinos na �frica ou aqui mais perto, em Roraima.
Mas o que mais me chamou a aten��o n�o foi todo o luxo do qual desfrutei. H� algo muito maior para guardar na mem�ria e para contar. Nosso anfitri�o tem 40 anos de idade e toda a jovialidade que essa fase da vida proporciona. Durante o voo, o assunto principal foi naturalmente as usinas hidrel�tricas. Observei a aten��o e o respeito que o empres�rio dava a cada palavra e conselho do mais velho e experiente, sem deixar de opinar tamb�m.
Ao descermos da aeronave, entramos rapidamente no carro estacionado a poucos metros. J� em movimento, passaram por n�s na pista do aeroporto duas mulheres e quatro crian�as. Foram correndo em dire��o ao avi�o, como se ali tivesse pousado um objeto extraordin�rio que merecesse toda aquela euforia e empolga��o.
Imediatamente, nosso anfitri�o nos pediu licen�a para interromper a conversa, ligou para um dos pilotos e deu a seguinte instru��o: "Se as crian�as quiserem entrar, permita". Desligou e nos disse: "Quando crian�a, eu era louco pra olhar um avi�o por dentro". Voltou a conversar como se aquela atitude fosse algo sem import�ncia, corriqueira.
Costumo perder horas analisando comportamentos e o que mais gosto s�o as atitudes espont�neas. Se eu j� gostava dele apesar de pouco conhec�-lo, passei a gostar ainda mais. Naquele ato despretensioso, ele mostrou quem � como pessoa. � muito comum vermos pessoas boas n�o fazerem o bem porque n�o conseguem enxergar al�m do expl�cito.
Costumamos ouvir essas pessoas se desculpando com argumentos do tipo "nem pensei nisso", "n�o sabia", “por que voc� n�o perguntou ou falou". Precisamos, por exemplo, que uma lei nos diga que devemos dar prioridade aos idosos, �s pessoas com dificuldades, quando dever�amos faz�-lo por um princ�pio �tico?
O exemplo que ele nos deu foi de como � poss�vel, em meio � correria do dia a dia, enxergar o outro at� mesmo em suas necessidades, a princ�pio, tolas. Isso tem o potencial de transformar o mundo. Atos de bondade genu�nos s�o percebidos quando menos esperamos, quando desligamos nossa falsa pretens�o de parecer s�-lo.