
No in�cio da semana, experimentei o primeiro e �nico epis�dio de amn�sia da minha vida, pelo que me lembre. Nunca precisei tomar rem�dio para dormir, isso porque dizem que primeiro durmo depois deito. Esse � um ato f�cil pra mim a qualquer hora do dia ou da noite. Deito e penso “pode dormir “ e simplesmente o fa�o.
Fui fazer uma cirurgia em dois dentes, um de um lado e outro do outro. Cirurgia complexa que exigiu muito mais que uma simples anestesia local, a velha e essencial companheira no que se refere a tratamentos dent�rios. Pelo ao menos no meu caso. Morro de dor s� de olhar pro dentista.
“Vou te dar um comprimido pra dormir, pois preciso de voc� o mais relaxada poss�vel”. Ok, disse pra ela, apesar de adiantar que, se n�o h� dor, sou capaz de dormir inclusive na cadeira de dentista.
Tomei o tal rem�dio e ficamos esperando fazer efeito. Batemos papo, contamos sobre nossas viagens recentes. Fui caminhando pra cadeira, fui ao banheiro, conversei mas um pouco. Sentei ou melhor me deitei, pois � assim que me sinto naquela poltrona capaz de nos colocar de cabe�a pra baixo. Desmaiei.
Quando terminou, ela foi puxando conversa e me lembro de ouvi-la ligando para meu marido avisando-o que j� podia ir me buscar. Sei que sa� de l� andando, pois no outro dia ela me contou que eu recusei a oferta da cadeira de rodas. “Estou super bem“ e de fato parece que estava mesmo.
N�o me lembro de nada a partir do momento em que me levantei da cadeira reclin�vel. Cheguei em casa e reconheci minha cama, meu maior son�fero. Dormi feito uma pedra, o que n�o tem nada de anormal.
Ao acordar no outro dia listei com meu marido tudo o que precis�vamos fazer. Para cada item, ele respondia: “j� conversamos sobre isso ontem”, ele respondia. “Que perigo”, retruquei, “agora voc� pode aproveitar e dizer que eu disse o que eu n�o disse”. Sorte a minha que ele est� longe de ser desse tipo.
Enfim, fiquei lembrando da luta de minha m�e em insistir para que eu escovasse meus dentes quando crian�a. Ela ficava o tempo todo batendo nessa tecla junto a mim e aos irm�os. Como eu ia ao banheiro e molhava minha escova, ela acreditava que eu a obedecia. Agora pago o pre�o, e alto em todos os aspectos, de ter negligenciado algo t�o importante. Disso nunca vou me esquecer.