(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas COLUNA

Sonho e p�nico na Fran�a

Franceses manifestam nas ruas p�nico de ter que aumentar a idade m�nima da aposentadoria, como quer a reforma da Previd�ncia do presidente Emmanuel Macron


21/05/2023 04:00 - atualizado 21/05/2023 07:40
771

 Emmanuel Macron
Os franceses s�o contra a proposta do governo do presidente Emmanuel Macron de aumentar a idade m�nima para requerer a aposentadoria (foto: Ludovic Marin/AFP )

Em condi��es normais de vida, muitos jovens s�o infelizes por motivos dram�ticos ou est�ticos. Influenciados por personagens de teatro, cinema, romance, �dolos de rock, os jovens de todo o mundo sofrem do absurdismo dos sonhos. P�lidos, olhar perdido, roupas rotas, s�o in�meras as gera��es que um dia sentiram na pele o sem sentido d’O Estrangeiro, de Albert Camus. Com a maturidade e uma aposentadoria precoce, fica-se melhor e mais tempo jovem, � o que pensam os franceses.

Com sentimento parecido de eterna insatisfa��o, mais uma vez, em poucos anos, sofisticada, abastada e com tend�ncia para o grandioso, a t�pica Fran�a v� seu povo atacado pela nostalgia de n�o se resignar � longevidade, que tamb�m acompanha a energia para o trabalho. E nas ruas, com viol�ncia, repete os pesadelos que a visitam. Pesadelos onde a luta pela felicidade � impulsionada pelo p�nico de ter que aumentar a idade m�nima da aposentadoria, como quer a reforma da previd�ncia do presidente Emmanuel Macron.

Diferente da mentalidade padr�o dos pa�ses anglo-sax�es, que festeja o aumento da expectativa de vida esticando o tempo de trabalho, os protestos de Paris s�o para a lei de aposentar aos 62 anos continuar. “Dar a vida para o patr�o, n�o”, � a faixa que os jornais franceses e europeus estampam, explicando a greve geral contra os dois anos a mais de labuta propostos pelo governo.

Com uma das mais altas taxas de inatividade do mundo, pela tradi��o de aposentadoria precoce, a Fran�a � recordista tamb�m na expectativa de vida que hoje � 85 anos. O que projeta, no m�nimo, uma aposentadoria de 23 anos, para “poder fazer o que quiser e viver uma vida gloriosa pela �nica vez na vida”, dizem os mais exaltados. Trocando em mi�dos sobre o racioc�nio otimista acima, de manifestante parisiense entrevistado pelo Financial Times, de Londres, � poss�vel deduzir o seguinte. Os pais j� morreram ou est�o em um asilo, a viuvez chegou, os filhos mudaram, n�o h� mais hipoteca para pagar, a �ndia merece ser conhecida, e os netos que visitam, se chateiam, s�o avisados que ser�o devolvidos � casa paterna.

O trabalho foi feito para complementar, e n�o para destruir. Apesar das cr�ticas �s reformas da previd�ncia, mais de 55 pa�ses do mundo j� subiram a idade m�nima legal, inclusive o Brasil. A press�o demogr�fica, as melhorias na sa�de da popula��o e a realidade econ�mica pressionam os governos a ajustarem seus sistemas de seguridade. A partir dos anos 1990 as reformas previdenci�rias se aceleraram e os parlamentos nacionais foram obrigados a aumentar a taxa de contribui��o, quando n�o conseguiram aumentar a idade.

Outra forma de ajuste tem sido incorporar algum regime de capitaliza��o privada individual de maneira obrigat�ria aos sistemas p�blicos. No entanto, o instinto mais persistente nas sociedades � o direito ao seguro obrigat�rio do Estado. A novidade � a participa��o mais ativa dos jovens nas manifesta��es. Reflexo do aumento cada vez maior do tempo de perman�ncia na casa ou na depend�ncia dos pais e av�s.

Nasce cada vez menos gente e a propor��o de idosos aumenta. Com menos jovens para trabalhar e mais aposentados para financiar, a previd�ncia no mundo tende a quebrar. S� com aumento de impostos n�o � poss�vel encontrar um equil�brio. Enfrentar as desigualdades do trabalho exige um novo ser humano mais solid�rio. O que vemos � o estado de esp�rito das pessoas mais sombrio diante das responsabilidades do mundo moderno e as dificuldades pol�ticas de enfrent�-las.

A atualiza��o permanente da idade legal para se aposentar, a porcentagem do sal�rio que o trabalhador passa a receber quando se aposenta, a distin��o et�ria entre homens e mulheres, n�o separam mais pa�ses ricos, pobres ou emergentes, democr�ticos ou autorit�rios, e atinge todos os continentes. Indo de 50 a 68 anos � menor na China, R�ssia e Fran�a, e maior no Reino Unido, EUA e Gr�cia.

Incentivar pessoas idosas a trabalhar ou retrabalhar mais um pouco na vida deve tamb�m levar em considera��o o grau de prazer e a qualidade do emprego que cada um tem. Uma sociedade mais equilibrada, com boas leis sociais e trabalhistas, sa�de em dia, possibilidade de fazer poupan�a, diminuiria a press�o por uma pens�o absoluta e salvadora. O justo n�o como um consolo, mas como um conceito constru�do por todos, Estado, sociedade e economia.

Sempre h� solu��o para conciliar trabalho e boa previd�ncia. Para que o outrora feliz n�o seja uma mem�ria penosa e o prazer de poder descansar no presente da velhice n�o seja um confronto com o desgosto de ter trabalhado mal no passado da vida adulta. 

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)