(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas M�DIA E PODER

O que ainda explica o grande apoio a Bolsonaro nas pesquisas?

A resposta pode estar em perguntar o mesmo sobre Lula, os apoios e �dios que ambos mobilizam, as afinidades e os inimigos comuns que comungam


13/05/2021 06:45 - atualizado 13/05/2021 07:56

(foto: AFP)
(foto: AFP)


Um dos mais antigos e respeitados professores de �tica e Filosofia Pol�tica da USP e ministro da Educa��o de Dilma por alguns meses, Renato Janine Ribeiro � um homem de esquerda cl�ssico com afinidades antigas com o PT e o lulopetismo.

Pois at� ele se assusta, em seu �ltimo artigo no Di�rio do Centro do Mundo, a seu jeito muito respeitoso, com o que chama de mist�rio do apoio resistente de mais de 30% a Jair Bolsonaro nas pesquisas. Apesar de todos os motivos para se desconfiar que ele deveria estar na lona.


Bate Lula no primeiro e no segundo turnos, em arredondados 34 a 30% e 43% a 40%, respectivamente, e larga dist�ncia de todos os outros. Ciro Gomes, o mais pr�ximo dos dois, tem ris�veis 6% na simula��o de primeiro turno e vai menos pior na simula��o de segundo turno: 35% a 43% contra Bolsonaro e 28% a 38% contra Lula.

O professor mais especula que assevera diante do que para ele s� confunde: por que tanto apoio ainda diante do balan�o desastroso de mortes da pandemia, da vacina��o capenga e da economia inepta?

— Como � que um governo que governa t�o mal est� firme assim? E como � que ele pode at� mesmo ser reeleito?

� todo d�vida sobre as causas e s� arrisca uma: a falta de uma oposi��o vigorosa, que perdeu tempo por apostar s� em Lula, fracassou com Haddad na elei��o passada e n�o p�de se fortalecer nas ruas, durante a pandemia. Sobra um pouco de culpa para a imprensa e "seu hist�rico de hostilidade contra o PT".

Talvez ele fosse mais bem sucedido no seu esfor�o de entender a for�a de Bolsonaro se ele se permitisse fazer a mesma pergunta a respeito de Lula: o que explica que o ex-presidente ainda tenha tamb�m um ter�o do eleitorado depois de ter ido � lona por outro tipo de desastre?

Se ele juntasse essas duas n�mesis dos nossos �ltimos desastres em 20 anos de descaminhos, certamente elucubraria melhor sobre a estranha disposi��o da sociedade para com os dois.

A pergunta correta talvez fosse: por que Bolsonaro e Lula ainda t�m o apoio de quase um ter�o do eleitorado cada um, apesar de seus desastres respectivos na vida nacional, a ponto de devastarem ambos a paisagem pol�tica de alternativas?

A resposta mais �bvia � que um explica o outro. O apoio ao primeiro traduz a rejei��o ao segundo, e vice-versa. 

O ter�o da popula��o talvez queira um para evitar o outro. Vice-versa. Aquele neg�cio: o eleitor vota no capeta para evitar o dem�nio e pode votar no dem�nio para evitar o capeta.

Muito parecidos na forma de atua��o populista, nos apoios e �dios que mobilizam no confronto com as institui��es, eles exercem forte afinidade ou antipatia. S�o como im�s catalisadores de tudo o que a sociedade ama ou odeia. 

Mais odeia, j� que mobilizar o �dio tem funcionado muito melhor em pol�tica que as boas inten��es.

Bons exemplos s�o os advers�rios que, por raz�es parecidas, atraem: o Congresso, o Judici�rio e a Imprensa. S�o tr�s inst�ncias odiadas que eles escolheram como inimigos e cujas tentativas de combate ou controle sacodem as arquibancadas.

� bem poss�vel que, na cabe�a do cidad�o m�dio, se o Congresso, o Judici�rio e a Imprensa est�o contra eles, alguma virtude eles devem ter. Ao contr�rio, se o ap�iam, algum conluio deve estar a caminho.

No caso do Judici�rio e do Congresso, eles v�m arranjos e maracutaias, nesta ordem. No da imprensa, manipula��o e dist�ncia da pauta que lhe interessa e em que acredita.

(Veja-se a ampla cobertura do Jornal Nacional sobre a opera��o policial no Jacarezinho que deixou 28 mortos. Para o cidad�o m�dio que est� menos para rede social do que para o sof� da sala depois de uma dura jornada de trabalho, as imagens de traficantes empunhando fuzis em fuga n�o batem no seu conceito de chacina de inocentes, que o jornal�stico, como todos os outros, emulam.)

Na sua tentativa de interpreta��o de um lado s�, o professor repete o que vem sendo muito comum de restringir o apoio de Bolsonaro � extrema direita, que, segundo diz, "conseguiu uma reverbera��o que nem no regime militar teve".

A seu jeito elegante, n�o a chama de reacion�ria e nem fascista, como � praxe na oposi��o mais radical a Bolsonaro. Mas a�, como bem lembra Ciro Gomes nesse trecho da entrevista em que arredonda sua estrat�gia contra o petismo, � preciso lembrar que a popula��o que votou nos dois � quase a mesma. 

Lula, Dilma e Bolsonaro tiveram votos da maioria da popula��o, com marca arrasadora de 70% dos votos ou mais dos principais estados, Rio, S�o Paulo, Minas, Rio Grande do Sul.

— Ora —pergunta o pedetista—, querem dizer que a grande maioria do povo de S�o Paulo que consagrou Lula no passado e Bolsonaro no presente � toda fascista?


Como levaram para as urnas o espectro da sociedade de direita � esquerda, mais certo � dizer que ambos tinham e continuam tendo amplo apoio na maior parte do eleitorado, de dif�cil configura��o e explica��o, sem cometer erros graves.

Atribuir a Bolsonaro mais apoio no capital, como � comum nesse tipo de argumento e o professor Janine sugere, � negar o quanto de apoio Lula arrastou no meio. E se campanha hostil de imprensa fosse determinante para derrubar um candidato, Lula n�o teria sido eleito em 2002 e 2006 e nem Bolsonaro em 2018.

Melhor encapsular tudo, como tento, na avers�o da maioria ao inimigo comum de ambos, as institui��es deterioradas e militantes das quais seus respectivos mitos — Lula e Bolsonaro — lhes saem mais v�timas que c�mplices. 

Uma sociedade altamente conservadora que votou, vota ou votar� nos dois pela capacidade de garantirem sobreviv�ncia e bem estar. 

E, claro, compet�ncia para dobrar os inimigos que ela adora odiar: Congresso, Judici�rio e Imprensa.

PS - Depois de enviada a coluna, na noite dessa quarta-feira (12/5), o DataFolha divulgou sua nova pesquisa com resultados bem diversos: Lula  bate Bolsonaro em 41 a 23 no primeiro turno e 55 a 32, no segundo. Em sendo certos os n�meros, n�o invalidam de qualquer forma o argumento de que ambos ainda t�m apoios surpreendentes, apesar de suas hist�rias

Mais textos meus em:

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)