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Estado de Minas MAIS UMA MORTE A LAMENTAR

Paulo Gustavo amplifica impress�o da nossa trag�dia e dos erros do governo

Unanimidade nacional, ator e humorista morre no dia em que Mandetta denuncia cadeia de erros de Bolsonaro na pandemia e amplifica nossa sensa��o de trag�dia


06/05/2021 06:00 - atualizado 05/05/2021 15:02

A morte de Paulo Gustavo,
A morte de Paulo Gustavo, "que tanta esperan�a coletiva tentava adiar, parece ter afetado aquele tipo de unanimidade sentimental, nacional, de que a intelig�ncia e a alegria eram poss�veis num pa�s t�o machucado" (foto: Reprodu��o/Facebook Oficial Paulo Gustavo)


� aquele neg�cio. Basta uma crian�a afogada numa praia da Turquia, numa das fotografias ic�nicas do jornalismo, para a humanidade perceber o tamanho da dimens�o da crise migrat�ria na Europa, que mata outras milhares an�nimas todos os anos, na travessia suicida em busca de sobreviv�ncia. 

Ou o pequeno v�deo do menino Henry, de cuequinha branca, mancando pelo corredor depois de ter sido espancado pelo padrasto no quarto, para a gente entender o tamanho da trag�dia de crian�as ref�ns de lares disfuncionais, por psicopatia ou mis�ria, numa infinidade de lares.


O ator e humorista, adotado como um parente pr�ximo pela maioria das fam�lias, num tipo de paix�o que remete a �dolos como Garrincha, Cazuza ou Ayrton Senna, foi o maior dos socos no est�mago dos que tantos que v�nhamos tomando todos os dias, desde mar�o passado.

V�nhamos contando as mortes de nossos parentes e amigos, cada vez mais pr�ximas e cada vez menos compreens�veis, baratinados para entender por que o amigo ou parente de p� na quinta-feira estava morto no domingo. 

Ou que idade ou diabo de doen�a pr�-existente, a chamada comorbidade, tinham os �dolos que frequentavam nossa sala, como Agnaldo Tim�teoEduardo Galv�o ou Nicette Bruno

Mas a morte dele, que tanta esperan�a coletiva tentava adiar, parece ter afetado aquele tipo de unanimidade sentimental, nacional, de que a intelig�ncia e a alegria eram poss�veis num pa�s t�o machucado.

Que elas poderiam fazer, como ele fez sem parecer que estivesse querendo, uma revolu��o de costumes e de mentes sem proselitismo pol�tico.

Que elas poderiam ser t�o agregadoras num pa�s que parece ter perdido o senso de humanidade.

Quis o destino que tivesse morrido na mesma ter�a-feira ingrata em que o ex-ministro de Sa�de demitido ap�s uma cadeia de erros, Luiz Mandetta, desenhou para os senadores da CPI da Covid o pontap� inicial de outra cadeia de desatinos que ampliaram a nossa trag�dia.

O presidente da Rep�blica apostou na tese da imunidade de rebanho, segundo a qual uma epidemia s� acaba quando faz 70% de infectados e nada h� por fazer antes disso, sen�o enterrar os mortos e consolar os vivos. Que ele tamb�m n�o fez.


Ter abra�ado a tese explica quase tudo, como o principal: a barrigada comprovada na compra de vacinas. At� o fim do ano e antes que Jo�o D�ria anunciasse que come�aria a vacinar S�o Paulo de qualquer jeito, ele s� tinha aceitado conversar sobre a proposta da Fiocruz.

Que projetava uma vacina pr�pria para tornar o pa�s auto suficiente e exportador, sabe-se l� quando. Num cen�rio em que s� a imunidade de rebanho salvaria, n�o haveria por que apressar campanhas de imuniza��o em massa, certamente vistas como caras e tamb�m remotas. E nem necessariamente usar m�scaras e des-aglomerar.

A hist�ria ainda vai dar conta da responsabilidade dos burocratas da Ci�ncia governamental, de Manguinhos ao Pal�cio, puxados pelo grande te�rico da tese, Osmar Terra. Foram os que deram base pseudocient�fica � sanha do presidente da Rep�blica de apostar no infinito e jogar todas as suas fichas contra o que Mandetta e o mundo diziam.

� dessa �poca que ficaram os registros ret�ricos de que as vacinas em produ��o eram conspira��o chinesa, produziam jacar�s ou quebrariam o pa�s em tribunais internacionais. 

A boa an�lise pol�tica n�o autoriza a simplifica��o de se responsabilizar o presidente da Rep�blica pela trag�dia pessoal de Paulo Gustavo, em meio � de mortes de humanos em massa, como moscas, aqui e no mundo. J� havia vacina quando ele come�ou a sentir os sintomas, no in�cio de mar�o, com o azar de estar longe dos grupos priorit�rios do plano nacional de vacina��o.

Mas, como todo s�mbolo que transcende sua hist�ria individual, ele transpira como nenhum outro a sensa��o de que estar�amos em situa��o menos tr�gica n�o fossem tantos equ�vocos. Capitaneados pelo presidente em cima de seus enormes erros de avalia��o e sob a trupe de equivocados que preferiu escolher para ouvir.

A essa altura, quer ele queira ou n�o, queiram ou n�o a an�lise pol�tica ou a hist�ria, a morte de Paulo Gustavo ainda vai pairar um tempo como a foto do menino achado morto na praia da Turquia ou do menino Henry manquitolando no corredor.

No cora��o das pessoas que perderam seus amigos, seus parentes e seus �dolos, Paulo Gustavo sobretudo, a impress�o de sua responsabilidade nessa fatura aumentou exponencialmente.

Sim. Simbolicamente, Bolsonaro tem um pouco mais de culpa.
 

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