
S�o estarrecedores os dois casos descobertos num mesmo dia, de que o
renomado pediatra Anthony Wong
e a m�e de Luciano Hang foram tratados com o coquetel de tudo quanto � fetiche curandeirista do bolsonarismo e sepultados com prontu�rio fraudado para omitir a infe��o por Covid.
A primeira havia sido a leni�ncia comprovada na compra de vacinas da Pfizer, que prorrogou o in�cio de salvamento de vidas brasileiras em nome de teorias negacionistas e de demoniza��o da vacina de um advers�rio pol�tico, a Coronavac.
nem no parlat�rio da ONU
, o curandeirismo que levou milhares de seguidores fi�is � morte.
Esse coquetel in�til e muitas vezes fatal, de cujas mortes havia muitos relatos e nenhuma prova, � uma marca registrada indissoci�vel de Jair Bolsonaro. Ele nunca negou,
Mas � gritante o n�mero de casos de que se tem not�cia de morte pela teimosia de n�o se tomar a vacina e de se tratar apenas com a receita m�stica (pelo menos dois casos e assustadores s� no meu entorno), cuja fonte principal foram as recomenda��es do presidente da Rep�blica.
Obedecidas com um fervor que desafia qualquer explica��o racional. Devem perdurar por muito tempo as tentativas de entender o estranho poder de Bolsonaro de convencer tanta gente a conspirar contra seus pr�prios e mais b�sicos instintos de sobreviv�ncia.
Ainda que n�o prove, a CPI fez estrago retumbante, que � para o que em geral serve esse tipo de comiss�o.
Criada para apurar precipuamente a leni�ncia do governo na compra de vacinas, ela atirou entre uma bala e outra para todo lado.
Perdeu muito tempo com o que n�o lhe cabia — como o combate a fake news — e, no desespero de encontrar algo mais pun�vel que ligasse a trag�dia � cadeia de comando do planalto, embrenhou pelo caso da Covaxin.
Que acabou, depois de longas semanas de obsess�o, t�o s�rio quanto in�til para pegar o presidente da Rep�blica, na medida em que mirava um contrato que n�o houve. Soava como uma maracutaia, mas que foi abortada a tempo, num telefonema de Bolsonaro a Pazuello.
Estamos todos de acordo que, como todas as outras, a CPI da Pandemia � um espet�culo de molde circense em que criar fatos pol�ticos para promover egos ou desmoralizar advers�rios supera de longe o interesse pela busca da verdade.
De que os interrogat�rios dirigidos do relator Renan Calheiros, as interven��es moralistas do presidente Omar Aziz e as interven��es gritadas do vice Randolfe Rodrigues, s�o os melhores exemplos.
Os tr�s pr�ceres da comiss�o est�o no centro de uma ribalta comum por onde desfilam os mais iluminados egos interessados em espremer os depoentes, mais para efeitos midi�ticos do que de apura��o.
N�o me esque�o da cena em que um senador se esfor�ava por defender seu ponto de vista contra a quebra de sigilo injusta da Brasil Paralelo, um canal de document�rios fundamentados que s� tratou de vacina em um v�deo muito esclarecedor.
Ao fundo, se ouvia os gritos de Randolfe, cuja melhor defini��o � de histeria:
— Ele � inimigo do v�rus! � inimigo do v�rus!
� o tipo de fundamento padr�o que embasa muitas das decis�es dos senadores, como nessa em que pediram de cambulhada a quebra de sigilo de tudo quanto � site ou canal bolsonarista que julgavam estar ganhando dinheiro com fake news, inclusive, absurdamente, a r�dio Jovem Pan.
Com a prova do coquetel assassino agora, por�m, ela se redime um tanto das tantas cabe�adas que veio dando nos quase 150 dias para pegar o presidente no porrete e animar algumas biografias internas.
E confirma a sina. Como toda comiss�o parlamentar que se pretende de inqu�rito, � aquele tipo de instrumento da oposi��o, como a obstru��o. Um mal necess�rio que irrita, que n�o sabe muito bem onde vai chegar, mas, onde quer que chegue, oferece algum resultado.
Quer dizer: Bolsonaro n�o morre e nem deve responder por nenhuma de suas balas. Mas foi alvejado como nunca no que lhe resta de respeitabilidade para administrar um pa�s. � para isso, atirando no que viu e acertando no que n�o viu, que as CPIs servem.
> Mais textos meus no
Facebook
> E aqui,
artigos anteriores da minha coluna