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Estado de Minas POL�TICA

Milit�ncia de direita desbanca esquerda e � maior advers�rio de Lula

Direita deixa um passado de omiss�o, cresce como milit�ncia no anacronismo da esquerda e se consolida como for�a que Lula n�o domina


19/10/2021 06:00 - atualizado 03/11/2021 09:43

Ciro e Lula
Ciro Gomes e Lula (foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula - 2020)

Lula teve uma semana dif�cil, diante da nova saraivada de ataques de Ciro Gomes. N�o porque o pedetista tivesse agregado novidade na guerra que abriu contra ele h� mais de um ano nas redes sociais, em bordoadas piores, como as deste v�deo:
 
 

Mas porque contou pela primeira vez com o holofote consider�vel de um grande ve�culo de imprensa, O Estado de S. Paulo, em longa entrevista em que cutucou os fantasmas que mais assombram o petista.

A saber: a corrup��o sist�mica de seu governo, o fiasco econ�mico da sucessora que impingiu ao pa�s e, pior dos constrangimentos, a den�ncia j� aventada por seu marqueteiro Jo�o Santana, hoje de Ciro, de que conspirou para desestabiliz�-la at� o impeachment.



Dilma Rousseff amplificou o petardo para outros ve�culos da grande m�dia ao reagir, e Lula deu uma resposta  sobre a hip�tese de debilidade mental do candidato do PDT, que s� sinalizou seu desconforto.

Deixou a impress�o de que o cerco se fecha, que o sonho de uma campanha f�cil polarizada contra Bolsonaro come�a a ruir e que vai enfrentar uma desconstru��o que pode assombrar mais que perder a elei��o.

N�o por Ciro, que o coment�rio pol�tico vem erroneamente atribuindo uma disputa pelos votos da esquerda. Claro que ele  briga pela vaga de Bolsonaro na centro direita, no m�nimo por n�o ser burro de achar que poderia ter votos do lulopetismo batendo em Lula desse jeito.

N�o tanto tamb�m pela campanha cerrada de corrup��o, principal carta na manga de seus advers�rios. Nem por sua responsabilidade pelo desastre econ�mico que n�o adianta jogar no colo de Dilma. Menos ainda pela ideia dif�cil de provar de sua trai��o a ela.

Seu principal advers�rio, a par da milit�ncia desastrosa que tem, � a de direita que nunca teve. 

A que o carregou alegremente no colo, desde a euforia do Lula-l� em sua primeira disputa pela presid�ncia da Rep�blica, em 1989, ficou velha, redundante, ultrapassada no discurso, nos m�todos e nas tecnologias de comunica��o.

Ainda defende uma luta de classes do s�culo XIX, uma economia estatizante dos anos 50 do XX e uma guerra cultural de costumes dos 60. 

N�o sabe como se defender das den�ncias de corrup��o e, depois de perder o monop�lio das ruas, patrocina invas�es coloniais do MST contra a modernidade do agroneg�cio e a favor do desconforto da maioria.

Sua caduquice ficou mais patente no uso da internet, que inaugurou nas guerrilhas virtuais do in�cio do governo Lula. Fazia bom uso dos instrumentos da �poca, sites, blogs, compra de jornalistas e influenciadores, ainda que as campanhas eleitorais se mantivessem no modelo 1.0 de caixa dois e produ��o holllywoodiana para TV.

Ainda estava por a� na campanha de Fernando Haddad em 2018, quando foi atropelada como cachorro que caiu da mudan�a pelo tsumani da campanha bolsonarista de mensagens em massa e um ex�rcito de seguidores org�nicos que ainda viria dar provas de sua vitalidade nas manifesta��es monstro do �ltimo 7 de Setembro.

Gastava pouqu�ssimo para os padr�es at� ent�o vigentes e investia alto nas mais modernas t�cnicas de manipula��o de mentes e cora��es, a partir de micro-segmenta��o de dados das plataformas de m�dias digitais.  As mesmas que deram suporte � revolu��o conservadora no mundo, desde a vit�ria do Brexit, a elei��o de Trump e a de v�rios outros candidatos de extrema-direita.

Leia meus artigos:


Velha e desatualizada, at� pouco tempo essa milit�ncia ainda usava o discurso de 20 anos sobre o controle da m�dia tradicional. Onde, como sabe qualquer adolescente, n�o � mais onde est� o poder. Nenhum grande ve�culo de comunica��o sobrevive sem as redes sociais, que as potencializam em repercuss�o e verbas publicit�rias.


Sua estrat�gia de rea��o �s den�ncias de corrup��o �, data venia, burra, contaminada do mesmo tipo de luta ideol�gica de guerrilha para a tomada de poder que lhe atrapalha desde sempre a percep��o da realidade e do bom senso. 


Quando n�o cai no m�todo infantil de adestrar militantes, como no manual anunciado recentemente para responder �s den�ncias com os mesmos v�cios pela pela presidente do PT Gleisi Hoffman, a mesma que afirmou que  "o PT tem moral para discutir corrup��o". 


Um tipo de negacionismo cego que, na forma mais complicada, ao modo muito petista de ser, tenta desqualificar provas de tr�s inst�ncias, advers�rios de amplo respaldo popular como S�rgio Moro e a intelig�ncia da plateia. 


Nada pior que chamar o interlocutor de idiota, como o faz com recorr�ncia impressionante, quando o bom senso recomendaria um m�nimo da estrat�gia b�sica da humildade e do bra�o a torcer. Que a grande m�dia cobra como "autocr�tica".


Ainda que com as meias verdades t�picas do discurso pol�tico.


- Olha, eu errei - diria Lula. - Avaliei mal os benef�cios que recebi em palestras ou melhorias de im�veis que frequentei de ex-fornecedores do governo, achando que n�o haveria crime depois de ter deixado a Presid�ncia. Mas considero que j� paguei caro por isso, mais do que qualquer bar�o da elite brasileira, em 580 dias na cadeia. Ainda posso pagar nos processos que correm e n�o me importo de ser preso de novo se assim a Justi�a entender certo. Mas, como nada impede que eu seja candidato, pe�o uma tr�gua ao pa�s para mostrar que posso consert�-lo. Depois, me prendam de novo. Etc.


N�o podendo fazer mea culpa que soe humilde e honesta, que ficassem quietos ou respondessem sumariamente: "Lula ser� julgado pela Justi�a". "Ou por Deus", sei l�. 


Carcomida, essa velha milit�ncia at� poderia empurr�-lo bem na elei��o, � custa de bom dinheiro em campanha, n�o tivesse que enfrentar agora o fato novo e massacrante da nova direita que perdeu a vergonha de dizer seu nome.


A ampla maioria da sociedade foi sempre majoritariamente conservadora, religiosa e um tanto quanto constrangida diante da libertinagem das novelas da Globo, do p� na porta dos movimentos gays, das greves sindicais e das invas�es do MST, que engolia calada pela vergonha de parecer reacion�ria ou anti social.


Sua �ltima participa��o homog�nea num protesto de rua havia sido na grande Marcha com Deus pela Fam�lia e a Liberdade, nos estertores do governo Jo�o Goulart. Foi arrastada um tanto constrangida para os movimentos pelas Diretas-J�, em 1984, e pela derrubada de Collor, em 1992.


A direita que a representa s� atuava em �poca de elei��es, crente no velho argumento do capital posto a servi�o de candidaturas, ou no lobby tamb�m remunerado nos bastidores dos poderes, entre uma elei��o e outra.


Sempre teve at� os governos Lula o poder formal majorit�rio nas institui��es tradicionais - Executivo, Congresso e Judici�rio - e desconfiava que tinha o poder da grana que ergue e destr�i coisas belas para domar a imprensa e a ind�stria cultural. 


Historicamente, para parecer bonitinha e moderna no bom tom de ser de esquerda, patrocinou artistas, publica��es e espet�culos empenhados em criticar o capitalismo e a opress�o das elites, como � da natureza das obras de arte. Sem perceber a contradi��o de fomentar uma m�quina subrept�cia de transforma��o social contra seus valores e interesses.


Nunca achou que precisasse ir �s ruas para combater o tipo de poder subterr�neo que aparelhou as institui��es contra seus valores empresariais e morais. Traduzido a grosso modo na burocracia paralisante que demoniza seus neg�cios e na apologia de uma pauta de costumes - direitos humanos, aborto, casamento gay, libera��o das drogas, cotas raciais e afirma��o de minorias - que n�o � sua prioridade.


Seu ponto de inflex�o veio nas revolu��es da primavera �rabe pelo Facebook no in�cio da �ltima d�cada, seguidas do movimento Vem Pra Rua em 2013 e das grandes mobiliza��es pelo impeachment de Dilma, em 2015, embaladas pelos cursos e prega��es de Olavo de Carvalho.


Na campanha de Jair de Bolsonaro, alavancou das tias e caminhoneiros do WhatsApp a intelectuais e toda uma elite cultural tamb�m sem medo de se dizer conservadora contra os descalabros do PT e da falta de autoridade da esquerda para patrulhar como nos seus bons tempos. 


Bolsonaro teria uma reelei��o f�cil se n�o tivesse depauperado de forma t�o r�pida e t�o est�pida esse manancial de apoio que tomou de uma vez por todas o monop�lio da esquerda nas ruas e nas redes sociais.


N�o s� por volume e capilaridade. Mas num movimento organizado em consequ�ncia e esp�rito, que abandonou Bolsonaro mas n�o a ideia de um outro mundo longe das tenta��es e distor��es do esquerdismo.


Que se disseminou numa batelada de sites, p�ginas, perfis, canais e influenciadores, dos mais malucos aos mais profissionais, com alguns milh�es de seguidores por cabe�a. E contaminou, de ve�culos tradicionais de imprensa,  como a Gazeta do Povo de Curitiba e a r�dio Jovem Pan, a jornalistas da velha guarda entrincheirados em publica��es de claro vi�s conservador, como O Antagonista de Diogo Mainardi e a Revista Oeste de Jos� Roberto Guzzo.


Um dos melhores sintomas de seu crescimento � que, como na velha esquerda, correntes de direita passaram a brigar entre si em diverg�ncias em torno dos mesmos objetivos: o estado liberal de livre iniciativa, democracia e competi��o.




Ao velho modo da pr�xis comunista de ocupa��o dos espa�os por dentro do sistema, depois do fracasso da luta armada, a direita vem fazendo semin�rios e publicando livros, criando editoras, log�stica de distribui��o e apoios a escritores e influenciadores, num movimento acelerado para o qual a esquerda parece ainda n�o ter acordado. 


A prova � de que nunca a m�dia tradicional de voca��o liberal progressista e o sistema de poder em torno dela, que marca cerrado os maluquetes de alta audi�ncia,  se sentiu t�o amea�ada quanto desconectada das pautas da maioria. Num fen�meno muito parecido com a rea��o conservadora puxada nos EUA pela Fox News, ainda no in�cio do s�culo, que deixou para tr�s e a nu o descompasso do mainstream liberal midi�tico.


Essa nova direita j� passou da fase de quem perdeu o medo de dizer seu nome. Sabe que h� uma lavagem cerebral chamada "hegemonia de esquerda" a combater na imprensa, na ind�stria do entretenimento e nas universidades e uma guerra por mentes e cora��es a vencer, se quiser se consolidar.


Seu verdadeiro teste de fogo, em que estar� mais bem organizada do que esteve em 2018, � a pr�xima elei��o presidencial.


� dif�cil acreditar que Lula possa enfrentar esse tsumani mais estruturado, sem a mesma compet�ncia tecnol�gica, a mesma capacidade mobilizadora e um discurso de acordo com o novo esp�rito do tempo. Confort�vel que parece estar ancorado na sua velharia ou em pautas que a maioria n�o quer.


Al�m da roupagem vermelha que remete a regimes ultrapassados e j� complica bastante sua vida nessa nova ordem, acho complicado que possa ser bem sucedido se sair defendendo aborto, afirma��o de minorias e invas�es para denunciar a insensibilidade social das elites. Reverencio sua generosidade, mas n�o deve funcionar na pr�xima elei��o.


Desconfio que at� possa ir por a�, mobilizando e falando para dentro da sua milit�ncia para se isolar como candidato da esquerda no primeiro turno. Confiante de que desmobilizar� e desfalar� tudo quando for para o segundo, a seu velho modo de colocar a pe�ozada na rua e negociar por cima depois.


Se eu fosse ele, avaliaria se conv�m apelar de novo a essa velharia. Ou velhacaria. Considere que n�o existe mais o sil�ncio acanhado da direita que o favoreceu por omiss�o durante toda a sua carreira. Ela est� vigilante e influente como nunca, 24 horas por dia, n�o s� mais na elei��o. Al�m de Ciro, � claro.


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