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Estado de Minas M�DIA E PODER

Parte do agroneg�cio tamb�m embarca no esfor�o de conter Bolsonaro

Coaliz�o que re�ne empresas do agroneg�cio tamb�m coloca democracia como prioridade e contribui para clima de diretas-j� contra arroubos golpistas do presidente


04/08/2022 13:32

Bolsonaro coça um dos olhos com uma mão
(foto: EVARISTO SA / AFP)


At� h� umas duas semanas, Jair Bolsonaro achava que o Brasil era os 20% de sua milit�ncia fan�tica das redes sociais, somados ao grande empresariado urbano e do agroneg�cio. 

Com ele e mais o pacote da PEC de bondades para atrair os reticentes pobres e mulheres, achava que tinha apoio e cacife para arrastar o restante da sociedade na composi��o do seu ideal de pa�s, em que todos parecem querer uma ruptura institucional.

Os manifestos recentes pela democracia que arrastaram na verdade a parte mais robusta da plateia que julgava cativa - empres�rios e banqueiros - lhe disseram que n�o. E a outra parte, a do agroneg�cio, tamb�m come�a a dizer o mesmo.

A Coaliz�o Brasil Clima Florestas e Agricultura, que re�ne entre seus 300 apoiadores representantes de grandes empresas do agroneg�cio, divulgou nesta quinta-feira nota em forma de manifesto em que troca sua luta por desenvolvimento sustent�vel por democracia.

- Nosso movimento vem a p�blico em apoio a uma bandeira sem a qual nenhuma das demais � poss�vel: a defesa da democracia. Sem democracia n�o h� desenvolvimento sustent�vel. Sem sustentabilidade n�o h� futuro poss�vel.

Ainda que haja grandes l�deres empresariais ainda bolsonaristas e envolvidos no movimento por formalidade protocolar, das pradarias do centro-oeste mecanizado aos pr�dios chiques da Faria Lima, o quadro acena para um isolamento real do presidente e um recado em boa hora.

Empres�rios n�o rasgam dinheiro, n�o gostam da alternativa Lula da Silva e em geral n�o se preocupam com o que se vai pensar deles, se apoiam democratas, autocratas ou ditadores. Consci�ncia social e pol�tica nunca foram suas prioridades.

Mas parecem ter chegado �quele ponto de perceber que as estripulias de seu favorito � ruim para os investimentos, bolsa e investimentos em queda. E de cair enfim na real sobre a enrascada em que se meteram em 2018.

O candidato que escolheram para erradicar a esparrela estatal e moral do lulismo � um liberal de fancaria, capaz de arrebentar numa madrugada de vota��o no congresso todo o arcabou�o de racionalidade fiscal criado para dar alguma previsibilidade aos neg�cios.

E at� quem sabe, numa hip�tese remota mas n�o imposs�vel, estejam tomando consci�ncia social. Aprendendo que tamb�m t�m responsabilidade com o arcabou�o de legalidade e sanidade das institui��es, que melhoram a finalidade do que fazem.

Manifestos sempre foram algo meio metaf�sico e desacreditado para eles, como tem sido para boa parte consciente da sociedade, desde que deixaram de mirar um inimigo em comum, o governo da hora, no tempo da ditadura militar, e passaram a tomar um dos lados nas disputas eleitorais.

Os �ltimos grandes e respeit�veis embalaram a luta pela democracia nos estertores da ditadura militar, entre o final dos anos 70 e at� a campanha por elei��es diretas, em 1984, esp�cie de grande manifesto n�o escrito que reuniu a vontade de uma na��o inteira.

A partir da Constituinte e dos embates que colocaram o lulismo como polo aglutinador de certa luta contra “tudo o que est� a�”, os signat�rios desse tipo de documento foram perdendo a dimens�o de que Lula era mais um lado, n�o o �nico.

De tal forma, que todos os manifestos pol�ticos desde a redemocratiza��o tinham sempre a mesma cara, as mesmas assinaturas e a defesa das mesmas pautas que coincidiam, n�o por acaso, com as de Lula e as do PT. 

Pode-se objetar que estivessem subscrevendo uma luta por valores e direitos universais contra as  quais ningu�m pode ser contra e em torno dos quais a esquerda teve o bom oportunismo de abra�ar. 

Mas o tempo fez ver tamb�m o quanto podem ser seletivos. Nunca se viu um manifesto das esquerdas contra a corrup��o nos governos anteriores, como n�o se v� agora um a favor de causas em que acreditam piamente, como aborto, libera��o de drogas e direitos LGBTQIA+.

Seria de grande contribui��o ao debate eleitoral um longo e elucidativo manifesto sobre as raz�es de sa�de p�blica do aborto, a conveni�ncia de libera��o de determinadas drogas como forma de combate ao tr�fico, a ideia de que fam�lias de pessoas do mesmo sexo podem ser t�o integras e felizes como qualquer outra.

Claro que n�o far�o, porque n�o conv�m a essa altura do campeonato em que todo ru�do ideol�gico precisa ser evitado para n�o atrapalhar a vit�ria de Lula no primeiro turno.

Os promotores dos novos manifestos tiveram, entretanto, a sagacidade de reunir nomes de peso de presen�a rara nos manifestos anteriores e diluir no meio deles os dos artistas figurinhas carimbadas que os assinavam e os contaminavam com seus interesses partid�rios.

Com isso, quase que restauraram clima e autenticidade da Carta aos Brasileiros de 1977, lan�ada na mesma Faculdade de Direito do Largo do S�o Francisco, ou mesmo das diretas-j�, em 1984, que ajudou a precipitar o fim da ditadura militar.

Pode parecer exagerado, mas alguma coisa precisava ser feita para conter o clima perigoso que Bolsonaro vinha construindo em dire��o ao 7 de Setembro, como plataforma de uma campanha de ruptura mais dura em dire��o ao primeiro turno.

O fato de ter atacado como “caras de pau” e de “ sem car�ter” os signat�rios mais proeminentes, seus tradicionais e mais influentes eleitores, � sinal de que acusou o golpe em contr�rio. Disfar�ou mal a consci�ncia do isolamento, que o encolhe entre a base fan�tica, os evang�licos, alguns lucianos hangs e a fam�lia.

E, v� l�, o Centr�o. Mas esse, como se sabe, n�o � fiel. Vai ficar com ele at� perceber que conv�m fazer como os empres�rios. Amea�am, embarcam no clima e no barco alternativo. Que, pelo andar da carruagem, � Lula, a alternativa posta pelo STF, o principal eleitor do pr�ximo 3 de outubro. 

Ainda quero acreditar que as For�as Armadas, ainda n�o. H� um pequeno grupo de estrelados do Pal�cio, que alimenta irresponsavelmente as aventuras do chefe. Seu l�der � o ministro da Defesa Paulo S�rgio Nogueira, confuso por conveni�ncia sobre suas responsabilidades, alimentando a base das amea�as do presidente, a d�vida sobre as urnas.

Quero crer que estejam apenas empenhados num esfor�o de campanha, que me parece, na verdade, o fim �ltimo das prega��es e das amea�as de Bolsonaro. � at� onde vai, testando os limites como sempre, at� o ponto em que tromba no pared�o da opini�o p�blica e recua. Mesmo que, l� frente, avance de novo.

Totalmente inadequado da parte dele e, sobretudo, dos membros das FAs. E � por isso que os manifestos emulando diretas-j� acabaram por se tornar importantes. Imprescind�veis, ali�s. E que o clima se mantenha como vig�lia at� depois da apura��o. Vai se preciso.

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