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Estado de Minas EM DIA COM A PSICAN�LISE

Consequ�ncias para a sa�de mental dos afetados por rompimentos de barragens

� indigno deixar pessoas esperando suas indeniza��es. Elas n�o s�o mendigas � espera de caridade. S�o cidad�os que merecem respeito e um Estado que se posicione definitiva e rapidamente em seu favor


postado em 06/10/2019 04:00 / atualizado em 04/10/2019 15:17


Fui inspirada a escrever sobre as pessoas que viveram em suas vidas uma trag�dia como a do rompimento das barragens da Vale. Uma colega, por engano, me enviou artigo sobre as consequ�ncias para a sa�de mental da popula��o afetada. N�o existe possibilidade de n�o ser assim, diante de tamanha dimens�o do ocorrido. Perder n�o apenas bens materiais, ficando desalojado, e tamb�m vizinhos, amigos, filhos, irm�os, pais, parentes, restando apenas um corpo que permanece vivo e precisa continuar, n�o � pouca coisa.

Da primeira, Barragem do Fund�o, em 2015, vimos o antigo povoado de Bento Rodrigues inundado pela lama. At� hoje, as fam�lias retiradas de l� est�o �s voltas com dificuldades, temendo n�o receber da Funda��o Renova as casas para o reassentamento no Novo Bento, como foi prometido, mas adiado v�rias vezes, e agora est� previsto para dezembro de 2020.

Da segunda, arrebenta a barragem 1, no C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, sem que as sirenes soassem. Pegos de surpresa, muitos n�o escaparam de ser soterrados pela lama e nem todos os corpos foram encontrados. Vimos peda�os de corpos sa�rem da lama pelas m�os dos bombeiros, nossos her�is verdadeiros.

At� poucos dias atr�s, ainda encontraram um corpo que estava desaparecido. E ainda outros jazem sob a placa de lama polu�da pelo lixo da minera��o. N�o podemos esquecer. Adiada para 2025 a elimina��o de todas as barragens de alteamento, ainda n�o foram ressarcidas do preju�zo material as fam�lias nem poder�o ser porque as perdas humanas s�o irrepar�veis, n�o h� dinheiro que acerte esta conta.

� indigno deixar estas pessoas esperando suas indeniza��es. Elas n�o s�o mendigas � espera de caridade. S�o cidad�os que merecem respeito e um Estado que se posicione definitiva e rapidamente em seu favor. � cruel e obscena a demora dos respons�veis em assumir a repara��o das consequ�ncias deste crime ambiental e humano.

Interessa falar disto porque, como disse o psicanalista franc�s Jacques Lacan, a psican�lise � pol�tica. E ela, como �tica que tamb�m �, deve lidar com todo tipo de sofrimento que atinge o homem.

Pouco mais de sete meses do desastre, a Secretaria Municipal de Sa�de informa sobre as consequ�ncias afetivas da popula��o e indica o aumento de suic�dios e tentativas de suic�dios no munic�pio, principalmente entre mulheres, que t�m seu sofrimento agravado, como demonstra o aumento no consumo de medicamentos antidepressivos e ansiol�ticos.

E n�o poder�amos esperar outra coisa. Uma popula��o inteira em processo de luto. Luto � um trabalho interno, intenso e progressivo. � o esvaziamento do espa�o que a coisa perdida ocupou no espa�o subjetivo. A sombra deste objeto (que pode ser pessoa, casa, amigos, vizinhos) paira sobre a pessoa. Uma nuvem de tristeza que permanece cinza e pesada. Ela deve passar com o tempo e o vento � medida em que a lembran�a da coisa perdida se encontra com a realidade da perda e constata uma vez, outra vez, mais uma vez, a ineg�vel impossibilidade de recuper�-la.

A repeti��o desta lembran�a e da reafirma��o do vazio, o relan�amento deste movimento revivido incansavelmente vai progressivamente esvaziando o peso desta presen�a que ainda ocupa o mesmo espa�o interno de antes. A constata��o da finitude obriga a aceitar que a vida siga, � inevit�vel. O real n�o se dobra � nossa vontade, n�s que devemos, das tripas ao cora��o, nos dobrarmos.

Este luto com o tempo se cura naturalmente, n�o sem dor. A nuvem pesada � levada e abre-se espa�o novamente para outros la�os que ocupar�o aquele espa�o afetivo. Muitas pessoas t�m dificuldade maior e precisam de aten��o, escuta e acolhimento. Medicar n�o � o caso j� que nada pode remediar esta dor. Ela n�o se cala dentro.

No entanto, outras n�o conseguem completar o luto e realmente precisar�o de rem�dios, pois desenvolver�o uma melancolia que n�o passa. E frequentemente ocorre ao sujeito finalizar a pr�pria vida como �ltimo recurso contra a dor.

Estas not�cias desalentadoras sobre o sofrimento das v�timas de tamanhas trag�dias humana e ecol�gica exigem aten��o. S� nos cabe ser solid�rios e apostar que o tempo cure esta dor e que as pessoas recuperem suas energias vitais para novos investimentos, novos la�os e os levem a reconstru��o emocional e material. A vida nos surpreende, acontecimentos inesperados nos derrubam e precisamos renascer das cinzas como a f�nix. Ser� preciso fazer novas apostas. Mesmo que n�o sejamos os mesmos.

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