
“Da bolsa
sai um buqu� de versos,
a voz do ambulante e
a dos pescadores,
o cheiro do mar,
a areia espessa da Urca
e a noite escura”
Depois de “Fiandeira-flor” (2002), “Inverno de baunilha” (2004), “Mural dos nomes impr�prios” (2005), “Do amor mais abrigado que o vento” (2007), textos esparsos de “O penhoar azul” (1996), a poeta V�nus Brasileira Couy nos brinda com nova publica��o. Trata-se de uma reuni�o de parte j� publicada e tamb�m poemas in�ditos. O livro “Quase poema” sai pela editora carioca 7 Letras durante a pandemia.
Um alento em tempos sombrios. As palavras bem ditas podem nos curar, sen�o consolar. A delicadeza bem colocada em versos nos acalma a alma do�da de se sustentar em tempos de um real punk. Em meio a guerra, s� mesmo a arte para tornar menos �rdua a vida.
A autora teve mais uma vez a sorte de contar com Yolanda Mour�o Meira no pref�cio, que lindamente nos apresenta a nova empreitada citando em ep�grafe nosso prezado Freud: “Se desejarem saber mais sobre a feminilidade...consultem os poetas”.
Yolanda nos recorda tamb�m o h�bito de Freud de convocar poetas quando nos faltam respostas e a palavra se apresenta assim compuls�ria, “tempos de peste, /os versos teimam em se escrever.”
A poesia de Couy encontra personagens, filmes, autores, viagens e outras l�nguas com as quais produz imagens traduzidas em palavras. Faz escrita com a dor que faz do poeta um escrevedor: escreve-dor.
Faz bordas de letras ao inomin�vel e insiste em fazer versos dos restos inassimil�veis do real, dos sonhos, daquilo que em n�s � enigma, mist�rio. Muitas vezes ang�stia, dor de amor, furo sem nome.
Couy escreve versos em tempos de peste, em meio as miudezas do cotidiano, �s covas rasas, aos corpos superpostos, em tempos de horror e desalento/o v�rus parece n�o escolher a quem/ e � longo o percurso at� o come�o.
E bem diz aquilo que hoje nos faz ansiosos, temerosos com o cont�gio crescente? E n�o estamos perplexos com as condutas incoerentes daqueles que preferem desafiar a morte dele e dos que num gesto ego�sta e pouco solid�rio pensando no imediato e em si mesmo?
N�o nos admira ter um presidente que trata a morte de seu povo com deboches? De um pa�s que beira o caos, o retorno da infla��o, a quebradeira geral dos remediados, aumentando a pobreza e elevando a riqueza, fazendo crescer esta dist�ncia?
Um pa�s de pol�tica nefasta em que o Judici�rio cada dia mais se embrenha nas quest�es pol�ticas e que muitas vezes faz pensar que se n�o h� ensejo para golpe militar, toda autoridade hoje se concentra no Judici�rio? Que nos salvem os poetas, porque dos pol�ticos o povo est� cansado.
