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Estado de Minas M�SICA

'Fossora' � jornada ao centro da alma de Bj�rk

Cantora lan�a disco, na sexta-feira (30/9), no qual volta �s ra�zes islandesas, mergulha no luto pela perda da m�e e explora espa�os subterr�neos da vida


26/09/2022 04:00 - atualizado 26/09/2022 04:09

cena do clipe 'Ovule'
Clipe de "Ovule" traz Bj�rk �s voltas com amor, desilus�o e div�rcio (foto: Bjork/divulga��o)

'Antes de morrer, as pessoas querem saber se elas se deram bem. Tentei falar isso para a minha m�e, mas talvez n�o tenha sido o suficiente (...) �s vezes voc� coloca na m�sica algo que n�o teve oportunidade de expressar'

Bj�rk, cantora e compositora


Washington –
Bj�rk desceu do c�u e pousou na terra. A cantora islandesa cavoucou um buraco aconchegante, aninhou-se dentro dele e escreveu seu novo �lbum, “Fossora”, que lan�a na sexta-feira (30/9). 


Em conversa com a reportagem por telefone, Bj�rk descreve o disco como “uma toca dentro de casa”. “Voc� est� t�o � vontade que fica tempo  bastante para criar ra�zes”, diz. A ideia reflete sua pr�pria jornada de retorno � Isl�ndia, onde vive em definitivo depois de d�cadas no exterior.

No Brasil em novembro

A cantora, que vem ao Brasil em novembro como headliner do festival Primavera Sound, busca imagens para falar de sons. Vai escavando montanhas e lapidando met�foras certeiras. “Fossora” soa mesmo como estar com o p� no ch�o, sentindo a terra �mida entre os dedos. O t�tulo evoca seu significado – � o feminino do latim fossore, aquele que escava.

 

Bj�rk consegue transmitir a sensa��o de aterramento por meio da escolha inusitada de instrumentos. A pedra angular do �lbum � um sexteto de clarones, que s�o clarinetes mais graves. “Queria pousar no solo e ir fundo”, diz. � o oposto s�nico de seu disco anterior, “Utopia” (2017), que ela descreve como “uma cidade nas nuvens” marcada por sons agudos. “Era como flutuar no c�u ouvindo flautas.”

Em seus �ltimos trabalhos, Bj�rk surpreendeu ao inventar instrumentos musicais. Foi o caso, em especial, de “Biophilia” (2011). “Se voc� n�o est� feliz porque algo n�o existe no mundo, voc� precisa cri�-lo”, diz. Em “Fossora”, no entanto, a cantora canaliza sua criatividade n�o para construir novos instrumentos – e sim para pensar em novas maneiras de utilizar os que j� existem.

“Estava a fim de pegar um instrumento para o qual � dif�cil escrever e tentar criar cores diferentes com ele”, Bj�rk conta. Ela explica que na can��o “Atopos”, usou os clarones para pintar um ritmo agressivo. Em “Victimhood”, ela buscou um territ�rio mais melanc�lico, rom�ntico. J� em “Fungal City” soprou tons alegres. “Se deu certo, j� � outra conversa”, diz.

Bj�rk, introvertida assumida, fala com mod�stia que parece sincera. “Acho que em todos os meus �lbuns eu sempre tento voltar � escola de m�sica. Sempre tento aprender ao menos um software novo, fazer algo que nunca fiz”, comenta. “Todos somos estudantes. S�bios e est�pidos. N�o tem a ver com a idade.”

Björk veste roupa verde e canta no clipe em ''Atopos''
Em ''Atopos'', artista islandesa canta a alegria (foto: Bjork/divulga��o)

Peso e leveza  

“Fossora” tem essa coisa de estar externo ao tempo, de ser maduro e ao mesmo tempo inocente. O disco mescla faixas leves, como “Atopos”, com outras dur�ssimas, como “Ancestress”. “Muitas das can��es s�o calmas nos primeiros tr�s ou quatro minutos e, de repente, no �ltimo minuto, voc� se levanta e dan�a, e depois se senta de novo”, explica.

� um reflexo dos tempos. Bj�rk passou a pandemia da COVID-19 na Isl�ndia caminhando em praias g�lidas. Ela tinha a alegria de receber amigos em casa e transformar a sala de estar em pista de dan�a, com m�sica eletr�nica pesada. Mas viveu tamb�m a dor de perder a m�e, Hildur R�na Hauksd�ttir.

Duas faixas de “Fossora” homenageiam Hildur R�na. Na ora��o funer�ria “Sorrowful soil”, Bj�rk diz que “em solo triste cavamos nossas ra�zes”. No epit�fio “Ancestress”, lamenta que “quando voc� morre, leva consigo o que voc� deu”. A melancolia, nesse trecho, � areia escorrendo pelos dedos. Mas a cantora diz que n�o estava em busca de catarse, de curar feridas. “Estava mais preocupada em celebrar a vida dela, dar cr�dito pelas coisas boas que fez”, afirma.
 
BJORK se despede da m�e, no clipe 'Ancestress':

Uma frase, em especial, corta fundo em “Sorrowful soil”. Bj�rk repete � m�e, diversas vezes: “Voc� se deu bem. Voc� deu seu melhor”. Ela explica que teve a ideia h� alguns anos, quando visitou o av� no hospital e leu um panfleto com conselhos para familiares de doentes terminais.

“Antes de morrer, as pessoas querem saber se elas se deram bem. Tentei falar isso para a minha m�e, mas talvez n�o tenha sido o suficiente”, diz. “�s vezes voc� coloca na m�sica algo que n�o teve oportunidade de expressar.”

Pensando na frase, Bj�rk se deu conta de que havia musicalidade. Era um mantra. “O ritmo era muito interessante. Voc� se deu bem, voc� se deu b-b-b-b-bem. Como se estivesse tentando enfiar isso na consci�ncia deles antes que partissem.”
 

'Em todos os meus �lbuns eu sempre tento voltar � escola de m�sica. Sempre tento aprender ao menos um software novo, fazer algo que nunca fiz. Todos somos estudantes. S�bios e est�pidos. N�o tem a ver com a idade'

Bj�rk, cantora e compositora

 

Tar� na capa

Como em seus outros �lbuns, Bj�rk presta aten��o n�o s� na m�sica, mas tamb�m em como embrulh�-la em imagens. Explica que, como uma carta de tar�, a capa de “Fossora” est� repleta de s�mbolos. As cores escuras remetem � terra. O fato de que ajoelha sinaliza sua conex�o com o solo. Todos os elementos visuais est�o embaixo dela, marcando sua descida do c�u para a terra.

“Fossora” � o 10º �lbum da artista. Celebrando o marco, Bj�rk lan�a s�rie de podcast chamada “Sonic symbolism”, em que conta a hist�ria de cada um de seus discos. Em geral, ela tem falado bastante do passado, talvez com o saudosismo de quem chegou aos 56 anos.

Na faixa “Ovule”, do novo �lbum, ela faz uma esp�cie de resumo de sua vida amorosa, por exemplo. A can��o diz: “Quando eu era uma garota eu pensava que o amor fosse uma constru��o na dire��o da qual eu estava caminhando, mas div�rcios mortais demon�acos demoliram o ideal”.
 
 

'Uma das raz�es pelas quais tenho afinidade com o Brasil � porque consigo ouvir a natureza nos sons, que s�o ao mesmo tempo modernos e relevantes. S�o m�sicas que voc� pode dan�ar, mas as letras s�o alta poesia'

Bj�rk, cantora e compositora


Elis, Tom e Milton: MPB na Isl�ndia

Na conversa com a reportagem, Bj�rk fala bastante do passado. Lembra, inclusive, de como chegou � m�sica brasileira, que marcou sua carreira. A faixa “Human nature”, por exemplo, tem sample de Tom Jobim; “Isobel” foi inspirada por Elis Regina; e Bj�rk encontrou Milton Nascimento quando esteve no Brasil – fotografias dos dois juntos volta e meia reaparecem nas redes.

“Uma das raz�es pelas quais tenho afinidade com o Brasil � porque consigo ouvir a natureza nos sons, que s�o ao mesmo tempo modernos e relevantes”, diz. “S�o m�sicas que voc� pode dan�ar, mas as letras s�o alta poesia.”

Bj�rk ouvia m�sica brasileira nos anos 1980, quando era raro um vinil chegar � isolada Isl�ndia. Ela juntava dinheiro o inverno todo para ir ao exterior. Trazia �lbuns para a ilha e sa�a emprestando para os amigos.

“�s vezes s� havia uma c�pia circulando, e geralmente era no momento errado. Se um disco sa�a em 1976, a gente ouvia em 1981, e estava pouco se lixando”, conta. “Eu meio que gosto disso. Os meus CDs favoritos eu ouvi no ano errado. Um bom �lbum � um bom �lbum.” 
 
capa do álbum Fossora traz Bjork com figurino azul esverdeado agachada sobre escultura de pano que remetem a coração e cogumelos
(foto: Reprodu��o)
"FOSSORA"
• �lbum de Bj�rk
• 13 faixas
• One Little Independent Records
• Lan�amento na pr�xima sexta-feira (30/9), nas plataformas digitais


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