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Estado de Minas M�SICA

Livro resgata a trajet�ria de Manoel Barenbein, o produtor da Tropic�lia

Projeto do jornalista Renato Vieira traz as mem�rias do homem que produziu obras-primas de Caetano, Gil e tropicalistas, al�m do primeiro LP de Chico Buarque


24/09/2022 04:00 - atualizado 24/09/2022 03:02

Produtor Manoel Barenbein, de 80 anos, sentado na cadeira, em frente a mesa onde se veem computador e porta-retratos com a caricatura dele
Manoel Barenbein, al�m dos tropicalistas, lan�ou discos importantes de Jorge Benjor, Claudette Soares, Jair Rodrigues e Ronnie Von (foto: Acervo pessoal)
 
A Tropic�lia, surgida em 1967, transformou a m�sica e a cultura brasileiras, chamando a aten��o do pa�s para o talento de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Gal Costa, Tom Z�, Torquato Neto e Rog�rio Duprat, entre outros. Para contar essa hist�ria, ningu�m melhor do que Manoel Barenbein, respons�vel pela produ��o dos discos tropicalistas lan�ados no final da d�cada de 1960.

Campanha de financiamento coletivo busca viabilizar o livro “Tropic�lia – Manoel Barenbein e os �lbuns de um movimento revolucion�rio” (Garota FM Books), do jornalista e pesquisador Renato Vieira.

Com pref�cio de Gilberto Gil e 17 cap�tulos, o projeto traz curiosidades e hist�rias in�ditas reveladas pelo respeitado produtor fonogr�fico, que hoje tem 80 anos e vive em Israel. As doa��es podem ser feitas at� 1º de outubro, por meio do site www.catarse.me/tropicalia.
 
Foto mostra os jovens Jorge Benjor, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Gal Costa e os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista (sentados)
Os jovens Jorge Benjor, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Gal Costa e os irm�os S�rgio e Arnaldo Baptista (sentados) revolucionaram a m�sica brasileira nos anos 1960, em discos produzidos por Manoel Barenbein (foto: Bossa Nova Films/reprodu��o)
 

Da r�dio � RGE

Paranaense de Ponta Grossa e radicado em S�o Paulo a partir dos anos 1940, Manoel Barenbein � um dos principais produtores de discos da MPB. Aos 17 anos, ele come�ou a trabalhar na R�dio Bandeirantes, tornando-se secret�rio do jornalista e produtor Walter Silva (1933-2009), diretor art�stico da emissora.

“Comecei a frequentar as r�dios paulistas e acabei me enturmando com muita gente. Aprendi com o Walter os primeiros passos da nova m�sica brasileira, que era a bossa nova. Isso por volta de 1959”, relembra Barenbein. Na gravadora RGE, levado por Walter Silva, o paranaense iniciou sua trajet�ria na ind�stria fonogr�fica.

“Comecei minha vida profissional como boy no Departamento de Divulga��o, cujo chefe era o Jos� Bonif�cio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Sa� da RGE e fui para outras gravadoras, at� que o Walter me chamou para trabalhar no Teatro Paramount, onde iniciaria o esquema de shows de bossa nova. Foi uma fase maravilhosa, pois abriu meu caminho para conhecer pessoas e entender como era o processo de grava��o (de discos)”, conta o veterano.

O mais importante dos eventos produzidos no Teatro Paramount foi o programa “Dois na bossa’, com Elis Regina (1945-1982) e Jair Rodrigues (1939-2014). Manoel era um dos t�cnicos de grava��o.

“Com o estouro do programa, a Elis e o Jair acabaram assinando com a TV Record e passaram a apresentar ‘O fino da bossa’, em 1965”, relembra. “Fui contratado pela gravadora RGE como assistente da dire��o art�stica, e l� produzi a cantora Cl�udia, Zimbo Trio e Erasmo Carlos.”
 
O jovem Chico Buarque em duas fotos, com expressões alegre e triste, na capa de seu primeiro LP, lançado em 1966
Detalhe da capa do primeiro LP de Chico Buarque, lan�ado em 1966, cujas fotos viraram meme neste s�culo 21 (foto: RGE/reprodu��o)
 

Estreia de Chico Buarque

Foi Manoel Barenbein quem levou Chico Buarque para gravar na RGE. “Produzi os dois primeiros discos dele: o primeiro, ‘Chico Buarque de Hollanda’ (1966), tinha a m�sica ‘A banda’. O outro era ‘Chico Buarque de Hollanda volume 2’”.

“Depois fui para a Phonogram/Philips, e � a� que entra a hist�ria do livro. Recebi convite da gravadora depois de me demitir da RGE. Nessa �poca, havia o Festival de M�sica Popular Brasileira da TV Record. T�nhamos 18 artistas do cast classificados naquele festival. Resolvemos, ent�o, fazer tr�s LPs, com 12 m�sicas em cada disco.” Barenbein gravou 23 das 36 faixas dos tr�s �lbuns.

Jovens talentosos vindos da Bahia foram grata surpresa para ele. “No dia em que fui falar com Caetano e Gil sobre o disco deles que iria produzir, levei um choque, porque eles me deram de presente o meu sonho: fazer m�sica popular brasileira com guitarra e baixo el�trico, mudando um pouco a concep��o de viol�o e baixo ac�stico”, relembra.

“Eu j� trabalhava com o Erasmo Carlos, ouvia o rock dele e achava que podia fazer uma mistura. Quando os dois baianos falaram que queriam guitarra el�trica nas grava��es e o Caetano disse que queria gravar com a banda argentina Beat Boys, foi o presente maior que eu poderia ganhar”, continua.

Caetano pediu a banda Beat Boys porque gostava da sonoridade do grupo. “Ele achava que era o som ideal para ‘Alegria, alegria’. Por outro lado, ‘Domingo no parque’ deveria ter arranjo do J�lio Medaglia, mas acabou sendo do Rog�rio Duprat. O J�lio era jurado do festival da Record e n�o poderia fazer as duas coisas ao mesmo tempo. E assim nasceu a minha parceria com o Duprat, que foi uma coisa maravilhosa.”
 

''Os versos de 'Alegria, alegria' e de 'Domingo no parque' deram uma sacolejada em tudo o que estava acontecendo na �poca.J� havia bom n�mero de pessoas envolvidas, como Tom Z�, Gal Costa e Torquato Neto como compositor. A participa��o dos Mutantes cimentou todo o processo da Tropic�lia''

Manoel Barenbein, produtor musical

 

Sacudida tropicalista no Brasil

Artistas reunidos na capa do disco Capa de %u201CTropicalia ou Panis et circensis%u201D
Detalhe da capa de ''Tropicalia ou Panis et circensis'', disco coletivo lan�ado em 1968 que se tornou cl�ssico da MPB (foto: Philips/reprodu��o)
A revolu��o tropicalista teve em Manoel Barenbein um observador privilegiado. “Os versos de ‘Alegria, alegria’ e de ‘Domingo no parque’ deram uma sacolejada em tudo o que estava acontecendo na �poca. J� havia bom n�mero de pessoas envolvidas, como Tom Z�, Gal Costa e Torquato Neto como compositor. A participa��o dos Mutantes cimentou todo o processo da Tropic�lia. A banda fez um pedestal perfeito para o movimento.”

A ideia do produtor era reunir talentos e lan�ar o que os norte-americanos j� faziam: um disco com v�rios artistas. Foi assim que surgiu o LP “Tropicalia ou Panis et circensis”. “Se voc� tem dentro da gravadora artistas do mesmo g�nero, fa�a um disco com todos eles. Ou seja, um disco que n�o � de carreira de algu�m, � de todos”, comenta.

“Tropicalia ou Panis et circensis”, LP que reunia Caetano, Gil, Gal Costa, Nara Le�o, Tom Z� e Os Mutantes, foi lan�ado em 7 de agosto de 1968. Barenbein afirma que Caetano lhe contou que “Alegria, alegria”, lan�ada em 1967, veio de “A banda”, sucesso de Chico Buarque. “Ele disse que a simplicidade da melodia o inspirou.”
 
CAETANO VELOSO canta "Alegria, alegria" em 2011:
 
 

Barenbein e a m�o de Deus

Aos 80 anos, Manoel Barenbein faz quest�o de agradecer a Deus por t�-lo colocado na hora certa, no lugar certo e com as pessoas certas.
 
“� algo divino. Conseguimos criar uma coisa t�o impressionante que, mesmo depois de quase 60 anos, continuamos falando dela. � algo muito consistente, um conte�do eterno. Isso me d� satisfa��o e orgulho. � uma honra ter meu nome ligado � Tropic�lia. Do mesmo jeito que � t�-lo ligado a Chico Buarque, Jair Rodrigues e tantos outros.”

Outra revela��o: Manoel conheceu Chico Buarque como compositor e o incentivou a interpretar as pr�prias can��es. “Tive a minha parcela em faz�-lo cantar m�sicas autorais, mas o Toquinho e o Walter Silva tamb�m tiveram. De maneira geral, essa hist�ria � mem�ria que n�o pode ser jogada fora, n�o por mim, mas pela m�sica popular brasileira. A mem�ria deve ser preservada. O objetivo do livro � colocar tudo isso no impresso, porque no �udio a gente j� tem. Isso para que as pessoas possam ler daqui a n�o sei quanto tempo.”

O tarimbado Barenbein n�o considera a Tropic�lia o movimento mais importante da m�sica brasileira. “N�o existe o maior. Considero tr�s movimentos b�sicos, falando dos anos 1950 para c�: Bossa Nova, Jovem Guarda e Tropic�lia. Era a uni�o de for�as.”

De acordo com o produtor, o movimento tropicalista come�ou em 1967, durante o Festival da Record, com “Domingo no parque” e “Alegria, alegria”. “E, em 1968, com 'Divino maravilhoso', da Gal Costa, tamb�m inscrita no Festival da Record, al�m do LP ‘Tropic�lia’, o do Gil e o do Caetano. J� o disco coletivo chama-se ‘Tropicalia ou Panis et circensis’. O do Gil � aquele que leva o nome dele, no qual est� vestido com o fard�o da Academia Brasileira de Letras (ABL). Acabou que a profecia se cumpriu. Gravamos esse disco na Bahia, em 1968, antes do ex�lio, quando os dois ainda estavam confinados em Salvador”, relembra.
 

''� algo divino. Conseguimos criar uma coisa t�o impressionante que, mesmo depois de quase 60 anos, continuamos falando dela. � algo muito consistente, um conte�do eterno''

Manoel Barenbein, produtor musical

 

Caetano e Gil confinados em Salvador

O produtor diz que n�o foi problema gravar com Caetano e Gil em confinamento, no fim dos anos 1960, imposi��o da ditadura militar ap�s a pris�o da dupla, no Rio de Janeiro.

“Levamos o equipamento para Salvador. O Gil j� tinha preparado tudo, at� os arranjos para uma banda comandada pelo Pepeu Gomes. O problema � que o grupo ficou sem os instrumentos. Isso porque foi a um programa de televis�o e cantou uma m�sica da qual o empres�rio, dono dos instrumentos, n�o gostou. Ele acabou levando o equipamento para o interior da Bahia.”
 
Com m�sicos, mas sem equipamento, Manoel diz que gravou somente voz e viol�o nos dois LPs. “Gil gravou voz e viol�o no dele e Caetano cantou acompanhado pelo viol�o de Gil, em seu disco. Levamos as grava��es e colocamos orquestra em S�o Paulo e no Rio de Janeiro. Foi uma aventura”, diz.

Mas o livro n�o se limitar� aos baianos. “� toda a minha hist�ria com 15 artistas. Al�m daqueles envolvidos com a Tropic�lia, ainda tem Erasmo Carlos, Claudette Soares e Jair Rodrigues, entre outros”, ressalta Manoel. “Ali est� a hist�ria dos anos 1960/1970”, diz.

E as hist�rias, ali�s, s�o muitas. “No primeiro disco solo do Caetano, ele queria gravar ‘Dora’, de Dorival Caymmi, e queria que o Dori Caymmi o acompanhasse. Embora tent�ssemos diversas vezes, n�o saiu legal, ningu�m ficou contente, apesar dos esfor�os. Como Caetano queria m�sica de mulher, sugeri para ele: por que voc� n�o grava 'Clarice', que � uma m�sica linda?”, revela. “Havia relacionamento entre todos n�s para dialogar sobre qualquer coisa, era jogo aberto.”
 
GILBERTO GIL canta 'Domingo no parque',em 2014:
 
 

Ideia do livro surgiu durante a febre dos podcasts

O jornalista Renato Vieira conta que seu livro se baseia no podcast que fez com Manoel Barenbein em 2021, chamado O produtor da Tropic�lia. “A gente se conhece desde 2018, quando ele estava indo embora do Brasil, pois tinha se aposentado e decidiu se mudar para Israel, onde residem v�rios membros de sua fam�lia.”

Durante a pandemia, em meio � febre dos podcasts, Vieira decidiu produzir a atra��o com Barenbein.

“Ele foi o produtor de todos os discos dos artistas da Tropic�lia, com exce��o do �lbum do Tom Z�. 'Tropicalia ou Panis et circensis' foi produzido por ele, assim como os dois primeiros discos solo de Caetano e do Gil, os de Gal Costa e dos Mutantes. Inclusive, foi ele quem contratou Os Mutantes para a gravadora. Fiz uma s�rie de nove epis�dios em que ele fala sobre cada um dos artistas”, diz Renato Vieira.

“O �ltimo epis�dio foi sobre o disco que Manoel produziu, mas n�o chegou a sair, com Jo�o Gilberto, Caetano e Gal.”

Vieira conta que foi procurado pela Editora Garota FM, que lhe prop�s transformar o conte�do do podcast em livro. “Topei, mas desde que pudesse colocar conte�do exclusivo. Por uma quest�o de limita��o, alguns artistas ficaram de fora. Ent�o, estamos incluindo seis artistas que n�o estavam no podcast: Nara Le�o, o maestro Rog�rio Duprat, Ronnie Von, Jair Rodrigues, Erasmo Carlos e Claudette Soares.”

“Manoel sempre foi uma pessoa de bastidores, nunca gostou de aparecer. � um produtor muito importante para a m�sica brasileira e acabou de fazer 80 anos. Acho muito importante valorizar as pessoas enquanto elas est�o vivas”, diz o jornalista.

“S�o muitas hist�rias interessantes, como a capa do primeiro disco solo do Caetano, quando a pr�pria gravadora a vetou. Manoel foi at� o diretor e conseguiu que ele a liberasse”, adianta.

“Manoel fala tamb�m do maestro Rog�rio Duprat, considera-o seu bra�o direito. Eles se admiravam. Manoel produziu dois discos solo dele: ‘A banda tropicalista do Duprat’ (1968) e ‘As mais belas can��es sertanejas’ (1970). Fizemos um cap�tulo s� para os discos do maestro”, diz o autor.
 
Capa do livro sobre a vida de Manoel Barenbein, com ilustrações coloridas do rosto de vários cantores da Tropicália
(foto: Reprodu��o)
"TROPIC�LIA – MANOEL BARENBEIN E OS �LBUNS DE UM MOVIMENTO REVOLUCION�RIO”
• Livro de Renato Vieira
• Editora Garota FM Books
• Campanha de financiamento coletivo por meio do site Catarse (www.catarse.me/tropicalia)


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