Quanto mais penso, mais chego � conclus�o de que ser democrata e brasileira e viver no mundo neste momento hist�rico � uma tremenda como��o. E n�o apenas comove, mas tamb�m nos faz impotentes em certa medida, pois ao que assistimos � um “teatro de horrores”. N�o � esta a voz de uma depressiva, negativista. � a voz de algu�m fundamentalmente inconformada por ver que h� no mundo mentes e cora��es que n�o se importam.
A diversidade � bem-vinda, n�o se trata de aplainar as diferen�as, fazer de todos o mesmo. N�o, jamais seria poss�vel tal pesadelo, jamais seremos um. Jamais pensaremos e sentiremos da mesma maneira a respeito do que quer que seja. Mas no m�nimo poderiam as puls�es de vida e morte serem mais equilibradas. Ilus�o? Simples desejo.
A democracia brasileira est� em colapso. A Constitui��o, pisoteada tantas vezes, se tornar� ileg�vel. N�o existe mais Estado de Direito, respeito ao cidad�o, conten��o dos autoritarismos. Vejamos as consequ�ncias do que se passa no n�vel ps�quico de um sujeito diante das tantas contradi��es.
A pena de morte n�o � legalizada, mas legitimada, sendo o Brasil o campe�o em assassinatos praticados contra o cidad�o, pela pol�cia, mil�cia e outros. Vejamos que, em meio a uma pandemia, o representante de um Estado democr�tico � investigado por evitar, de todas as maneiras diretas e indiretas, cuidar de sua popula��o, s� agindo a favor da vida sob press�o extrema.
Assistimos � indica��o do procurador-geral da Rep�blica, Augusto Aras, escolhido fora da lista tr�plice dos eleitos pela Associa��o Nacional dos Procuradores da Rep�blica, de perfil conservador, que mostrou afinidade com as ideias do presidente, e nitidamente a servi�o daquele que o imp�s, fugindo das regras praticadas em uma democracia e todas as institui��es de defesa da democracia silenciarem. Assistimos ao toma l� da c� do presidente com o Centr�o, hoje muito beneficiado atrav�s de emendas milion�rias, silenciados.
A uni�o do Estado e da religiosidade a favor da fam�lia, tradi��o e propriedade como instrumento ideologizante de uma popula��o cr�dula e simpatizante com tudo que n�o for Lula e PT, que s�o sin�nimo de comunismo. Para nos livrar do comunista, sejamos fascistas. Que bela proposta!!!
Voltemos � Inquisi��o, � Idade M�dia, queimemos cientistas e livros que provam que a COVID � mais que uma gripezinha, tomemos cloroquina e deixemos os familiares em casa quando a complica��o chegar, pois afinal todos morreremos um dia, ent�o que morramos j�.
Sejamos excomungados por nossos semelhantes ao discordar. Por perceber que no Brasil as decis�es mais importantes e �bvias s�o todas atrasadas, e s� acontecem depois que deu errado. N�o haveria um pol�tico que pudesse fazer a coisa certa? Em tempo?
Enquanto se espera, milicianos s�o agraciados pela medalha Tiradentes, mesmo presos por assassinato. Se homenageiam torturadores, matam Marielles, controlam favelas, extorquem os pobres e a mis�ria aumenta assustadoramente. Continuaremos ressentidos e odiosos negando o �bvio? Continuaremos permitindo no Brasil a corrup��o end�mica, que encena a condena��o dos inimigos para continuar praticando a sua pr�pria?
Enquanto isso, sai madeira ilegal “legalizada” para o exterior. Rendas dos pol�ticos triplicam em dois, tr�s anos, quisera eu pudesse com trabalho honrado fazer o mesmo com meus caramingu�s. Mas este gozo perverso � para poucos e ousados.
Enquanto se estreitam os limites das terras ind�genas, os detritos de min�rios pesados jorram em nossos rios. Enquanto aplainam nossas montanhas alterando a geografia e desertificando nossas Minas Gerais j� esgotadas.
Ent�o, como est�o os brasileiros e brasileiras democratas, pacifistas, homens e mulheres de bem no mundo hoje? Excomungados, em extraterritorialidade. Nem precisaria ser psicanalista para responder. Mas respondo como tal. Oprimidos, insatisfeitos, desamparados, fragmentados, em desacordo com o autoritarismo e o desrespeito � Constitui��o e lutando pela restaura��o da democracia. E ainda odiados pelos ultradireitistas.
Mas n�o deixaremos por isso de afirmar o rep�dio � pena de morte, a quem n�o nos representa. Quem poder� nos representar, a n�s, o um a um que somos? Muitos destes uns, capazes de fazer la�os sociais reais, solid�rios, de respeito � democracia, acatando a Constitui��o brasileira e elevando a voz sob a l�mina afiada da verdade.