(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas REGINA TEIXEIRA DA COSTA

A l�gica perversa do abuso psicol�gico

O terreno das rela��es amorosas e afetivas � nebuloso e emba�ado quando n�o se trata de viol�ncia expl�cita


24/10/2021 04:00 - atualizado 24/10/2021 07:16

Sentada no chão de uma lavanderia, a atriz Margaret Qualley, que faz o papel de Alex na série '''Maid''', segura caneta e caderno
Na s�rie ''Maid'', Alex (Margaret Qualley) enfrenta corajosamente o abuso psicol�gico e assume as r�deas do pr�prio destino (foto: Netflix/divulga��o)
Somamos esfor�os insistentemente em campanhas de conscientiza��o e forma��o de opini�o, mas mesmo assim certos preconceitos est�o arraigados nas pessoas. N�o nos damos conta do tamanho dessa impregna��o.

S� percebemos o quanto vivemos em uma sociedade eivada de desvios e equ�vocos quando sentimos na pele ou quando algu�m ou algo nos sensibiliza, nos tocando de modo que passamos a compreender e ficam claras nossas dores mal definidas.

Por mais que a m�dia e as escolas transmitam racionalmente esclarecimentos e valores humanos como toler�ncia, respeito e solidariedade no intuito de tornar a sociedade mais justa e menos segregacionista, ainda assim o que fica latente em n�s de nossa heran�a arcaica � enraizado na carne. S�o marcas na alma.

Espinhos na carne, os sentimos sem saber. Dor e mal-estar difusos e sutis que, sem que possamos pronunciar, permeiam nossas rela��es e, mais, nossas pr�prias posi��es.

Ainda ser� preciso muito trabalho e sensibilidade para perceber novas e outras possibilidades. Isto �, para sairmos do lugar que acredit�vamos ser o nosso e escolhermos o desejo.

O conservadorismo permanece ativo em nossa sociedade. A homofobia, o machismo, o racismo e todo o tipo de exclus�o das diferen�as est�o ativos. Isso fica claro nas estat�sticas de viol�ncia de g�nero, feminic�dio, racismo e no cotidiano.

O machismo, por exemplo, � transmitido pelas pr�prias mulheres: filhas nos trabalhos dom�sticos, filhos machos alfa. Falocracia. Falando assim, parece que estamos no s�culo passado e o feminismo n�o aboliu este comportamento. N�o mesmo.

Ainda vigora a l�gica perversa que n�o garante o direito ao respeito. As mulheres ainda se submetem, muitas toleram abusos f�sicos.

Quanto aos abusos psicol�gicos, muitas nem sequer sabem o que isso significa. Abusos t�o sutis que nem os percebemos. Nos caem com naturalidade porque os aprendemos em fam�lia. Com um pseudorrespeito. Nossa sociedade ainda � alicer�ada na hipocrisia e na dissimula��o.

O terreno das rela��es amorosas e afetivas � nebuloso e emba�ado quando n�o se trata de viol�ncia expl�cita, impedindo ver com clareza o que est� sustentando implicitamente tais relacionamentos. Ser� preciso aten��o para andar no fio da navalha, e nisso a s�rie “Maid” (Netflix) � bastante reveladora. Devemos escolher a n�s pr�prias, mesmo que isso implique em perdas. Ser�o perdas necess�rias.

A mulher � capaz de travar suas pr�prias batalhas, al�m de se respeitar e manter a dignidade suficiente para botar no lugar correto aquilo que � seu direito. E n�o ceder. De modo silencioso e afetivo, sem medir for�as e pacificamente ir adiante.

Essa situa��o, bem representada em “Maid”, convoca a mulher a repensar suas posi��es e buscar em si, no apoio m�tuo e na solidariedade for�a para respeitar a si pr�pria e a seu desejo. Deixar para tr�s aquilo que antes idealiz�vamos e nos parecia ser amor pode n�o ser f�cil, mas � libertador.

Comentada por nove entre 10 mulheres com as quais tenho falado nos �ltimos dias, a s�rie toca a sensibilidade e causa forte impacto pela nossa identifica��o com a personagem principal, Alex. Esta mulher, corajosamente, recusa todo o tipo de coa��o, supera rela��es de depend�ncia afetiva e faz sua aposta, apesar dos obst�culos, no que acredita ser o seu lugar de contentamento, onde a vida lhe parece valer a pena.

Alex escreve sobre sua vida e seu trabalho e, em alguns momentos, me fez lembrar da nossa pobre e cara Carolina de Jesus em “Quarto de despejo”. 

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)