
Jamais, em tempo algum, Freud em sua transmiss�o da psican�lise prometeu a felicidade como resultado da cura pela psican�lise. Ele, sim, falou do al�vio proporcionado pela suspens�o dos sintomas neur�ticos, o contentamento pela descoberta do desejo que determina cada um de n�s e a alegria do saber.
Em suas “Cinco li��es de psican�lise”, ele apresentou sua descoberta aos americanos em confer�ncias, publicadas posteriormente, mas quando chegava de navio acompanhado de seu at� ent�o querido disc�pulo Jung, disse: “Eles n�o sabem que trazemos a peste...”
Esta frase tornou-se famosa entre n�s analistas porque sabemos que desbravar a subjetividade n�o � f�cil nem simples. � um processo que nos apresenta uma face de n�s pr�prios insabida, desconhecida e que, por ignor�-la, n�o costumamos escutar. Mas a aproxima��o promovida pela psican�lise nos torna sens�veis a seus efeitos em n�s e explica muitos de nossos atos que fazemos sem uma compreens�o do por que fazemos.
Como exemplo desses atos temos as repeti��es que nos aprisionam trazendo preju�zos morais, financeiros e amorosos, que n�o s�o nada casuais, s�o resultado de nossos fantasmas. Eles s�o estruturados no decorrer da vida e � atrav�s deles que interpretamos nossa realidade, certamente com desvios e deforma��es pr�prias da nossa constru��o l�gica equivocada.
Mas esses equ�vocos s�o positivos e nos conduzem – quando em an�lise – a resolu��es importantes ap�s conseguirmos atravessar estes fantasmas que nos enquadram, ent�o alcan�amos o conforto de estar com nosso desejo, mais do que com as vozes dos grandes “Outros”, que passam pela nossa vida, e n�o s�o t�o grandes assim, conforme entendemos em an�lise.
Por falar nisso, foram muito bem comemorados, no dia 20 de abril �ltimo, os 60 anos do C�rculo Psicanal�tico de Belo Horizonte. Institui��o pioneira e fundadora da psican�lise em Minas Gerais. Hoje sob presid�ncia de Maria Auxiliadora Toledo Garcia Freire, a cerim�nia foi impec�vel.
O psicanalista Arlindo Pimenta abriu o evento com um relato hist�rico impec�vel, que emocionou a todos que participam atualmente do C�rculo e daqueles que fizeram passagem por l�, uma vez que muitos de n�s, de alguma maneira, direta ou indireta, fomos tocados pelos desbravadores que nos trouxeram at� aqui desde 1963.
Eles nos trouxeram a peste, repetindo o ato de Freud ao levar a psican�lise para os EUA. Levando a descoberta do inconsciente, o conceito de uma realidade ps�quica como nunca antes formulada, abrindo o campo da subjetividade como poss�vel de ser tocado e trabalhado.
As consequ�ncias desta descoberta foram radicais no mundo. Abriram a dimens�o da subjetividade at� ent�o pouco investida e tal foi a novidade que resist�ncias de uma plateia de m�dicos e cientistas se armaram prontamente.
De fato, a descoberta do inconsciente feriu de maneira contundente o narcisismo do homem, mostrando que ele n�o � dono da pr�pria casa, pois h� nele um estranho que desconhece.
Ferida esta que se seguiu a duas outras: a copernicana, em que retira a Terra do centro do universo; a darwiniana, que aponta a ascend�ncia humana, no processo evolutivo, com ancestral comum aos macacos. Essas feridas nos obrigam a retifica��es importantes, embora muitos ainda insistam na supremacia humana sobre a natureza e os animais. Mas pelo rumo da prosa � bem claro que somos n�s, em nossa ignor�ncia e �nsia de poder, que estamos na contram�o de um futuro melhor...
