
“A gente percebe, no entanto, que a base da educa��o, isto �, certa ideia do que � preciso para fazer homens – (como se fosse a educa��o que os fizesse; na verdade, � bem certo que n�o � obrigat�rio que o homem seja educado; ele faz sua educa��o sozinho; seja como for, ele se educa, j� que � preciso que ele aprenda alguma coisa, que enfim pene um pouco), mas, enfim, os educadores, propriamente falando, s�o pessoas que pensam que podem ajud�-los, e at� mesmo que haveria ao menos uma esp�cie de m�nimo a dar para que os homens sejam homens, e que isto passa pela educa��o. Na verdade, eles n�o est�o errados. � preciso, de fato, que haja certa educa��o para que os homens consigam suportar-se entre si.”
Me interessou porque eu venho pensando bastante no fracasso da educa��o. Apesar de todos os esfor�os e de toda assimila��o, a dureza da natureza humana resiste. O fracasso das campanhas de conscientiza��o na luta maci�a por extirpar do homem o antissocial (agressividade, viol�ncia, abuso, preconceito, racismo, machismo) e refor�ar os ideais da cultura, para que seja poss�vel a conviv�ncia, � vis�vel.
Apesar de todos os nossos esfor�os pelas pessoas, por esclarecer, retirar a ignor�ncia, traz�-las ao entendimento e civilizar pela vida coletiva, nos deparamos com falhas, crimes, viol�ncia, preconceito, falta de civilidade.
Afastar o que � antissocial e fere o respeito por n�s pr�prios e pelo outro, entender que o mal est� em cada um, assim como o bem, fazer escolhas que nos orientam, reconhecer que h� perigo na esquina, que o medo nos protege, quem n�o o escuta, corre riscos maiores... tudo isto � importante, mas tem horas que parece que se dissolve e perde consist�ncia.
De nada adianta pretender afastar o mal do cora��o e do olhar colocando nas mulheres a burca. Matar n�o resolve a insatisfa��o de uma demanda furiosa de satisfa��o completa. De saber que nem todo amor � eterno e nem toda separa��o � o fim. De afastar do homem a besta-fera que o faz estuprar mulheres e crian�as, que o impele a matar o mais fraco e roubar o que deveria ser riqueza comum dada pela natureza. O homem s� pode entender, compreender, aceitar sobre todas estas coisas e muito mais, se quiser se suportar. Se escolher educar-se.
� fato que crescemos pelas m�os de nossos pais, ou cuidadores, ou n�o haveria sobrevida. H� falhas nos limites que nos deram... pois ningu�m � perfeito.
Tamb�m passamos pelas m�os de educadores, escolas e obtivemos instru��o do muito que nos deram. Por�m, por mais que nos seja dado, nada garante que ser� recebido, ou melhor, que tenhamos incorporado. Que tenha sido parte acatado ou que possa ser rejeitado, recusado. Alguma coisa n�o aceita, recusada, n�o incorpora nosso ideal, seja do eu, seja da cultura. Jamais o ideal ser� completamente alcan�ado, ele est� na ideia. O ideal � inalcan��vel na totalidade.
E � fato que nem tudo assimilamos e, se o fazemos, que uso faremos do que se torna parte de nosso eu? Esta falha � motivo para uma coisa intrigante que vemos acontecer no nosso tempo e em todos. Por mais que se ensine, se eduque e se peleje para fazer um homem, homem de bem, o mesmo vale para mulheres, n�o garante que assim seja.
N�s, os seres falantes do mundo, de livre arb�trio, escolhemos. Ser� este sempre nosso pior infort�nio ou nosso maior privil�gio?