
Not�cia ruim anda r�pido, diziam meus av�s e pais quando preocupados com algu�m que demorava. Se n�o chegou not�cia, � bom sinal, lembrava algu�m. H� verdade nesse dito. Hoje, o celular nos d� acesso imediato a tudo – ningu�m demora ou some, a n�o ser que queira. E a not�cia ruim n�o nos faz mais esperar, ela nos atropela. Chega por diversas vias.
A maioria delas n�o atinge os pr�ximos. Temos not�cias ruins de desconhecidos, e muitas com falta respeito pelas v�timas, sem o seu consentimento. Faltam limites. Tudo � expl�cito, escancarado.
O volume de informa��es � desumano, bombardeia nossa cabe�a, nos estressa e entristece, mesmo sem conhecermos as v�timas. Porque s�o seres humanos.
A viol�ncia e a agressividade humanas, mais do que queremos aceitar, s�o enormes. � dif�cil entender atos desproporcionais aos fatos, com tamanha falta de filtro.
Nem a educa��o mais refinada � capaz de extirpar o �dio, a agressividade. Um pouco de agressividade faz parte de nossa constitui��o e nos anima na luta pela vida. Por�m, se passou disso, � excesso. � um tipo de gozo fora do lugar.
H� em n�s �dio e amor, masoquismo e sadismo, desejo e vontade de gozo. A educa��o deve nos permitir a cr�tica que nos condicione a manter limites aceit�veis na conviv�ncia. H� em n�s a natureza selvagem e a impulsividade dif�ceis de contornar. A educa��o � a forma mais eficiente de equilibrar for�as naturais, e a linguagem nos transporta da natureza para a cultura. Depois disso, n�o teremos corpos naturais, como os animais.
Certos tra�os escapam em maior ou menor propor��o, apesar da educa��o. Em situa��es-limite, mesmo a pessoa mais educada pode perder o controle e ter comportamentos passionais. Geralmente, temos a censura que nos impede de agir de modo antissocial.
Como verificamos correntemente na fam�lia contempor�nea, a fun��o de frustrar e colocar limites tem falhado, prioriza-se o excesso de amor. Nossas crian�as s�o majestades a quem devemos pedir licen�a at� para educ�-las. Ent�o, o resultado tem sido os “sem no��o”. Pessoas sem filtro, sem pudor ou vergonha para se exibir, mesmo sem motivo nenhum, sem mostrar algo significativo.
Elas se acham. Vivem sem filtro, sem censura, desinibidas e expostas. H� um perigo nisso, e ele se mostra diariamente nos notici�rios. No futebol, em vez de divers�o, descontra��o e torcida pelo time, vemos o �dio, o racismo, agress�es verbais e f�sicas – a garrafa lan�ada mata uma adolescente. Torcedores perseguem o jogador que foi mal em campo, invadem o motel para agredi-lo e nem escondem o rosto.
Na pol�tica, nem preciso chegar ao radical 8 de janeiro, com a destrui��o do pal�cio do governo e de significativas obras de arte. No aeroporto de Roma, desacatam Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Inimizades, exclus�o, marcas do �dio.
Religi�o, �dio e preconceito s�o, muitas vezes, mais relevantes do que o amor e a toler�ncia. E, ainda, formas sutis de agressividade camufladas, que te fazem ir para casa afetado, �s vezes sem localizar o porqu�. Infelizmente, falta filtro. Falta no��o. E a responsabilidade � toda nossa.