Negacionistas e religiosos n�o resistem � ci�ncia quando o calo aperta

Se h� ‘do�ura em pessoa’ maior no mundo, eu desconhe�o. Dona Isa, minha querida sogra, � uma crist� hiper praticante. Abre a par�quia, ajuda o padre, pratica caridade como ningu�m que conhe�o e… reza! Ali�s, como reza.

Reza para ela, para os filhos e netos, para mim (tadinha, hehe), para a vizinha, para o ator da TV, para todo mundo. Na boa, Dona Isa reza at� para os bichos. Se Deus tiver ouvidos reconhece sua voz nas primeiras palavras.

Infelizmente - a meu ver, claro -, minha sogra exagera; passa do ponto. Quando se perde de carro em algum bairro distante onde foi socorrer algu�m, ao inv�s de recorrer ao Waze ou pedir ajuda, ela reza para Jesus lhe mostrar o caminho.  

�s vezes, quando se sente mal, ao inv�s de tomar logo algum rem�dio, prefere orar. Sempre digo a ela: reze, sim, Dona Isa. Faz bem. Mas antes, por favor, tome seu rem�dio. Ajude Papai do C�u a te ajudar.

H� tamb�m parentes e amigos que seguem a mesma trilha. Preferem a f�, a cren�a e o incerto � ci�ncia e � medicina. Alguns, porque escolheram caminhos, digamos, alternativos de vida. Os ‘naturebas’, sabem? 

Por�m, outros, o que � simplesmente rid�culo, tornaram-se negacionistas por devo��o pol�tica ou ideol�gica a um d�bil mental incapaz de gerir minimamente bem a pr�pria miser�vel exist�ncia neste mundo.

S�o pessoas que jamais questionaram a efic�cia de qualquer vacina. Mal seus filhos nasciam e l� estavam a espetar os pezinhos e bracinhos dos rebentos. At� que um dia… fez-se a luz! Neste caso, as trevas.

Porque um cretino do quilate intelectual de Bolsonaro falou, pronto!, tudo mudou. Agora a medicina mata; os laborat�rios s�o cru�is; as vacinas s�o experimentais. Taquelpariu, viu!? Haja est�mago e saco pra esse povo.

Conhe�o gente que enfia a cara em cloroquina, ivermectina, oz�nio e o escambau como minha sogra enfia a pr�pria na B�blia. O efeito, ao final, � o mesmo de quem prefere a cacha�a ou pular sete ondinhas no dia 31 de dezembro.

O problema � que, quando se trata de epidemia, o comportamento individual (a parte) interfere no coletivo (o todo). No caso, ‘parte’ e ‘todo’ precisam um do outro para existir e coexistir harmoniosa, saud�vel e pacificamente.

Se em um grupo de cem indiv�duos vinte n�o se vacinam, adeus imunidade. As vacinas protegem, em m�dia, 70% das pessoas, neste caso, com a ignor�ncia de 20%, apenas cerca de cinquenta estar�o imunizadas.

Ora, se metade de uma sociedade est� suscet�vel � uma doen�a, � �bvio que isso - que chamam de direito - coloca em risco a outra metade. Que raios de direito � esse? Posso sair por a�, por exemplo, cuspindo veneno para o alto?

O que me mata de raiva � que, negacionistas e afins, quando a porca torce o rabo, correm para um m�dico e um hospital como quem corre do capeta. Nessa hora, esquecem de Deus e de Bolsonaro e chamam o doutor.

Por culpa da pr�pria ignor�ncia e fanatismo, roubam o hor�rio e lugar de quem tentou ao m�ximo se proteger, mas n�o conseguiu. N�o conhe�o nenhum destes, que n�o acabe num hospital antes de se curar ou de partir dessa.

Bolsonaro, por exemplo, quando achou que iria morrer, n�o rezou nem foi se banhar no Jord�o. Ligou para o m�dico, que estava de f�rias no Caribe, e o chamou para fazer o que ningu�m mais poderia; nem cloroquina na veia.

Leia: 

'Estou morrendo; a coisa est� ruim', disse Bolsonaro antes de ser internado

Afinal, se Deus est� no comando, por que Dona ‘Micheque’ n�o pediu, em l�nguas, pelo marido? Por que a m�e da filha doente, que s� usa florais e terapias alternativas, correu para intern�-la quando a febre bateu em 41 graus?

O que a humanidade atual tem de melhor � o poder de pensar e agir racionalmente; n�o por instinto ou crendice. Ningu�m mais planta cana, ou soja, e faz dan�a da chuva. Nem sai por a� mordendo os outros quando est� faminto.

O problema � que a humanidade s� caminha bem quando caminha em conjunto, em massa. A medicina precisa de milhares de m�dicos e a ci�ncia precisa de milhares de cientistas para poderem extrair algumas poucas descobertas.

Uma sociedade precisa de colabora��o em massa para funcionar bem. E n�o � toa o Brasil jamais ter funcionado bem. N�o adianta uma parte remar para um lado e outra parte, para o outro. O barco n�o sai do lugar ou fica dando voltas in�teis.

O diabo � que em muitas manadas atuais, os ruminantes agem em nome de Jesus, de Bolsonaro e da Ozonioterapia, enquanto os outros focam no que realmente funciona quando falamos de sa�de e doen�a. Mas depois, quando a conta chega, dividem o preju�zo.