O desaparecimento do velho conflito entre esquerda e direita, que s� sobrevive ainda em pa�ses culturalmente perif�ricos e em mentes com pouca luz, criou na pol�tica do mundo novas oposi��es. Est�o neste caso as polariza��es entre globaliza��o e nacionalismo, religi�o e secularismo, ambientalismo e desenvolvimentismo, e uns tantos outros pares de conceitos que, por sua natureza, n�o deveriam constituir necessariamente antagonismos.
O progresso humano e a prote��o contra as vicissitudes do destino, que constituem o prop�sito da vida social, sempre dependeram da forma��o de consensos no interior das sociedades. As na��es e os grupos humanos mais bem-sucedidos t�m sido sempre os que conseguem chegar a um acordo sobre objetivos e meios de a��o. Os que n�o t�m tido esta sorte e esgotam suas for�as em conflitos in�teis e paralisantes constituem as sociedades pobres e falidas que se espalham pelo mundo.
Estamos todos diante de um fato da natureza verificado e reconhecido pela melhor ci�ncia de que dispomos. O clima em nosso planeta est� se alterando com rapidez e � medida que o tempo passa isto vai significar uma mudan�a perigosa em nossa vida. O planeta resistir� a um aumento de 2 a 3 graus de temperatura m�dia e a humanidade n�o vai estar � beira da extin��o. O modo como vivemos e produzimos, no entanto, vai sofrer forte degrada��o.
''O desafio da mudan�a do clima e da degrada��o ambiental � uma tarefa de toda a humanidade''
Se a mudan�a fosse um fen�meno natural, nossa �nica escolha seria nos prepararmos para uma penosa adapta��o. A Terra, afinal, j� passou por v�rios ciclos clim�ticos muito mais severos e a vida prosseguiu. Agora, a imensa maioria dos cientistas n�o hesita em apontar a a��o do homem como a principal causa do aquecimento do planeta. Esta � uma boa not�cia, pois reverter o processo est� em nossas m�os. Se a pol�tica permitir!
A quest�o do clima tornou-se mat�ria de disputa pol�tica em todo o mundo e em cada pa�s. Temos os chamados partidos verdes ou ambientalistas, grupos pol�ticos que se re�nem na defesa do meio ambiente com uma ret�rica apocal�ptica e um sectarismo de cunho religioso, mais engajados em apontar culpados do que em convencer as pessoas. Em geral, defendem que as sociedades democr�ticas n�o s�o capazes de lidar com os problemas do clima e que enfrentar os desafios ambientais vai exigir uma postura mais autorit�ria dos governos.
Al�m da descren�a na democracia, esses movimentos tamb�m consideram o capitalismo incompat�vel com as mudan�as no modo de viver e produzir que ser�o necess�rias para reverter o colapso ambiental. Defendem o fim do capitalismo e uma esp�cie de modula��o da democracia, o que os relega a um extremo do espectro pol�tico, sem for�a para influir nas pol�ticas p�blicas.
Do outro lado do campo, temos os negacionistas de direita, que, apesar das evid�ncias, tratam a mudan�a clim�tica como um fen�meno artificial, uma cria��o dos globalistas e das esquerdas, algo, enfim, que � pura conspira��o anticapitalista. A pol�tica, em seus momentos de paroxismo, isola as pessoas da realidade e as confina numa bolha de fic��es e de del�rios.
Entre estes dois extremos fica a maior parte da humanidade, homens e mulheres de todos os continentes, sofrendo o peso das mudan�as, mas incapazes de serem convencidos por essas narrativas sem um fundo de realidade e que usam as trag�dias da vida como instrumento para chegar ao poder.
O desafio da mudan�a do clima e da degrada��o ambiental � uma tarefa de toda a humanidade. As sociedades nacionais n�o podem se dividir nesta mat�ria. As divis�es pol�ticas precisam ser atenuadas para que se chegue a uma pauta comum que una governo, empresas e cidad�os. Do mesmo modo, esta � uma quest�o global. Se pa�ses se fecharem em si mesmos e n�o reconhecerem suas obriga��es para com o resto do mundo, de nada adiantar� o esfor�o dos demais. Coopera��o n�o � o contr�rio de soberania. Vivemos numa terra comum.
Diante dos perigos verdadeiros da mudan�a do clima o que nos resta � pedir a Deus, ou � natureza, que os nacionalismos e outros tantos ismos morram calcinados pelo aquecimento que n�o deixam combater.