
Em algum momento o per�odo mais cr�tico da pandemia vai terminar. Quando este momento chegar vamos nos defrontar com a ru�na econ�mica causada pela doen�a, que est� provocando uma verdadeira devasta��o econ�mica por onde passa. O FMI calcula que o PIB do mundo vai recuar 5,4% este ano, com queda em 92% dos pa�ses considerados. A zona do euro deve encolher incr�veis 10,1% e os Estados Unidos, 8%, se nada pior ocorrer.
Para o Brasil, as previs�es de decl�nio hoje variam entre 6,4% e 9,1%, uma queda �pica, sem registro anterior em nossa hist�ria. O que torna mais cr�tico nosso drama � que a pandemia n�o interrompeu uma economia em crescimento, apenas agravou uma situa��o que j� era de uma demorada estagna��o. A d�cada de 2011-2020 � a de maior empobrecimento da popula��o brasileira nos �ltimos cem anos, com uma queda acumulada superior a 10%. Ao fim da pandemia, a renda dos brasileiros estar� pr�xima da que foi no come�o do s�culo. O tempo passou e n�s ficamos no mesmo lugar.
Conformar-se com isto n�o deve ser uma alternativa, a n�o ser para os s�bios do mercado financeiro. Tampouco devemos admitir que as sa�das para a crise econ�mica possam ser objeto de luta ideol�gica ou de mera discuss�o acad�mica. No entanto, este � o quadro que se prenuncia. O Minist�rio da Economia tem assegurado que o governo est� pronto para a retomada do ajuste fiscal em 2021 e nos pr�ximos anos. Em bom portugu�s isto quer dizer corte de despesas e aumento de impostos. O pr�prio Ministro afirma que a volta do crescimento s� pode vir do investimento privado.
Se estas vis�es prevalecerem, a economia brasileira vai continuar estagnada depois da queda. Para que a economia possa crescer � necess�rio o aumento de seus componentes, ou pelo menos de algum deles. Nos pr�ximos tempos as pessoas n�o v�o aumentar seus gastos de consumo, por causa do desemprego ou da redu��o generalizada das suas rendas. N�o � razo�vel contar com grandes fluxos de investimento privado porque as empresas, na sua maioria, estar�o lutando por sua sobreviv�ncia. As exporta��es ter�o pouco dinamismo pois o mundo vai viver uma transi��o de desglobaliza��o e protecionismo.
A �nica sa�da para que a economia comece a vencer a estagna��o � o investimento p�blico, porque o Estado � o �nico agente que, dentro de certos limites e durante um certo tempo, pode gastar mais do que arrecada, por meio da d�vida p�blica e de uma pol�tica monet�ria expansionista, como tem feito todos os pa�ses relevantes do mundo.
� um fato que o Brasil j� tem uma d�vida p�blica muito alta e no passado recente aumentos do endividamento n�o produziram crescimento. A resposta � que esta d�vida resultou de d�ficits originados pela expans�o dos gastos correntes do governo e de juros b�sicos fixados al�m do que era necess�rio.
Nas atuais circunst�ncias, decidir pelo crescimento econ�mico n�o � uma escolha, mas uma obriga��o do sistema pol�tico, que � quem fala pela sociedade. O caminho � a aprova��o de um Or�amento de Guerra, como o que foi aprovado para combater os efeitos imediatos da pandemia, com dura��o de 3 a 5 anos, contendo exclusivamente despesas de investimento capazes de alavancar o crescimento e colocar em movimento a economia para que, em seguida, a iniciativa privada ocupe o seu lugar. Mant�m-se o teto constitucional para todas as demais despesas p�blicas e o Tesouro fica autorizado a emitir d�vida e o Banco Central autorizado a conciliar a pol�tica fiscal com a pol�tica monet�ria.
Em pouco tempo a economia voltar� a crescer e a d�vida como propor��o do PIB iniciar� uma trajet�ria de volta ao normal, porque a infla��o n�o est� mais no horizonte e os juros devem permanecer baixos por muito tempo.
O pr�mio Nobel de economia Paul Romer com sua autoridade nos lembrou recentemente que as palavras dos economistas n�o devem merecer aten��o especial nas decis�es de como uma sociedade deve funcionar. A pol�tica � que deve dar a palavra final quando se trata do pr�prio destino da sociedade.