Falta ao governo Bolsonaro a decis�o de governar o Brasil

Os governos existem para resolver problemas reais, n�o para aument�-los ou para criar problemas imagin�rios. Os governos tamb�m n�o t�m o direito de se omitir diante de suas responsabilidades ou se desculpar frivolamente pelas dificuldades que encontram para realizar o que � necess�rio.

Nunca � demais lembrar que ningu�m ocupa o poder e o governo contra sua vontade. Pelo contr�rio, pol�ticos e partidos lutam desesperadamente para chegar ao Poder e nessa jornada n�o recuam diante de nenhuma promessa, mesmo as mais fantasiosas.

A tarefa de governar j� foi muito mais simples do que � hoje. Ordinariamente os governos tratavam da seguran�a, da ordem interna e da aplica��o das leis, sem intervir de modo decisivo na vida social e na economia.

As rela��es de poder giravam numa esfera restrita de poucos grupos dominantes e a participa��o do povo era mais aparente do que efetiva. Nesse ambiente, qualquer cidad�o de talento mediano estava � altura das responsabilidades limitadas de liderar um governo.

As coisas mudaram muito. Nos pa�ses do Ocidente a democracia chegou para valer e a opini�o p�blica n�o apenas passou a escolher com autonomia as lideran�as pol�ticas, como se tornou a voz dominante na defini��o das pol�ticas p�blicas.

Os recursos do Estado, via impostos e d�vida p�blica, cresceram de modo exponencial e o escopo dos governos estendeu-se sem limites, abrangendo todas as esferas da vida.

Nesse processo foram criadas as mais variadas institui��es p�blicas, desde autoridades monet�rias a universidades, ag�ncias reguladoras e ag�ncias de seguro social.

A miss�o dos governos tornou-se complexa por combinar a lideran�a de uma grande quantidade de quadros t�cnicos e profissionais e, principalmente, a media��o pol�tica entre o aparelho do Estado e a sociedade civil livre e informada. Para sair-se bem destas miss�es � natural supor-se que seriam necess�rios homens excepcionais.

Esses homens excepcionais quase sempre existem em qualquer sociedade, mas os eleitores e os pr�prios sistemas pol�ticos raramente os reconhecem e chegam a rejeit�-los quando os encontram.

Os velhos liberais do antigo Estado costumavam dizer que ao governo dos homens � prefer�vel o governo das leis e das institui��es. Em tese, faz sentido, mas pelo menos em certos momentos s� homens l�cidos, capazes e preparados podem liderar um pa�s que perdeu o seu rumo.

Para liderar nas horas cruciais � preciso conhecimento, imagina��o e uma esp�cie de parceria com o destino. � s� lembrar de Churchill, Roosevelt, De Gaule e, entre n�s, Juscelino.

Se tudo isto � verdade, o Brasil hoje � um pa�s em perigo. Nossa economia se arrasta na estagna��o h� mais de 10 anos. O desemprego e a pobreza n�o param de aumentar.

Os servi�os p�blicos est�o no limite da precariedade. Estamos na segunda pior posi��o no mundo na gest�o sanit�ria da pandemia, por aus�ncia de gest�o.

Estamos isolados na esfera internacional por que o governo escolheu o caminho da excentricidade ideol�gica. Diante de tudo isto nosso Presidente proclama que o pa�s est� quebrado e que ele n�o pode fazer nada. Ele n�o parece ser um daqueles lideres excepcionais.

O Brasil n�o est� quebrado e continua sendo um dos pa�ses mais vi�veis de todo o mundo. Do mesmo modo, o governo brasileiro n�o � por natureza impotente para resolver os problemas da na��o.. Temos pessoas e institui��es de primeiro mundo. Falta ao nosso governo a decis�o de governar.

Governar n�o � a mera gest�o do poder, nem muito menos uma campanha eleitoral permanente. Governar � unir a na��o e usar todos os recursos do poder para fazer a economia crescer, para diminuir as desigualdades sociais e, nesta hora, concentrar tudo no combate � pandemia.

E acima de tudo deixar de trazer para a esfera p�blica as quest�es morais, de costumes e de cultura, quest�es privadas que envolvem cren�as absolutas e n�o se prestam � negocia��o e ao compromisso.

A politiza��o desses temas divide irremediavelmente qualquer sociedade e torna imposs�vel a solu��o dos problemas reais das pessoas e do pa�s.