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Estado de Minas coluna

Pol�tica como desencontro � mero confronto entre personalidades

A outra palavra forte de Francisco � que precisamos confrontar nossas ideias com a profundidade da realidade, pois ela � mais importante do que as ideias


23/05/2022 04:00

Papa Francisco
Em encontro com jovens, o Papa Francisco provocou a reflex�o sobre a pol�tica como encontro e a realidade (foto: Alberto Pizzoli/AFP)
Em um tempo em que as religi�es tem sido um instrumento na pol�tica para alimentar o �dio e separar as pessoas, o papa Francisco parece um personagem de um outro mundo. Sua coragem de trazer o cristianismo para a vida presente e para os homens reais, ao lado da sua insist�ncia em convocar o que resta de inoc�ncia na condi��o humana, quase me levam a acreditar que ele recebe uma inspira��o do sagrado, por mais que a idade tenha me tornado mais c�tico e mais descrente.

Na semana que passou, falando a jovens de uma fraternidade crist�, ele expressou dois pensamentos que deveriam provocar reflex�o n�o apenas em quem compartilha um sentimento religioso de qualquer natureza, mas em todas as pessoas de boa vontade, nesta quadra de tanto sofrimento e tanta loucura na vida pol�tica de muitas na��es. O que se passa no Brasil de hoje, nos Estados Unidos e em tantas outras democracias, com a exalta��o dos antagonismos, a volta da viol�ncia na pol�tica e a sedu��o do autoritarismo, aponta para um futuro pr�ximo em que o que h� de melhor na civiliza��o humana pode perfeitamente desaparecer.

A primeira palavra de Francisco � uma senha para um mundo novo, t�o diverso daquele que estamos vivendo: “a pol�tica � acima de tudo a arte do encontro”. Encontro significa aceitar os outros e suas diferen�as e n�o levar a luta pol�tica �s �ltimas consequ�ncias. Nas democracias, nenhuma vit�ria pol�tica � definitiva, nenhum poder � absoluto e a pol�tica n�o controla a totalidade da vida. Nelas n�o h� derrota final porque n�o existe vit�ria final. Onde o poder � absoluto e a pol�tica est� presente em tudo n�o h� sequer lugar para a luta pol�tica. Por isso, onde a luta pol�tica � poss�vel n�o podemos permitir que ela pr�pria destrua o ambiente de liberdade e de coopera��o, que � o �nico em que ela pode existir e que chegou at� n�s pelo sacrif�cio e o m�rito dos que viveram antes de n�s.

Toda sociedade convive com duas for�as divergentes: os instintos de competi��o e de coopera��o. A luta pela conquista do poder � natural em todos os grupos humanos, mas s� conseguem prosperar aqueles nos quais a pol�tica organiza a competi��o social de um modo que as for�as da coopera��o n�o sejam neutralizadas ou enfraquecidas. Quando a pol�tica deixa de cumprir esse papel, a luta pelo poder torna-se um fim em si mesma e os recursos e energias da sociedade deixam de ser aproveitados para o progresso de todos.

Esta � tipicamente a situa��o em que nos encontramos.  Nosso sistema pol�tico tem sido incapaz de criar e prover os canais de di�logo nos quais os diferentes grupos da sociedade possam articular suas vis�es do mundo e seus interesses leg�timos. O resultado � que a luta pelo poder acaba se resumindo numa disputa de personalidades, em vez de ser uma reflex�o sobre os imensos desafios que o pa�s tem diante de si. N�o se pode esquecer que o Brasil � o �nico pa�s do mundo que � rico, enquanto sua popula��o � quase toda pobre, ou muito pobre. E que em 2022 nossa renda por habitante � 8% menor do que era em 2013. Al�m de pobres, n�o crescemos mais, porque escolhemos a pol�tica como desencontro.

A outra palavra forte de Francisco � que precisamos confrontar nossas ideias com a profundidade da realidade, pois a realidade � mais importante do que as ideias e n�o podemos fazer pol�tica com ideologia. A experi�ncia da hist�ria j� demonstrou que as ideologias, todas elas, s�o vers�es fict�cias do mundo real, constru�das de prop�sito para manipular as pessoas, com finalidade pol�tica.

Nosso destino neste momento est� atrelado a vis�es ideol�gicas, que deixam de fora da competi��o pol�tica todos os problemas que precisam ser enfrentados e todas as duras solu��es que precisam ser adotadas. O resultado das elei��es nestas circunst�ncias corre o risco de ser uma mera vit�ria de uma irrelev�ncia sobre outra, de uma falsidade sobre outra.

Resta a esperan�a de que a vis�o redentora do papa Francisco, por um milagre, caia sobre n�s, pois muito pouco podemos esperar da sabedoria dos homens da Terra.



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