Os meios de comunica��o t�m registrado que o presidente Lula com muita frequ�ncia tem se emocionado ao ponto de chorar quando se refere �s imensas popula��es pobres que mal t�m renda suficiente para fazer tr�s refei��es todos os dias. Eu acredito na sinceridade dessas l�grimas e tenho pena de quem n�o se comove com as diferen�as sociais t�o absurdas que s�o a triste marca de nosso pa�s. Infelizmente n�o elegemos nossos governantes para que nos consolem ou que chorem conosco. O que n�s queremos deles � que utilizem sua lideran�a e seu poder para oferecer � sociedade uma grande vis�o capaz de unir as pessoas na transforma��o da vida social.
Esta � obviamente uma miss�o de longo prazo e requer dos nossos l�deres uma grande compreens�o da realidade e um despojamento que � incompat�vel com a simples luta pelo poder, a voca��o preferencial da maioria dos pol�ticos. O aumento continuado da produ��o e do investimento � a �nica forma de criar oportunidades de trabalho e de progresso para as pessoas. Nosso pa�s cresceu muito durante muitos anos, desde o come�o do s�culo 20 at� os anos 1980.
Da� em diante o crescimento diminuiu ou desapareceu e passamos a viver de crise em crise. Pa�ses s�o realidades complexas e os processos sociais s�o misteriosos. Ningu�m foi ainda capaz de explicar cabalmente esta transforma��o. O casal de economistas Esther Duflo e Abhijit Banerjee, ambos ganhadores do Pr�mio Nobel de Economia por seus trabalhos sobre o combate � pobreza, em artigo de 2020 na Foreign Affairs, argumenta que embora o crescimento econ�mico seja a chave para a redu��o da pobreza, a ci�ncia econ�mica n�o sabe porque uns pa�ses prosperam e outros n�o, nem tem uma receita com os ingredientes certos para produzir o crescimento.
Fa�o esta cita��o n�o como um convite ao desespero, mas como um chamamento � humildade e � reflex�o, quando se trata de lutar pela volta ao crescimento. No nosso debate p�blico n�o h� muita reflex�o nem muita humildade. Em nossa ca�tica realidade pol�tica, a maioria dos partidos e das lideran�as n�o nos oferece uma �nica e simples ideia a esse respeito. Aquelas poucas que o fazem geralmente mostram uma vis�o muito simplista e improvisada. Neste ano de 2023, a renda per capita dos brasileiros ainda n�o voltou ao seu n�vel de 2013, que era j� um n�vel miser�vel.
O Brasil ainda n�o se transformou em um caldeir�o de conflitos sociais por causa dos subs�dios distribu�dos pelos v�rios programas de transfer�ncia de renda, que est�o rapidamente chegando ao seu limite. � falta de empregos, de renda e de crescimento econ�mico, jogamos o problema para a frente por meio destes aux�lios. A realidade agora � que essas transfer�ncias cresceram demais e bateram no teto. Para se ter uma ideia quantitativa, em 2007 o Bolsa-Fam�lia custava por ano 21 bilh�es de reais, para atender 11 milh�es de fam�lias.
Em 2015, no segundo mandato de Dilma Rousseff, o gasto foi de 38 bilh�es, para 15 milh�es de fam�lias. Em 2023 o gasto com o programa, gra�as � iniciativa do governo anterior, est� subindo para 174 bilh�es, beneficiando 22 milh�es de fam�lias. Para calcularmos o total que ser� gasto com transfer�ncias de renda neste ano, temos que acrescentar 87 bilh�es relativos ao Benef�cio de Presta��o Continuada e mais 138 bilh�es para as Aposentadorias Rurais, que s�o benef�cios sem contribui��o. No total a Uni�o vai gastar 399 bilh�es de reais este ano, 16% da Receita L�quida que ser� de 1.862 bilh�es de reais.
Ser�o gastos permanentes se continuarmos a apenas aliviar a pobreza sem de fato combat�-la. Estou apresentando esses n�meros simplesmente para demonstrar que daqui para a frente os problemas sociais ter�o que ser resolvidos com crescimento econ�mico verdadeiro porque o espa�o fiscal chegou ao fim. O presidente Lula e seu partido sempre proclamaram diante das car�ncias deste pa�s e dos obst�culos ao crescimento que o que faltava era apenas vontade pol�tica. Neste momento em que sobram l�grimas e vontade ficamos todos � espera do seu grande plano de crescimento de que tanto precisamos.