
O dia oficial das m�es j� passou, mas preciso contar algumas passagens curiosas sobre como � ter filhos do Terceiro Mil�nio. H� alguns dias, venho anotando as peculiaridades dessa gera��o p�s-internet, hiperconectada nas telas e, muitas vezes, desligada da vida real. E que, sem d�vida, merece um amor ainda maior, pois � a primeira do s�culo a atravessar uma pandemia.
– Minha agenda ficou lotada de observa��es sobre eles. N�o conv�m deixar � vista, mas o risco de espionarem o conte�do � zero. O problema � pagar o mico de usar um artefato de museu, de capa lil�s e bolinhas rosas. Quando eles querem anotar algo, v�o digitar no bloco de notas do celular ou do computador. O caderno da escola tamb�m est� amea�ado de extin��o.
– Outra armadilha � infringir, sem perceber, as regras ambientais perto deles. Imagine que voc� saiu com os filhos para andar de bicicleta e deixou cair na rua a garrafinha de Gatorade, pela metade. Em vez de deixar pra l�, siga o exemplo do seu filho. Ele vai interromper o tr�nsito, entrar no meio dos carros e resgatar o artefato de pl�stico. Salvar� o planeta.
– Doem suas enciclop�dias de papel. Nenhum deles ir� fu�ar os livr�es da casa da av� explorando t�picos diversos por horas e horas. No entanto, podem te dar aulas de conhecimentos gerais. Falam sobre a aranha mais mortal do mundo, a constela��o de �rion e os travas-l�nguas mais legais da l�ngua portuguesa. Quer ver? Tente dizer papibaqu�grafo tr�s vezes, r�pido. � dif�cil.
– Eles raramente usam o telefone para falar. Se quiser conversar com o representante da nova gera��o, envie mensagens de texto pelo celular. Evite ao m�ximo usar emojis, que s�o datados. “Coisa de gente mais velha”, ouvi isso outro dia. Fiquei ‘passada’, como eles dizem.
– � bastante dif�cil argumentar com os serzinhos da nova gera��o. Para come�ar, eles n�o t�m tantos preconceitos nem opini�es formadas sobre tudo. De repente, o mais velho poder� sentir vontade de comer banana amassada. Desnecess�rio dizer que ele j� � rapaz e deveria comer banana raiz. “E da�? Assim fica bem mais gostoso”, compara ele, terminando de preparar a mistura com a��car e canela. N�o � que ele tem raz�o?
– Pode ter certeza. Eles nunca v�o contar a voc� piadinhas politicamente incorretas. Nem de brincadeira. S�o contra aquela mania antiga de inventar apelidos maldosos para os colegas. Isso � bullying! – protestam. Podem se sentir ofendidos se voc� chamar pelo diminutivo o colega mais baixo da turma.
– Por falar no termo em ingl�s bullying, a maioria aprende a se virar nesse idioma, naturalmente, sem fazer cursos extras. Desde cedo, assistem a v�deos sem legenda no YouTube, aprendem as regras dos jogos em ingl�s e trocam coment�rios com gamers nativos. Podem disputar uma partida contra advers�rios do Jap�o, Canad� e at� brasileiros.
– Voc� ter� acesso aos maiores segredos do filho na hora de dormir, quando ele ir� esticar a conversa at� o momento de dar boa-noite. Pedem �gua, v�o ao banheiro, contam casos. Preste aten��o. Voc� poder� descobrir, por exemplo, que o sonho dele � morar em J�piter (!). Afinal, cabem cerca de mil Terras no maior planeta do Sistema Solar. Impressionante.
– N�o se assuste se voc� ganhar de presente uma fase de joguinho, totalmente criada pelo filho, com o nome de Mamana. � a maior honraria ser a inspira��o de algo t�o trabalhoso e psicod�lico, cheio de cores e efeitos especiais. Voc� nunca vai conseguir passar da sua pr�pria fase, mas n�o esquenta. Isso ser� a maior fonte de orgulho para ele.
– Enfim, os filhos do Terceiro Mil�nio s�o uma caixinha de surpresas. Ou melhor dizendo, um daqueles ba�s do tesouro dos games, cheios de gemas, orbs (criptomoedas) e �cones.
Saiba mais sobre xamanismo no canal Ch� Com Leveza (https://youtu.be/-Rr0i8i8_KM)
*Sandra Kiefer assina esta coluna quinzenalmente