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A volta do Papai Noel

Sempre me espanto do quanto ele se parece com a imagem genu�na do Papai Noel que trago da minha inf�ncia


12/12/2021 04:00 - atualizado 12/12/2021 08:39

Boneco do papai noel com uma vela na mão
papai noel (foto: Licen�as Creative Commons/Reprodu��o)


Na �ltima semana, meu celular morreu. A bateria chegou a 5%, refletindo o estado em que costumamos chegar nesta �poca do ano, esgotados, sem energia. Liguei na tomada, mas o carregador n�o funcionou. Luz baixa, tela do visor piscando, mudo. Corri at� a loja especializada no shopping center do bairro. Foi ent�o que aconteceu o milagre de Natal.

Papai Noel voltou a existir. L� estava ele, esparramado na poltrona de veludo vermelho, como sempre esteve todos os anos, quando meus meninos eram crian�as, h� 16 anos. Falhou uma �nica vez, em dezembro passado, no auge da pandemia, no �nico ano em que a celebra��o p�blica do Natal foi proibida oficialmente na Terra.

Deu uma sensa��o boa no peito, uma quentura no cora��o, alegria de sentir a normalidade voltando � vida. Foi reconfortante chegar perto do bom velhinho e dizer um oi, mesmo sem estar junto dos meus filhos. E ver que continua tudo igual. Ele n�o cobra para tirar fotos, nem espanta as crian�as com a ajuda das noeletes dos shoppings maiores.

N�o sei se o homem me reconheceu, mas sorriu para mim e bateu o sininho dourado, dizendo “ho ho ho”. Esperei at� as (outras) crian�as se afastarem para eu poder chegar perto. N�o foi f�cil. O beb� dava gritinhos e batia os p�s no carrinho, entusiasmado, impedindo o pai dele de se afastar. “Vamos filho, o Papai Noel precisa descansar”, disse ele, na verdade legislando em causa pr�pria.

Com voz infantilizada, outra m�e encorajava a filha a se aproximar. A garota parecia ansiosa, torcendo a ponta do vestido, com medo. Por fim, a m�e desistiu, desejando boas festas ao senhor e � fam�lia dele. A menina questionou: “Mas Papai Noel tem fam�lia, mam�e?”.

Foi a deixa para eu interromper a conversa, fazendo a fila andar. Parei em frente daquele senhor, sinceramente encantada. Sempre me espanto do quanto ele se parece com a imagem genu�na do Papai Noel que trago da minha inf�ncia. Olhos azuis, bochechas vermelhas e barba branca, cultivada. Esse daqui � de verdade – gosta de brincar com as crian�as e faz quest�o de orientar as fotos, indicando o melhor �ngulo aos pais.

Gosto da ideia de haver um benfeitor distribuindo presentes gratuitos �s crian�as na noite de Natal. Entendo quando dizem que se trata de um �cone do consumismo e de que o Papai Noel n�o deveria vestir roupa de veludo no clima tropical. Sei disso. Sei tamb�m que, na lenda original, a roupa do bom velhinho era verde e ganhou tonalidade vermelha por influ�ncia da Coca-Cola.

J� revelei esse mist�rio natalino ao publicar reportagem sobre o poder do marketing no caderno de Economia do Estado de Minas. Mesmo assim, puxei assunto com o Papai Noel artificialmente colorido, que cumpria contrato de trabalho e vestia fantasia: “O senhor fez falta aqui para a gente no Natal passado”.

Emocionado, ele contou que se chama Valber Silva, tem 73 anos e ocupa a cadeira da galeria de lojas desde 2002. Ator, aceitou o papel para ganhar uma renda extra. Hoje, veste o personagem por amor. Seu Natal se inicia em maio, quando come�a a deixar crescer a barba. � tratado por Noel em Lafaiete, sua terra natal. “Tem pre�o que paga isso?”, diz ele, acenando para um beb� s�rio, de cara fechada, mas que abre um sorris�o ao passar pelo Papai Noel.

Pergunto se V�lber Noel gostaria de deixar uma mensagem de Natal. “Que as pessoas n�o se esque�am da f� e que nunca deixe de existir a esperan�a, mesmo na pandemia”, disse. “� isso a�”, pensei comigo, lembrando do antigo slogan da marca mundial de refrigerantes. Sa� do shopping levando dois presentes: um conto de Natal e um celular na m�o, j� consertado.


Saiba mais sobre xamanismo no canal
Ch� Com Leveza (https://youtu.be/-Rr0i8i8_KM)
*Sandra Kiefer assina esta coluna quinzenalmente

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