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Estado de Minas Mais leve

Caiu a ficha da paz

O planeta precisa do nosso estado de esp�rito, da nossa boa vontade, de sermos mais leves, da nossa paz


06/03/2022 04:00 - atualizado 02/03/2022 14:47

Ilustração de um coração carregado por dois pombos
Para hastear a bandeira branca no mundo, por�m, primeiro temos de colocar a m�o no nosso cora��o e perdoar a n�s mesmos (foto: ilustra��o)

 
Voc� j� teve a sensa��o exata do momento em que caiu a ficha? N�o h� express�o melhor do que essa para definir o intervalo de tempo localizado entre o saber e o n�o saber sobre algo. De repente, aquilo passa a fazer sentido para voc�. 

Vou dar um exemplo pessoal. Por mais de 10 anos, uma vez por semana bati ponto no consult�rio do meu analista. Era sempre a mesma rotina.

Eu entrava, cumprimentava o doutor Luiz e me deitava no div� de veludo marrom, na mesma posi��o. Ele ent�o se sentava na poltrona, de frente para mim. Pegava o seu caderno de espiral e come�ava a anotar. Da� eu falava, falava, �s vezes chorava, tornava a falar, chorava mais. Transbordava problemas.
 
Luiz ouvia tudo, em sil�ncio. S� me interrompia para assinalar certo trecho da fala, preciso, lacanicamente (existe esse termo?). Esse seria o ponto a ser analisado na sess�o. Era incr�vel o corte que ele fazia na minha fala, quase cir�rgico. Ele mirava no cerne da minha dor. Capturava atos falhos, jogos de palavras, n�s e novelos.
 
Por mais de uma d�cada, essa cena se repetiu, com algumas modifica��es: na quarta ou quinta, 19h ou 20h, primavera ou outono, chuva ou sol. Nesse per�odo, a decora��o do consult�rio mudou pouco. Alguns enfeites revezaram-se nos nichos. Livros foram substitu�dos por outros, a mesa ficou mais perto da parede, surgiu uma lixeira no canto direito.
 
Eu observava tudo ao meu redor, enquanto tentava destampar as emo��es. Via o quadro na parede, os t�tulos dos livros, a cor das tampas das canetas. At� que um dia caiu a ficha. Eu ouvi uma m�sica tocando no fundo. Reclamei do som, que estava me impedindo de pensar.
 
Luiz se mostrou surpreso. Explicou que era a mesma m�sica de sempre. Ela sempre existiu. Ficava tocando baixinho para preservar a privacidade do cliente, caso tivesse outra pessoa aguardando do lado de fora. Fiquei chocada. Nunca, em todos aqueles anos, eu havia percebido a exist�ncia do som ambiente no consult�rio. Eu juro!
 
Deitada naquele div�, eu ouvia, mas n�o escutava. Ficava distra�da entre tantos pensamentos, mergulhada em problemas, submersa na dor. Havia muito barulho dentro de mim. Precisei silenciar a minha mente para conseguir perceber o mundo ao meu redor.
 
Na verdade, eu nunca estava no tempo presente. Ficava revendo o passado ou antecipando o futuro, acelerada, ansiosa. Pagava para estar ali, mas estava l�. Naquele dia, com a ajuda do doutor Luiz, caiu a ficha da minha pressa interior.
 
Era como se eu estivesse na esquina da rua, embaixo do orelh�o da Telemig. Havia acabado de colocar tr�s ou quatro fichas no aparelho. S� quando desse o barulhinho da ficha caindo, poderia fazer a liga��o. Era bem diferente de hoje, quando temos o nosso telefone de bolso.
 
Vamos voltar ao meu insight, ao instante em que fui capaz de me abstrair da roda-viva do trabalho, filhos, compras, contas. Eu corria de mim mesma. Na terapia, comecei a perceber a import�ncia de sentir o momento, de estar no agora, no j�.
 
Passei a procurar as pr�ticas de medita��o, aten��o plena, mindfullness. Hoje, sei que essa busca tem outro nome: paz interior. Ou, simplesmente, paz. Na minha �ltima coluna Mais Leve, tratamos exatamente sobre a paz, dias antes de ser declarada a guerra � Ucr�nia.
 
Para hastear a bandeira branca no mundo, por�m, primeiro temos de colocar a m�o no nosso cora��o e perdoar a n�s mesmos. O planeta precisa do nosso estado de esp�rito, da nossa boa vontade, de sermos mais leves, da nossa paz.

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