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Sopro de Deus

"Toma a penugem na m�o, com muito cuidado. J� ouviu dizer que, quando voc� v� uma pena de p�ssaro ca�da, significa que o seu anjo da guarda est� perto de voc�"


11/12/2022 04:00

Ilustração

 
Aconteceu outro dia mesmo. Ela estava no seu escrit�rio, tentando arranjar uma ideia para redigir a cr�nica, aflita para conseguir cumprir o prazo. A ansiedade batia na porta, pedindo passagem. De ombros curvados, focada na tela do laptop, n�o percebeu o sopro de inspira��o entrando pela janela. Tinha a forma de uma pluma branca, de apar�ncia fr�gil, min�scula. 
 
A peninha veio flutuando no ar, bem na sua frente. Foi descendo, descendo, at� aterrissar na imensid�o negra do teclado, povoado de letras e n�meros, �rido. Pousou sobre a superf�cie de pl�stico duro, exatamente em cima da tecla ‘pause’. Ela jura que � verdade.  
Por uns instantes, fica paralisada. Recebe o recado �bvio do universo, um aviso sutil, um delicado convite para que desse uma pausa no que estava fazendo. Inspira fundo, relaxa o corpo, sorri. Retorna ao estado de leveza. 
 
Toma a penugem na m�o, com muito cuidado. J� ouviu dizer que, quando voc� v� uma pena de p�ssaro ca�da, significa que o seu anjo da guarda est� perto de voc�. N�o � o caso desta vez. Observando melhor, verifica que n�o pode ser de p�ssaro. � pequena demais para isso. 
 
Parece ser o fragmento de um dente-de-le�o. Voc� conhece? � uma das esp�cies mais encantadoras da natureza. Nasce como mato, no meio de canteiros e lotes vagos. Ganha altura e se sobressai, exibindo sua c�pula branca, transl�cida, um pompom natural. 
 
O dente-de-le�o tem uma exist�ncia ef�mera, assim como a inspira��o. Ao menor sopro, vai embora para longe, levado pelo vento, sem paradeiro. Quando menos se espera, sobe at� uma altura de dois andares, invade a casa e passa ao largo da escrivaninha. Ent�o, perde a for�a e cai, finalmente, bem na frente do seu nariz. 
 
� algo improv�vel, mas acontece. Basta deixar as janelas abertas. E o cora��o. Alguma hora uma crian�a h� de encontrar um dente-de-le�o pelo caminho. Encantada, obriga a m�e a interromper a caminhada e a soltar as m�os dela. Corre para arrancar a plantinha, puxando-a pelo caule, sem pensar duas vezes.
 
Com o novo brinquedo, a crian�a enche bem as suas bochechas e sopra com for�a. Uma, duas, tr�s vezes. N�o descansa at� todas as pluminhas voarem, tomando rumo desconhecido. Ent�o, a m�e explica a ela que aquela flor � muito interessante e que tem o pr�prio mecanismo de espalhar  suas sementes pelo mundo.  
 
Um dia essa crian�a vai crescer e escrever uma cr�nica sobre o assunto. Em vez de apenas cultivar as mem�rias de inf�ncia, mantendo o encantamento, ela vai acionar sua mente adulta. Far� v�rias buscas no Go-   ogle, determinada a investigar a origem da planta.
 
Primeiro de tudo, descobre que a esfera branca n�o � uma flor, mas sim um fruto. Ou melhor, v�rios frutos. S�o bem leves e t�m uma pluma chamada de papilho, uma modifica��o do c�lice que os faz flutuar no ar, levados pelo vento. Suas plumas, portanto, n�o t�m a fun��o de levar as sementes para longe.
 
N�o importa. A poesia do dente-de-le�o permanece, mesmo ap�s descobrir o seu nome cient�fico – Taraxacum officinale. O termo officinale indica que a planta tem aplica��o medicinal. A flor amarela, que antecede ao fruto, � usada no preparo de um ch� amargo com propriedades diur�ticas e laxativas. 
 
No Nordeste brasileiro, � conhecida por "esperan�a”. Simboliza desprendimento, desapego. Diz a cultura popular que, ao colher o dente-de-le�o, a pessoa pode fazer um pedido e depois soprar. Se as pluminhas se desprenderem todas de uma s� vez, seu desejo ser� atendido. Ser�?
 
Segundo uma lenda irlandesa, o dente-de-le�o � a morada das fadas. Quando a Terra era habitada por gnomos, elfos e fadas, essas criaturas viviam livremente na natureza. A chegada do homem as for�ou a se refugiarem na floresta. J� as fadas, que usavam roupas muito chamativas, foram obrigadas a se tornar dentes-de-le�o para conseguir se camuflar sem perder a liberdade. 
 
Verdade ou n�o, fica a li��o de que as crian�as s�o muito inspiradas e s�bias. Colhem esperan�a, semeiam desejos, amam a natureza e acreditam em fadas.

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