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Estado de Minas Mais leve

Pudim

Como boa canceriana, vejo um filme mexicano passando na mente. Julgo a mim mesma no papel de m�e. Superprotetora, exagerada, dram�tica"


05/02/2023 04:00

Ilustração

 
Nossa casa ganhou um novo morador, que atende pelo nome de Pudim. Ou ainda vai atender, quando se entender por cachorro. Por enquanto, � apenas uma bolinha de pelo marrom, de um m�s e meio, da ra�a shih tzu. Parece um bichinho de pel�cia, manso e bom de apertar, menos na hora de dormir. Late sem parar.
 
Os filhotes choram igual a beb�s quando colocados no ber�o. � assim mesmo, informam dezenas de p�ginas da internet, duas veterin�rias, a mo�a do canil, a dona do pet shop e alguns amigos com experi�ncia em c�es. Sinceramente, n�o esperava revisitar o drama de consci�ncia vivido pela primeira vez h� 17 anos, e depois h� 12 anos, com meus filhos.
 
O que se deve fazer? Acudir o nen�m ou deix�-lo chorar at� dormir? � bom pensar r�pido, pois, nesse exato momento, Pudim est� latindo loucamente. D�i imaginar aquele pequeno ser sofrendo, sozinho no quarto dos fundos, rec�m-separado da m�e e do restante da ninhada. Se dependesse de mim, j� tinha ido l� socorrer aquela coisa fofa.
 
No entanto, a decis�o cabe aos meus filhos humanos, oficialmente designados como pais do Pudim. Para minha surpresa, os dois demonstram ter mais sangue-frio do que eu. “Mam�e, deixa o Pudim dentro do cercadinho. Ele precisa ficar l�. � para o bem dele”, argumentam os jovens, j� voltando para o videogame.
 
Seja por d� ou desconforto, aumentam o som do joguinho para abafar os latidos. Fecho a porta do escrit�rio para isolar o barulho, tentando me concentrar neste texto. A l�ngua co�a para acus�-los de ser insens�veis e disparar que ‘queria ver se eu tivesse feito isso com voc�s quando eram pequenos’. Seria uma fala absurda, total invers�o de pap�is. Consigo me controlar a tempo, mas tento me posicionar como adulta. Aposto que ningu�m pensou na parte pr�tica. Deram comida?
Trocaram a �gua da tigela? Deixaram a janela entreaberta para refrescar? E se tivesse algo errado com o cachorrinho?
 
Os dois tinham raz�o. N�o havia nada de estranho com o Pudim. Era s� a manha. Em menos de 5 minutos, ele para de latir. O bairro inteiro entra em estado de paz e a fam�lia j� pode ir para cama. Sucesso total. 
 
O bichinho d� sossego entre as 21h30 e as 6h. S� acorda com o nascer do Sol, superando a marca dos meus filhos quando beb�s.
 
Como boa canceriana, vejo um filme mexicano passando na mente. Julgo a mim mesma no papel de m�e. Superprotetora, exagerada, dram�tica. Agora, o jeito � aguentar o sorrisinho ir�nico dos meninos, o olhar de d� dirigido a mim: ‘Coitada dela, t�o boazinha!’
 
Ainda � cedo para comemorar. A primeira noite foi sorte de principiante. Nas madrugadas seguintes, o choror� continua. � s� fechar a porta do c�modo para iniciar o festival de aus aus insistentes, infinitos. Confesso que, na noite passada, eu sucumbi. Pudim j� estava latindo h� uns 40 minutos. Que d�! Fui l� tentar acalmar o bichinho.
 
Acendo a luz e verifico as condi��es do recinto. Tudo normal. Ser� fome? Ofere�o alguns gramas extras de ra��o para que ele pare de latir. Ignoro a regra do refor�o positivo, que ensina a dar comida apenas quando o animal para de latir, como recompensa. Se voc� der o pr�mio quando ele est� latindo, ele vai latir cada vez mais.
 
Faz sentido, mas n�o agora, em plena madrugada. Feliz da vida, Pudim come tudo. Quando acaba a ra��o, por�m, volta � estaca zero. Tento adotar a t�tica da indiferen�a. Sento no ch�o e fico apenas olhando para ele, sem mexer um m�sculo. Ele late ainda mais.
 
Tento distra�-lo com um brinquedinho canino, carrego no colo, canto uma m�sica de ninar.
Nada. No desespero, busco a playlist de m�sicas para acalmar cachorros do YouTube, indicada pela minha irm�. Deu certo com a Lunna, mas n�o funciona com o Pudim. Exausta, n�o sei mais o que fazer. Sem op��es, s� me resta tentar uma coisa. Fecho a porta do quarto e deixo o cachorrinho latir at� pegar no sono. Boa-noite, Pudim.

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