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Estado de Minas VITALidade

Nosso tempo � finito, mas a hist�ria que constru�mos n�o

A juventude n�o est� apenas na apar�ncia, mas no esp�rito que carregamos, nas li��es aprendidas, nos la�os criados e nos sonhos que desejamos realizar


23/10/2023 06:00 - atualizado 23/10/2023 10:00
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Idosa nadando em piscina
(foto: Zachtleven/Pixabay)

A fascina��o humana pela imortalidade e pela juventude eterna � t�o antiga quanto nossa pr�pria civiliza��o. Temos na mitologia in�meras narrativas que nos alertam sobre as consequ�ncias de desejar a eternidade sem compreender suas implica��es.

O mito de Eos e Tithonus � um tal aviso. Eos, encantada pelo mortal Tithonus, suplicou aos deuses que lhe dessem a d�diva da imortalidade. No entanto, ao negligenciar o pedido para que ele permanecesse jovem para sempre, assim como ela, involuntariamente ela o condenou ao envelhecimento eterno, de modo que sua ben��o se mostrou muito mais como uma maldi��o.

O Livro b�blico do Eclesiastes nos lembra que existe um momento na vida para cada prop�sito sob o c�u. H� uma ordem natural no universo que, quando desrespeitada, pode resultar em consequ�ncias indesej�veis.

Em nossa busca fren�tica para vencer a morte e o envelhecimento, muitas vezes acabamos por ignorar a beleza que existe na transitoriedade da vida. As flores, dotadas de uma beleza muito ef�mera, nos coloca para pensar sobre a imperman�ncia: o fato da flor ter uma vida curta nos convida a apreciar suas formas, cores e cheiros pelo m�ximo de tempo poss�vel, valorizando cada momento da sua r�pida exist�ncia.

Somos mais capazes de apreciarmos cada instante de nossas vidas quando entendemos que somos seres para a morte¸ como dizia Heidegger. Para o fil�sofo alem�o, a consci�ncia sobre a nossa finitude � de primordial import�ncia para compreendermos nossa pr�pria exist�ncia. Ao nos confrontarmos com nossa pr�pria extin��o, acabamos por buscar significado e prop�sito em nossas vidas, de modo que a finitude n�o � algo a ser temido, mas sim abra�ado, pois s� ela nos d� a perspectiva necess�ria para apreciarmos nossas vidas em plenitude.

Se temos a consci�ncia de que somos seres finitos, nos responsabilizamos de modo mais genu�no por nossa exist�ncia. � sob os ausp�cios da finitude que nossa consci�ncia confere dignidade e valor �s nossas vidas. A finitude � uma experi�ncia intr�nseca � nossa condi��o humana e nossa mortalidade, longe de ser uma maldi��o, � o que nos possibilita dar significado, urg�ncia e profundidade em nossas vidas.

Em nossas sociedades, h� uma busca incessante pela juventude eterna e uma luta � travada contra o envelhecimento, isto por meio de procedimentos est�ticos, dietas milagrosas e uma s�rie de tratamentos antienvelhecimento. Enquanto a medicina e a tecnologia avan�am, apresentando solu��es tempor�rias para frear o tempo, devemos nos questionar at� que ponto essa juventude que buscamos preservar n�o � muitas vezes desperdi�ada na incessante buscar de manter-se jovem.
A beleza do envelhecimento, muitas vezes negligenciada, reside na sabedoria e na experi�ncia, que s� v�m com o passar dos anos. Cada fase da vida tem sua pr�pria ess�ncia e beleza. Se a juventude � marcada pelas descobertas e pelas primeiras experi�ncias, a maturidade traz reflex�o, compreens�o e uma capacidade de apreciar a vida de modo mais profundo. 

Em sociedades que glorificam a juventude como sendo o �pice da exist�ncia, geralmente h� um temor irracional do envelhecimento. Esse medo, alimentado pela ind�stria da beleza e pelas m�dias sociais, muitas vezes desvia nossa aten��o daquilo que � genu�no em nossas vidas; e com isto corremos o risco de viver em constante estado de insatisfa��o, sempre buscando a pr�xima solu��o para nos mantermos sempre jovens. 

Ao nos confrontarmos com o espelho do tempo e com nossa finitude, devemos nos perguntar o que realmente define nossa ess�ncia. A juventude n�o est� apenas na apar�ncia, mas no esp�rito que carregamos conosco, nas li��es aprendidas, nos la�os criados e nos sonhos que ainda desejamos realizar. A verdadeira juventude est� na capacidade que temos de nos reinventarmos todos os dias, de aprender continuamente e de amar apaixonadamente, independentemente da idade.

Ao inv�s de temermos o inevit�vel avan�o dos anos, devemos celebrar as experi�ncias que ele nos traz, reconhecendo que cada ruga conta uma hist�ria, cada cicatriz � um testemunho de resist�ncia e cada sorriso � um lembrete de que a vida, em todas as suas fases, � uma d�diva a ser apreciada em sua totalidade. 

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