� comum a compara��o entre a pol�tica e o xadrez. Em ambos, a sagacidade dos jogadores de anteverem as jogadas dos oponentes e, ent�o, escolherem suas op��es de movimentos � a diferen�a entre a vit�ria e a derrota. Um dos maiores mestre enxadristas da hist�ria foi o russo Garry Kasparov, que acumulou 15 anos sem saber o que era uma derrota. Na pol�tica nacional, � dif�cil encontrar quem discorde de que Gilberto Kassab tamb�m seja mestre em seu of�cio.
O lance da �ltima semana de Kassab foi a tentativa de atrair o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), para seu Partido Social Democr�tico (PSD). Esse movimento tem impactos diversos e se origina de uma circunst�ncia que n�o est� no seu controle. Como em qualquer jogo de xadrez, � necess�rio mudar de estrat�gia quando mudam as circunst�ncias.
A circunst�ncia que mudou no jogo de Kassab foi a poss�vel sa�da de Rodrigo Pacheco da corrida presidencial antes do que seria o ideal. O plano evidentemente nunca foi eleger Pacheco, mas dar A Kassab um �libi para ficar neutro no primeiro turno. Caso Pacheco permanecesse em campanha, o PSD poderia se manter neutro na disputa entre Bolsonaro e Lula.
A neutralidade � importante para Kassab, pois seu partido � uma agremia��o por conveni�ncia nada ideol�gica. No sul do Brasil, o PSD tem expoentes conservadores, como o governador do Paran�, Ratinho J�nior. No Nordeste, o partido tem quadros com vi�s de oposi��o, como o senador baiano Otto Alencar. Sendo assim, ter um �libi no primeiro turno � vital para manter a unidade do partido.
Com a sa�da de Pacheco do tabuleiro – j� que a aventura eleitoral come�ava a atrapalhar seu real objetivo, que � a reelei��o para a presid�ncia do Senado – Kassab precisava de outra pe�a. Foi nesse contexto que o nome de Eduardo Leite apareceu.
Para Eduardo Leite, a disputa pela Presid�ncia da Rep�blica e a chance de se tornar conhecido nacionalmente, compensam a grande possibilidade de ficar quatro anos sem mandato. Isso n�o chega a ser nenhuma cat�strofe para um pol�tico de 36 anos. Mas, para Kassab, al�m do �libi eleitoral, existe um outro objetivo no flerte do PSD com Leite: tirar quadros do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Em mar�o, come�a a janela partid�ria. Durante um m�s, deputados federais, estaduais e distritais poder�o trocar de partido para concorrer ao pleito deste ano sem perder o mandato. Todos sabem o quanto o PSDB est� em frangalhos depois da disputa nas pr�vias entre Jo�o Doria e o pr�prio Eduardo Leite, sendo um momento excelente para a ofensiva de Kassab sobre seus quadros. O movimento j� parece ter surtido efeito.
Jos� An�bal, quadro hist�rico do PSDB, em entrevista, na �ltima quinta-feira, ao jornal Valor Econ�mico, se manifestou sobre a sa�da de Leite do partido: “N�o tiro as raz�es dele”. An�bal ressalta que mesmo sua situa��o no partido � incerta. “Meu prop�sito � seguir no PSDB. Mas n�o adianta continuar para ser carregador de caix�o”, disse.
Mesmo a aproxima��o de Kassab com Lula n�o fica prejudicada pelo lan�amento da campanha de Leite. Quanto mais fragmentada for a campanha da centro-direita, melhor para o ex-presidente. Com a vantagem de que, caso Leite suba nas pesquisas, o mais prov�vel � que tire votos que iriam para Bolsonaro.
Em uma s� jogada, Kassab mant�m a unidade do seu partido, atrapalha ainda mais a situa��o de um partido concorrente e mant�m a porta aberta no caso de uma elei��o de Lula. Kasparov ficaria orgulhoso.
Interessante que Kasparov buscou durante muito tempo o ativismo pol�tico em oposi��o � Vladimir Putin, mas, em 2014, se naturalizou croata e disse que n�o retornaria mais ao seu pa�s natal. Talvez se o mestre enxadrista tivesse umas aulas com o pol�tico brasileiro o desfecho pudesse ser um pouco diferente.