
O Banco Gen�tico da Embrapa j� salvou os �ndios da tribo Krah�, que vivem no Norte do Tocantins. A comunidade n�o conseguia cultivar a variedade espec�fica de milho que consumia h� muitas gera��es. H� duas d�cadas, vieram, primeiro, os t�cnicos da Funda��o Nacional do �ndio (Funai) para verificar a disponibilidade do gr�o especial. Depois, o cacique esteve pessoalmente na Embrapa, com um grupo da comunidade, para fazer a solicita��o inusitada para os padr�es ind�genas. O l�der da tribo Krah� saiu do Banco Gen�tico da Embrapa com um lote contendo 100 sementes do milho.
No ano seguinte, a surpresa. O mesmo grupo voltou � Embrapa, mas, dessa vez, para devolver as sementes que j� tinham sido multiplicadas pela comunidade no seu habitat natural, em Tocantins. A entrega foi marcada pelo agradecimento, reverenciamento e at� uma certa idolatria aos t�cnicos da Embrapa – deuses da multiplica��o. “Se algum dia n�s perdermos as nossas sementes, sabemos que poderemos voltar aqui novamente para buscar”, sentenciou o cacique, entre l�grimas.
Os relatos acima retratam os objetivos de um banco gen�tico. Ele serve para garantir diversidade de um certo tipo de semente, conservando, assim, as diferentes caracter�sticas nutricionais, sabor, resist�ncia a doen�as, capacidade de adapta��o a diferentes climas, solos e regi�es. Serve, tamb�m, para a conserva��o de esp�cies relacionadas � alimenta��o e � agricultura, foco do banco da Embrapa. “Nosso trabalho vai al�m da preserva��o das esp�cies. Nos preocupamos com a diversidade gen�tica que existe dentro de uma esp�cie. Por exemplo, mesmo no caso do milho, uma esp�cie largamente cultivada, h� risco de perda de diversidade”, explica o engenheiro agr�nomo Juliano Gomes P�dua, curador do Banco Gen�tico da Embrapa.
N�O ESQUECIDAS Apesar da natureza do trabalho realizado no banco gen�tico da Embrapa ser a conserva��o de alimentos de grande import�ncia na economia, as demais esp�cies, menos populares, n�o s�o esquecidas. Variedades consideradas de pouca express�o econ�mica, as denominadas esp�cies negligenciadas, como jil�, maxixe e quiabo, entre outras, tamb�m t�m espa�o no local.
Fora do circuito alimenta��o/agricultura, o Banco de Gen�tica da Embrapa se d� ao luxo de conservar brom�lias que foram coletadas h� mais de 30 anos, no local onde est� localizado, hoje, o lago da Hidrel�trica de Itaipu. Passadas tr�s d�cadas, os testes realizados constataram que as sementes est�o com a totalidade percentual de germina��o, ou seja, n�o houve perdas para a germina��o das brom�lias.
PARCERIA INTERNACIONAL Quinto maior banco gen�tico de sementes do mundo, o banco da Embrapa re�ne uma esp�cie de c�pia do manancial gen�tico dos 150 bancos de conserva��o mantidos pela empresa em todo o pa�s. No acervo, est�o, inclusive, 31 esp�cies amea�adas de extin��o. A Colbase, como � denominado o Banco Gen�tico da Embrapa, em refer�ncia � cole��o de base, recebe, tamb�m, material enviado por institui��es parceiras do Brasil e do exterior. As instala��es, em Bras�lia, compreendem quatro c�maras frias para conserva��o de sementes a longo prazo, c�maras para conserva��o de plantas in vitro e salas de criotanques para conservar recursos gen�ticos vegetais, animais e microbianos. Periodicamente, s�o realizados testes para avaliar a qualidade fisiol�gica e sanit�ria do material gen�tico conservado.
Os recursos gen�ticos vegetais s�o conservados no Banco Gen�tico de tr�s formas – sementes ficam em c�maras a temperaturas de 20 graus abaixo de zero. J� as esp�cies cujas sementes n�o resistem a baixas temperaturas ou que n�o s�o cultivadas por meio de sementes, a conserva��o � feita em tubos de ensaios, ou em condi��es criog�nicas, a uma temperatura de -196°C. Ainda este ano ser� implantada a Cole��o Criog�nica Vegetal. “A popula��o n�o conhece a ci�ncia que existe por tr�s de um prato de comida. S�o doen�as e pragas que conseguimos debelar, variedades que foram adaptadas �s nossas condi��es clim�ticas, melhoramento gen�tico. Todo um trabalho foi feito com o alimento at� chegar ao agricultor e depois para a popula��o”, explica Juliano Gomes P�dua.
Contribui��o para o agroneg�cio
Os microrganismos tamb�m t�m lugar no banco gen�tico. Eles podem ser usados em programas de melhoramento gen�tico de plantas para sele��o de variedades resistentes – e de interesse para a agroind�stria e produ��o animal. A conserva��o desse tipo de material gen�tico deve ser feita dentro do maior rigor, em conformidade com os padr�es internacionais, garantindo, assim, a acessibilidade, a longo prazo, para estudos de aplica��o no agroneg�cio e demais setores produtivos.
As culturas microbianas s�o importantes para as pesquisas sobre temas diversos, como tratamento de doen�as, produ��o de vacinas para aplica��o em seres humanos e animais, gera��o de energia renov�vel e redu��o do impacto ambiental. No setor agr�cola, avan�am as pesquisas para solu��es, a partir de microrganismos, capazes de reduzir a libera��o de produtos qu�micos no ambiente e para aumentar o rendimento das culturas agr�colas, como inseticidas, herbicidas, fungicidas, biorremediadores e promotores de crescimento de plantas.
S�o mantidas 5.023 amostras microbianas nas cole��es da Embrapa. As cole��es incluem esp�cies com potencial para o controle biol�gico de pragas, doen�as e insetos vetores de doen�as, entre outros. A criopreserva��o, que � um m�todo de congelamento, � usada para a conserva��o de s�men, embri�es, DNA e tecidos de animais. Botij�es de nitrog�nio l�quido a temperaturas que v�o de 80°C negativos a 196 graus abaixo de zero s�o usados para a conserva��o desses materiais gen�ticos animais. No banco gen�tico se encontram amostras de ra�as consideradas localmente adaptadas de bovinos, su�nos, caprinos, ovinos, bubalinos, asininos e equinos.
RA�AS COMERCIAIS Em breve, a Embrapa passar� a oferecer espa�o em seu banco gen�tico para o armazenamento de s�men, com �nfase em linhagens formadoras das ra�as comerciais que v�m sendo subutilizadas. Esse material gen�tico ser� conservado a longo prazo, mediante a assinatura de acordo de dep�sito padr�o, que garante a propriedade do depositante e a n�o manipula��o pela Embrapa.
Dados da Organiza��o das Na��es Unidas para a Alimenta��o e a Agricultura (FAO), o bra�o da ONU que lidera os esfor�os internacionais de erradica��o da fome e da inseguran�a alimentar, atualmente existem 1.750 bancos de sementes instalados em mais de 100 pa�ses. Na Noruega est� localizado o Banco Global de Svalbard, o maior do mundo, com a nobre miss�o de conservar, a longo prazo, uma c�pia de seguran�a de cada esp�cie vegetal do planeta. O Banco Gen�tico da Embrapa j� enviou amostras de arroz, feij�o e milho para o banco noruegu�s. A import�ncia do banco global pode ser percebida nas situa��es de destrui��o, guerras ou cat�strofes de um pa�s, como ocorreu com a S�ria, que teve o seu banco de sementes destru�do. O pa�s, no entanto, conseguiu recuperar boa parte do material gen�tico porque tinha amostras no banco da Noruega.
TESTES NO ESPA�O
A Embrapa forneceu as amostras da �rvore gon�alo-alves (Astronium fraxinifolium) que foram usadas em um experimento na Esta��o Espacial Internacional. Em mar�o de 2006, as sementes foram levadas ao espa�o pelo astronauta brasileiro Marcos Pontes (foto), durante a Miss�o Centen�rio, que reunia oito experimentos cient�ficos brasileiros para a realiza��o em ambiente de microgravidade. A �rvore, que � conhecida no pa�s tamb�m pelos nomes de aroeira-do-campo, aratanha, chibat� e bat�o, pode atingir at� 12 metros de altura. No experimento no espa�o suas sementes germinaram mais rapidamente do que na terra.