
Detox � uma abrevia��o para desintoxica��o. Desde a alimenta��o at� a organiza��o da casa, tudo pode passar por uma fase de desapego. Segundo Tha�s Augusta Martins, neurologista do Hospital Santa L�cia e membro titular da Sociedade Brasileira de Neurologia, o uso prolongado do telefone pode ter consequ�ncias graves para a sa�de do usu�rio. “Al�m de causar depend�ncia, pode afetar a mem�ria, a capacidade de concentra��o e o sono”, explica a m�dica.
A professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Bras�lia (UnB) Wilsa Maria Ramos ainda acrescenta que a conex�o exagerada com as redes sociais pode comprometer a autoestima, aumentar o estresse e influenciar o consumo. “Muitos dos meus alunos perceberam que estavam se sentindo mais deprimidos e, consequentemente, adoecendo quando ficavam muito tempo on-line”, ela conta. Para Wilsa, � importante entender qual � o tipo de perfil de cada usu�rio e, assim, fazer as mudan�as necess�rias. “Existem o cr�tico; o pol�tico; o que apenas consome conte�do e o que entra nas redes para se entreter”, completa a professora. “� fundamental entender cada uma das motiva��es para se conectar.”
Caracteriza-se como usu�rio frequente quem passa mais de quatro horas por dia no celular, seja nas m�dias sociais, seja em qualquer outra atividade on-line. De acordo com a neurologista Tha�s, alguns sinais que indicam depend�ncia comportamental s�o a necessidade de estar conectado cada vez mais tempo; a perda de interesse por outras atividades; a sensa��o de al�vio de ansiedade ao usar o telefone; a frustra��o ao tentar parar ou diminuir o uso, sem sucesso. “N�o existe um consenso sobre o tempo ideal de uso o celular, mas se o h�bito tiver afetando seu sono ou seu foco ao realizar atividades cotidianas, j� � um sinal vermelho”, aleta a m�dica.
Existem alguns grupos de risco em rela��o ao uso de smartphones. “Pessoas com ansiedade e depress�o podem usar o telefone e as redes com mais frequ�ncia”, explica a professora Wilsa. Crian�as tamb�m precisam ser supervisionadas ao utilizarem equipamentos eletr�nicos, como celulares, tablets ou computadores. “� preciso observar se as tecnologias comprometem o desenvolvimento cognitivo ou as rela��es interpessoais delas”, alerta Tha�s.
COMPLETAMENTE DESLIGADO
Mas h� quem esteja no momento inverso. A estudante de direito Giovanna Barbosa, de 20 anos, resolveu dar um tempo no Instagram, rede social que usava com frequ�ncia. Ela percebeu que compartilhar fotos e v�deos de momentos especiais estavam se tornando mais importante do que viv�-los. Tamb�m se despediu do Twitter e do Facebook. A abstin�ncia dura mais de quatro meses. “Assim que apaguei o aplicativo, percebi que meus dedos o procuravam involuntariamente no celular, quase como por instinto.”
Esse tempo off-line fez a mo�a refletir sobre o consumo constante de informa��es desnecess�rias e o relacionamento com os amigos e a fam�lia. “Nunca vou caber num feed de Instagram. A minha complexidade, profundidade e realidade nunca vai poder ser transmitida totalmente em qualquer que seja a forma que eu organize minhas fotos”, constata. “Entender isso na pr�tica foi bom e tirou o peso da vontade inconsciente de produzir algum tipo de conte�do.”
O estudante de direito Arthur Zaire, de 18, deixou as redes no dia das elei��es, em outubro do ano passado. “Aquilo estava me fazendo muito mal e comecei a me preocupar com minha sa�de mental”, ele conta. Arthur fez um detox digital de 17 dias e conta que, no come�o, foi um choque, mas depois se acostumou. Logo, percebeu que tinha mais tempo para se dedicar aos trabalhos da faculdade e a hobbies, como a leitura. Depois desse per�odo, ele voltou para as redes, mas conta que est� em fase de readapta��o. “Hoje, passo cerca de duas horas por dia nas m�dias sociais”, diz.
VICIADOS
Segundo a professora Wilsa Maria, a melhor maneira de reavaliar o relacionamento com as redes sociais � se afastando por certos intervalos de tempo. “O mais interessante � se desconectar de tudo, voltar a ter um celular e n�o um smartphone”, sugere. Dessa maneira, � poss�vel entender o por que de se gastar tanto tempo rolando os feeds de not�cias durante o dia e, assim, fazer um uso mais consciente dos aplicativos. “A m�quina n�o pode te controlar.”
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), 64,7% da popula��o tinha acesso � internet em 2016. A ag�ncia americana We Are Social divulgou estudo feito em 2017, que mostrava que os brasileiros s�o o terceiro povo que mais usa a internet, em um total de nove horas di�rias. Dessas, mais de tr�s horas s�o dedicadas ao uso de redes sociais. Os brasileiros somavam 127 milh�es de usu�rios ativos mensais no Facebook, em 2018, e 50 milh�es no Instagram, em 2017.