
Termo pouco conhecido, a iatrogenia ou o dano causado ao paciente devido � intera��o medicamentosa inadequada est� na ordem do dia. Isso porque, no cotidiano moderno, alguns fatores v�m contribuindo para a maior incid�ncia do problema. Um deles � o aumento na expectativa de vida da popula��o. Frente ao envelhecimento, � cada vez mais comum o tratamento e controle para diversos problemas de sa�de, uma polifarm�cia associada (mais de cinco medicamentos de uso cont�nuo). “Como o paciente frequenta m�dicos de especialidades diferentes e nem sempre fala sobre o pr�prio hist�rico cl�nico a cada consulta, o profissional pode desconhecer ou mesmo negligenciar o risco de prescrever medicamentos inadequados e/ou incompat�veis aos que ele j� faz uso”, aponta Bruno Brand�o Dias, m�dico p�s-graduando em geriatria.
N�o se trata de uma doen�a. No entanto, a iatrogenia j� � considerada uma s�ndrome geri�trica, por ser muito comum em idosos, que j� apresentam naturalmente mais dificuldade de metabolizar medicamentos. Segundo Dias, o problema ocorre muito no interior (em localidades em que a popula��o n�o tem tanto acesso �s informa��es e ao servi�o de sa�de), por falta de atualiza��o do profissional e ainda por problemas como a automedica��o, entre outros. O m�dico explica que o risco de iatrogenia � ainda mais frequente em pacientes que fazem tratamentos cont�nuos de doen�as psiqui�tricas, card�acas, no controle do colesterol ou press�o alta, entre outras.
Boa not�cia � que o problema pode ser minimizado ou at� evitado a partir da ado��o de alguns cuidados. “Profissionais de sa�de que buscam atualiza��o est�o inteirados � preven��o patern�ria, ou seja, o uso de medicamentos s� com real indica��o. Sabemos que toda medica��o tem efeito colateral. Assim, � necess�rio avaliar caso a caso, benef�cios x riscos, fazer uma anamnese segura.”
O PAPEL DO PACIENTE
Maria Cristina Soares Brand�o, enfermeira e administradora hospitalar, diretora comercial e t�cnica da Viver Essencial Home Care, afirma que a aten��o do paciente e/ou familiar com a prescri��o medicamentosa � fundamental para minimizar os riscos de iatrogenia.
Com experi�ncia de mais de 30 anos na �rea, ela afirma que � comum encontrar um paciente tomando dois rem�dios de nomes diferentes, mas com a mesma subst�ncia ativa e para o mesmo fim. Ou medicamentos incompat�veis. “O ideal � que a fam�lia conte com um m�dico gestor para cuidar do idoso de forma global, que possa avaliar o quadro cl�nico como um todo, de prefer�ncia um geriatra. Tamb�m penso que os farmac�uticos precisam trabalhar em conjunto com o m�dico e em visitas regulares aos pacientes.”
Mas ela reconhece que, muitas vezes, a fam�lia n�o pode arcar com custos para um tratamento individualizado com um m�dico gestor. E � a� que a fam�lia ou o pr�prio paciente t�m papel important�ssimo. “A organiza��o na administra��o dos rem�dios � fundamental. Indico que cada paciente deva fazer uma lista com todos os medicamentos dos quais faz uso e a mostre ao m�dico a cada consulta. A observa��o de sintomas como tonteira, enjoos, confus�o mental, dor de cabe�a, letargia, erup��es na pele ou dificuldade de marcha (para caminhar) tamb�m devem ser observadas.”
Entre os profissionais de sa�de, a enfermeira lembra da import�ncia da ado��o de cuidados como o Crit�rio de Beers – listagem de medicamentos considerados inapropriados ou pouco seguros para serem administrados em idosos – e o Crit�rio de Stopp Start, ferramenta de rastreio que ajuda m�dicos e farmac�uticos a identificar potenciais erros na prescri��o de medicamentos em rela��o ao peso do paciente, idade, patologias e dosagem. “Nosso papel � divulgar e falar sobre a iatrogenia para que a popula��o e os profissionais de sa�de passem a adotar a��es mais seguras em rela��o ao uso de rem�dios que podem causar danos aos pacientes.”
EM JOVENS
Mas n�o apenas os idosos devem estar atentos � iatrogenia, que pode afetar pacientes de qualquer faixa et�ria. Exemplo � o da publicit�ria J�ssica Henschke, de 27 anos, que desenvolveu �lcera medicamentosa durante um longo tratamento contra a endometriose. “Percebi que havia algo errado ao sofrer com dores de est�mago muito fortes, que me levaram ao hospital. O quadro ocorreu num p�s-cir�rgico complicado, com inflama��o do �tero, quando precisei fazer uso de muitos medicamentos ao mesmo tempo. Hoje, diminu� 70% do arsenal, fiz reeduca��o alimentar e percebi o quanto � importante estar atenta � prescri��o m�dica e ao uso correto dos rem�dios, no hor�rio certo e ap�s me alimentar de forma correta. Inclusive, passei a buscar outras alternativas, como a homeopatia, e n�o correr para o rem�dio por qualquer motivo”, avalia.
"Indico que cada paciente deva fazer uma lista com todos os medicamentos dos quais faz uso e a mostre ao m�dico a cada consulta”
. Maria Cristina Brand�o,
enfermeira e administradora hospitalar
cinco perguntas para...
Caroline Adelino
farmac�utica da unidade de
interna��o do Hospital Lifecenter
A iatrogenia n�o � uma doen�a, certo?
N�o � uma doen�a. Trata-se mais de efeitos adversos de um tratamento. A intera��o medicamentosa pode ser um desses danos. Ela ocorre quando uma pessoa faz uso de mais de um medicamento e as subst�ncias contidas nesses f�rmacos geram uma rea��o. Nesse caso, a iatrogenia � por consequ�ncia do uso de medicamentos. � importante lembrar tamb�m que a intera��o n�o ocorre quando os medicamentos s�o ingeridos juntos ou apenas no mesmo dia. Algumas subst�ncias podem ficar biodispon�veis no organismo por dias, aumentando a chance de ocorrer essa intera��o.
H� exemplos de subst�ncias sempre incompat�veis em tratamentos m�dicos ou isso varia de paciente para paciente?
� importante destacar que a intera��o medicamentosa � um tipo de rea��o causada por um medicamento. Muitas delas est�o descritas nas bulas pela ind�stria farmac�utica. Elas podem ou n�o ocorrer e variam de acordo com o organismo. Apesar de essa varia��o ser individual, farmac�uticos, m�dicos e enfermeiros j� t�m mapeados, de acordo com estudos, subst�ncias de grande intera��o entre si. Um risco que pode ser recorrente na situa��o ambulatorial e dom�stica est� relacionado ao uso do Omeprazol – um protetor g�strico – com o Clopidogrel – um antiagregante plaquetar que atua na preven��o de trombose arterial. O uso combinado desses f�rmacos pode ter consequ�ncias graves. O Omeprazol pode reduzir o efeito do Clopidogrel e levar o paciente a um problema card�aco, at� mesmo a um infarto.
Podemos listar os sintomas mais comuns?
Na intera��o medicamentosa, um rem�dio pode anular o efeito do outro, pode aumentar o efeito ou levar a um efeito secund�rio que, se for negligenciado, o m�dico pode achar tratar-se de um novo problema de sa�de e n�o de um efeito consequente do medicamento.
Quais cuidados o m�dico deve ter ao propor um tratamento para pacientes?
O m�dico e o farmac�utico procurado no balc�o de uma farm�cia devem avaliar quais os medicamentos o paciente j� faz uso em casa e, dessa forma, ver se a nova prescri��o n�o vai interagir. Os profissionais da sa�de devem sempre orientar os pacientes em rela��o aos riscos do uso combinado dos medicamentos. Muitas vezes, o paciente n�o sabe dessas intera��es, ent�o, m�dicos e farmac�uticos devem sempre ter como h�bito perguntar sobre o uso de outros medicamentos para prever intera��es e evitar danos.
E os pacientes, quais cuidados devem ter para evitar a iatrogenia?
O paciente deve ser sincero ao informar quais medicamentos faz uso em domic�lio, o que ingeriu esporadicamente naquele dia ou naquela semana antes de uma interna��o ou novo tratamento de sa�de. � preciso ter em mente que as intera��es ocorrem at� com medicamentos isentos de prescri��o m�dica. Ent�o, � mais um ponto de aten��o para evitar a automedica��o.
Arquivo pessoal