
O programa fitoter�pico Farm�cia Viva, no SUS Betim, desenvolvido pela prefeitura desde 2004, recebeu, em junho de 2006, um pr�mio nacional do Minist�rio da Sa�de sobre projetos inovadores que d�o certo no sistema p�blico de sa�de. Profissionais da rede municipal, como m�dicos, enfermeiros, farmac�uticos e odont�logos, foram capacitados em fitoterapia e o projeto s� evolui. Pode receber o medicamento quem tiver a receita m�dica prescrita por esses profissionais e o pedido � feito nas unidades b�sicas com sa�de da fam�lia e nas unidades b�sicas de sa�de. A iniciativa do programa partiu da percep��o de farmac�uticos da rede municipal, ouvindo o relato dos agentes comunit�rios de sa�de de que muitas pessoas estavam trocando, por conta pr�pria, os medicamentos tradicionais por plantas medicinais. O problema � que, em muitos casos, o uso dessas plantas ocorria de forma errada. Da� a necessidade da capacita��o.
Jaqueline Guimar�es, farmac�utica e respons�vel t�cnica pelo programa Farm�cia Viva, explica que, em 2004, o programa iniciou suas atividades fazendo o levantamento etnobot�nico no munic�pio, a fim de selecionar as plantas medicinais que seriam padronizadas para a implanta��o definitiva da fitoterapia no SUS/Betim. “Inicialmente, eram manipuladas pouco mais de 100 unidades de medicamentos ao m�s. Essa produ��o foi aumentando gradativamente, ano a ano, at� atingirmos a produ��o de 6.300 unidades/m�s, totalizando 76 mil unidades de medicamentos fitoter�picos manipulados e dispensados em 2018. Tivemos tamb�m a amplia��o de formula��es manipuladas, que, hoje, totalizam 83 formula��es a partir de 25 plantas medicinais, atuando no sistema nervoso central, respirat�rio, geniturin�rio, digest�rio, cardiovascular e aquelas cicatrizantes e anti-inflamat�rias para uso t�pico no tratamento de feridas e afec��es da pele.”
H� v�rios relatos de m�dicos e enfermeiros sobre a melhora das condi��es de sa�de dos usu�rios a partir dos fitoter�picos. Alguns casos eficientes, como o uso da c�psula de �leo de alho para diminuir o colesterol, a pomada de cal�ndula para curar feridas e o gel de cal�ndula com barbatim�o para melhorar aftas na boca. Ao longo do tempo, conta Jaqueline Guimar�es, algumas formula��es foram modificadas, como � o caso do creme de barbatim�o, que foi acrescido de �leo de girassol, ou foram criados novos produtos, como as farinhas funcionais e os sach�s de plantas medicinais desidratadas para o preparo de ch�s, entre eles o de folha de amora para os sintomas da menopausa e o capim-cidreira para as gestantes do bloco obst�trico da maternidade p�blica.
“As farinhas funcionais foram desenvolvidas para prescri��o, principalmente, pelos nutricionistas, em situa��es cl�nicas como hipercolesterolemias, diabetes, pris�o de ventre e preven��o e tratamento de doen�as do intestino, entre outras. S�o elas: farinha de maracuj�, de berinjela e de banana verde. Outra inova��o foi a lo��o repelente de citronela + andiroba copa�ba, cujo p�blico-alvo s�o as gestantes do munic�pio. Essa lo��o � preparada a partir de �leos essenciais, com comprovada a��o repelente e, por se tratar de um produto natural, n�o desencadeia rea��es al�rgicas em pacientes sens�veis”, destaca a farmac�utica.
Agentes comunit�rios
O que tamb�m merece destaque, enfatiza Jaqueline Guimar�es, � o envolvimento dos agentes comunit�rios, porque “s�o eles que nos relatam d�vidas dos usu�rios sobre o uso das plantas medicinais, as formas inadequadas e at� sobre plantas n�o recomendadas. Por�m, na constru��o do projeto, vale dizer que foram os farmac�uticos que detectaram o uso indiscriminado das plantas medicinais pela popula��o e a necessidade de orientar esse uso, de forma a garantir seguran�a e efic�cia dos tratamentos”. Vale registrar que os usu�rios, ao receber suas receitas de fitoter�picos, a entregam na farm�cia da pr�pria unidade de sa�de. Ela ser� recolhida no dia seguinte pelo motorista do Farm�cia Viva, e, dentro de um a dois dias �teis, o medicamento ser� entregue na unidade de sa�de de origem para dispensa��o ao usu�rio.
Jaqueline Guimar�es conta que, depois de 15 anos de evid�ncia cl�nica, “a grande ades�o � fitoterapia no munic�pio fez com que a produ��o do Farm�cia Viva crescesse quase 400% no per�odo de 2012 a 2018, o que demonstra a confian�a e a seguran�a dos prescritores e dos pacientes na utiliza��o das plantas medicinais e dos fitoter�picos”.
Depoimentos
Nova Jersey C. Oliveira, enfermeira, servidora do Hospital P�blico Regional de Betim
“Para a definitiva inser��o da fitoterapia no SUS/Betim, iniciou-se a educa��o continuada em fitoterapia para os profissionais graduados. Foi com essa oportunidade que iniciei minha qualifica��o e solidifica��o no conhecimento dos fitoter�picos. Atuando no CTI do Hospital Regional de Betim, institui��o vocacionada para o atendimento ao paciente v�tima de trauma, ampliei meu arsenal terap�utico com os fitoter�picos no tratamento das diversas feridas. O sucesso no resultado apresentado me acompanha por aproximadamente 15 anos. J� tratei feridas de dif�cil manejo com formula��es fitoter�picas, como queimaduras, feridas traum�ticas, vasculares, feridas oncol�gicas, s�ndrome de Steven-Johnson. A utiliza��o dessas formula��es para hidrata��o e manuten��o da integridade cut�nea no ambiente hospitalar � tamb�m uma das possibilidades terap�uticas.”
“Para a definitiva inser��o da fitoterapia no SUS/Betim, iniciou-se a educa��o continuada em fitoterapia para os profissionais graduados. Foi com essa oportunidade que iniciei minha qualifica��o e solidifica��o no conhecimento dos fitoter�picos. Atuando no CTI do Hospital Regional de Betim, institui��o vocacionada para o atendimento ao paciente v�tima de trauma, ampliei meu arsenal terap�utico com os fitoter�picos no tratamento das diversas feridas. O sucesso no resultado apresentado me acompanha por aproximadamente 15 anos. J� tratei feridas de dif�cil manejo com formula��es fitoter�picas, como queimaduras, feridas traum�ticas, vasculares, feridas oncol�gicas, s�ndrome de Steven-Johnson. A utiliza��o dessas formula��es para hidrata��o e manuten��o da integridade cut�nea no ambiente hospitalar � tamb�m uma das possibilidades terap�uticas.”
Elizabeth Nascimento Rodrigues, m�dica da fam�lia na UBS Novo Amazonas, SUS/Betim
“Minha experi�ncia em rela��o ao uso de fitoter�picos na aten��o b�sica se deu com base na rejei��o de alguns pacientes ao uso de alguns medicamentos da forma como eram prescritos. Eles tinham resist�ncia de us�-los. Diziam que n�o eram naturais. Com os fitoter�picos, ouvi relatos de serem da farm�cia da natureza. Ent�o, eram medicamentos mais aceitos por alguns pacientes. Principalmente crian�as, idosos e as mulheres no climat�rio. Os medicamentos mais utilizados s�o xarope de guaco (expectorante, antituss�geno), tintura de melissa (sedativo) e de passiflora (ansiol�tico), tintura de camomila (para afec��es gastrointestinais), tintura de Hypericum perforatum (antidepressivo leve), folha de amora (reduz fogachos da menopausa), tintura de Equisetum arvensi (diur�tico), tintura de Maytenus ilicifolia (para gastrite), entre outros.”

Diversidade de cura
O Instituto Kair�s � uma organiza��o sem fins lucrativos, sediada em Nova Lima, que atua h� 16 anos fortalecendo redes de educa��o popular e cultura tradicional nas comunidades em que atua. Em 2004, a ONG iniciou o desenvolvimento de sua Tecnologia Social Farm�cia Viva, com o objetivo de valorizar o conhecimento tradicional e as pr�ticas populares em sa�de, por meio de Arranjos Produtivos Locais (APL), com foco na implanta��o e sustenta��o do servi�o de fitoterapia no Sistema �nico de Sa�de (SUS). Fortalecida por redes colaborativas de desenvolvimento social e validada por m�todos cient�ficos, a farm�cia � respaldada por uma pol�tica p�blica nacional de sa�de, recomendada pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS), Minist�rio da Sa�de (MS) e regulamentada pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) para sua implementa��o no SUS.
A farmac�utica Ana Cimbleris explica que os conhecimentos sobre cuidados em sa�de por meio das plantas, desde os tempos mais antigos, v�m sendo transmitidos de gera��o para gera��o e propiciando a sa�de, tanto no �mbito individual quanto no coletivo. “A associa��o do uso das plantas com ‘crendices’ e ‘simpatias’ que alguns fazem hoje � originada de um processo hist�rico que, aos poucos, vem sendo revertido, trazendo a cultura de uso das plantas para o status de ci�ncia e n�o de misticismo. O uso incorreto das plantas medicinais tamb�m contribui para essa vis�o. Se as pessoas n�o obt�m o benef�cio esperado das plantas que utilizam, �s vezes, acabam concluindo que a fitoterapia de modo geral � ineficaz ou apenas uma crendice. Os principais fatores que colaboram para esse uso inadequado s�o as propagandas das plantas ‘milagrosas’, que n�o t�m base na tradi��o e nem na ci�ncia, assim como o com�rcio de produtos de qualidade duvidosa.”
Segundo dados da Organiza��o Mundial de Sa�de, 70% a 90% da popula��o nos pa�ses em desenvolvimento depende das plantas medicinais para atender �s suas necessidades b�sicas de tratamento em sa�de. “Em alguns pa�ses, a prescri��o de fitoter�picos � maior do que a de medicamentos sint�ticos, como � o caso da Alemanha. Esse fato nos mostra que � poss�vel optar pela fitoterapia em grande parte dos casos. Vivemos um momento hist�rico em que, cada vez mais, as pessoas t�m voltado sua aten��o � agricultura org�nica, � constru��o ecol�gica, �s fontes de energia renov�veis, e tamb�m �s pr�ticas de sa�de mais naturais, como o parto humanizado, massagens, fitoterapia e diversas outras pr�ticas integrativas”, diz a farmac�utica.
Intoxica��es
Ana Cimbleris avisa que, apesar de ser amplamente disseminada a ideia de que o uso de plantas medicinais e fitoter�picos � seguro, sem a possibilidade de ocorr�ncia de eventos adversos e intoxica��es, � importante observar que as plantas funcionam devido � sua qu�mica. “Se elas podem fazer bem, tamb�m podem fazer mal se usadas de maneira inapropriada. Como qualquer medicamento, os fitoter�picos n�o s�o isentos de toxicidade. Os profissionais de sa�de disp�em de bases de dados para conhecer seus efeitos colaterais, poss�veis intera��es medicamentosas e as precau��es necess�rias para o uso. Ainda assim, a toler�ncia aos fitoter�picos �, em geral, maior se comparada aos medicamentos sint�ticos.”
Conforme Ana Cimbleris, as formas mais comuns para acesso �s plantas medicinais s�o o cultivo pr�prio, a compra, ou, gratuitamente, por meio dos programas p�blicos de fitoterapia. E os usos s�o diversos. “A fitoterapia tem excelente aplica��o como um recurso para as doen�as de baixa gravidade, mas que nem por isso deixam de representar grande inc�modo na nossa vida, como gastrite, dor muscular, machucados, gripes e resfriados, entre outras.”
POR DENTRO DOS CANTEIROS
Saiba quais s�o as plantas cultivadas nas hortas do programa fitoter�pico Farm�cia Viva, no SUS Betim, e quais as esp�cies de maior produ��o. H� uma diversidade, entre elas plantas arom�ticas, condimentares e medicinais, cujo foco � o fornecimento de mat�rias-primas para a manipula��o de fitoter�picos da farm�cia, al�m de fins educacionais em visita��es de alunos do ensino fundamental.
» Melissa officinailis: erva-cidreira rasteira (sedativa, digestiva e anti-hipertensiva)
» Lippia alba: erva-cidreira de arbusto (sedativa suave, digestiva)
» Cymbopogom citratus: capim-cidreira (digestivo, analg�sico e antiespasm�dico)
» Cordia verbenacea: erva-baleeira (anti-inflamat�rio em dores articulares, artrite, artrose, contus�es)
» Mikania glomerata: guaco (expectorante, antituss�geno, broncodilatador suave)
» Calendula officinalis: cal�ndula (anti-inflamat�ria e cicatrizante t�pico)
» Rosmarinus officinalis: alecrim (dores musculares e articulares, depress�o leve como estimulante)
» Equisetum arvense: cavalinha (diur�tico, antiss�ptico das vias urin�rias, externamente hidratante e utilizado em lo��es hidratantes para pacientes acamados, na preven��o de escaras)
» Plantas condimentares: manjeric�o, or�gano, tomilho
» Lippia alba: erva-cidreira de arbusto (sedativa suave, digestiva)
» Cymbopogom citratus: capim-cidreira (digestivo, analg�sico e antiespasm�dico)
» Cordia verbenacea: erva-baleeira (anti-inflamat�rio em dores articulares, artrite, artrose, contus�es)
» Mikania glomerata: guaco (expectorante, antituss�geno, broncodilatador suave)
» Calendula officinalis: cal�ndula (anti-inflamat�ria e cicatrizante t�pico)
» Rosmarinus officinalis: alecrim (dores musculares e articulares, depress�o leve como estimulante)
» Equisetum arvense: cavalinha (diur�tico, antiss�ptico das vias urin�rias, externamente hidratante e utilizado em lo��es hidratantes para pacientes acamados, na preven��o de escaras)
» Plantas condimentares: manjeric�o, or�gano, tomilho
SAIBA MAIS
Para escolher o melhor modo para usar uma planta medicinal s�o consideradas as caracter�sticas da planta, a indica��o de sa�de, assim como a facilidade de adquirir ou preparar o produto. S�o v�rias as op��es poss�veis. Os fitoter�picos industrializados fornecem extratos padronizados, sendo �teis em alguns casos em que se faz necess�ria maior precis�o da dose. Quem vai utilizar o fitoter�pico � a pessoa mais indicada para selecionar entre as op��es dispon�veis aquela que lhe trouxer maior conforto e conveni�ncia. As principais formas farmac�uticas usadas para produtos fitoter�picos s�o:
» Ch�s medicinais
» Banhos medicinais
» Inala��o
» Compressas
» Tinturas
» C�psulas de extratos secos
» Xaropes
» Pomadas
» G�is
» Xampus
» Sabonetes
» Garrafadas
» Vinhos medicinais
» Elixires e diversas outras formas