
A aposentada T�nia Mara Sarsur Lisboa conta que sempre gostou de plantas. Aos 62 anos, lembra-se de estar no quintal entre o verde quando era crian�a. Em seu apartamento em BH, onde tem uma �rea aberta privativa, cultiva diferentes esp�cies, como suculentas, pitanga, folhagens e outros, e fala sobre a inten��o de criar uma horta. “Alegra a casa. Uma distra��o, � muito prazeroso, diminui o estresse. Mexer com a terra relaxa. Observar quando as flores brotam, colher as frutas, ver as folhagens, saber os nomes, dedicar-se �s plantas. Sentir que est� cuidando de um ser vivo � muito bom”, pontua.
Assistente social aposentada, Rosinhas Borges Dias cresceu em meio �s plantas. Aos 76, ela se lembra da conviv�ncia com a m�e e a av� no interior de Minas Gerais, onde as plantas sempre estavam ao redor. Entre flores e frutas, a recorda��o � de alegria. “Roseiras, couve, quiabo, jil�, ab�bora, laranja, banana, mexerica. Fui criada vendo tudo isso, era um grande prazer”, diz.
Rosinha considera o ato de cuidar de plantas, colocar as m�os na terra, arrancar as folhas mortas, regar algo que faz bem, acalma, tira a agita��o e a ansiedade. “A planta � uma companheira, s�o minhas amigas, minhas irm�s. Sinto-me bem, ajuda at� para a no��o de humildade. Percebo que estou contribuindo para cuidar da nossa casa em comum, o planeta, partindo de pequenos gestos. � uma forma de conex�o”, diz. Em um segundo momento, ela fala sobre a contempla��o, a admira��o. “Tanto olhando uma paisagem a dist�ncia, as montanhas, ver uma flor de perto, d� um sentido de gratid�o pela vida, a alegria sobre coisas t�o bonitas”, afirma.
Na Escola Verde Vida, em Belo Horizonte, que atende alunos entre 1 e 6 anos, as crian�as desfrutam de um hor�rio reservado para atividades de jardinagem, quando t�m contato com plantas e animais. “� uma maneira de plantar uma semente dentro delas, falar sobre a import�ncia de n�o degradar o meio ambiente, de cuidar da natureza, de se preocupar com o futuro”, diz a coordenadora, Carla Brittes da Silva.
Pela �tica pedag�gica, Carla cita o desenvolvimento da praxia (coordena��o motora), da curiosidade, do senso cient�fico. Os pequenos aprendem colocando a m�o na terra. “Ficam com a curiosidade agu�ada. Quando veem uma minhoca, por exemplo, logo perguntam para que serve. Tamb�m tem o aspecto da rela��o espacial, a crian�a reconhecer seu lugar no mundo, compreender limites e potencialidades”, pontua. Nas quest�es de sa�de, ela diz que os alunos, principalmente os que t�m mais tempo na escola, quase nunca adoecem, sem contar o incentivo a uma alimenta��o saud�vel.
“As crian�as menores, quando est�o chorosas, por exemplo, ao interagir com as plantas e os bichos logo mudam o foco e melhoram. Entregam-se ao momento, ficam envolvidas”, conta. Todos os dias, a turma � servida com ch�s vindos de ervas da pr�pria horta. No cultivo, alfavaca, hortel�, erva-cidreira, funcho, s�lvia, alecrim, manjeric�o, lim�o, laranja, acerola, pitanga, amora, goiaba, jambo, rom�, uva, e muito mais. “A preocupa��o � com o desenvolvimento da crian�a como um todo – aspectos cognitivos, motores e sociais. A ecopedagogia fala sobre �tica, sustentabilidade e o pensamento complexo. E a educa��o ambiental aborda todas as �reas, � uma perspectiva de transdisciplinaridade. Elas aprendem matem�tica contando quando acerolas colheram”, diz a educadora.

NOVOS SENTIDOS
Plantas s�o energia para a vida, declara a paisagista e psic�loga Carla Pimentel. “O contato com a terra, o aroma do mato molhado, o barulho das folhas com o vento. Com a natureza, voc� come�a a entrar em um outro est�gio, sai da tens�o do dia a dia. Identifica um outro lugar dentro de si, onde pode parar, refletir, sentir o cora��o, relaxar, admirar as tonalidades do verde, as cores vivas das flores, a relva, a grama baixa, perceber um espelho d’�gua. � como conectar com seu viver humano em novos sentidos”, salienta.
Ela ressalta a caracter�stica mut�vel do homem, que a todo tempo se transforma, e nisso se parece com as plantas. “Hoje, quem mais se sobressai n�o � o mais forte, e sim o mais flex�vel. Quem se adapta a mudan�as, se reinventa, se redescobre, se ressignifica. E � uma ressignifica��o que a todo tempo vemos nas plantas. As plantas mudam para se manter vivas. Voc� olha para uma flor e, cinco minutos depois, ela j� est� diferente. Ou a flor que nasce no lugar da que caiu. As flores que nascem no outono e no inverno e retornam na primavera e no ver�o. O bambu, por exemplo, que abaixa com a ventania e depois volta para o prumo de novo”, compara.
Em um outro ponto de vista, Carla Pimentel fala sobre a vaidade do homem, o ego�smo, o egocentrismo. “Fazemos as coisas para mostrar para os outros, para provar que somos superiores. � uma vida competitiva. Ao contr�rio das plantas, que s�o bonitas e exuberantes para elas mesmas. Uma flor pequena n�o disputa com a maior. Cada beleza � peculiar”, ilustra. “N�s temos medo da morte, vivemos preocupados com doen�as. As plantas mostram os ciclos. S�o perfeitas durante o tempo de vida. E muitas florescem uma s� vez.
Para a paisagista, � ineg�vel o bem-estar de ficar entre a natureza. “Se h� problemas com os filhos, com o casamento, e outras coisas, a gente corre para a natureza. � como um grito de socorro. Uma forma de externar ang�stias, medos e inseguran�as. Um ref�gio, � ter paz de esp�rito, conectar-se com Deus, com as coisas boas”, diz Carla, que n�o esconde o h�bito de conversar com as plantas. “E elas escutam.”

"Antes, eu n�o pensava na import�ncia de preservar o meio ambiente. Agora, gosto das �rvores, de mexer com a terra, dar �gua para a planta quando ela est� com sede. A planta te devolve o cuidado com frutas e flores. Faz muito bem”
Cecilia Pizzato da Silveira, de 6 anos

"Se voc� coloca a babosa no machucado, no dia seguinte j� faz casquinha. Pode usar no cabelo tamb�m. As plantas t�m muitos benef�cios. Perto delas a gente respira melhor.
A escola fica mais fresca por causa das plantas”
Luiz Claudio Armond Ribeiro, de 6 anos
A jornalista Carolina Costa h� muito tempo tem plantas em casa. Em 2012, deixou o emprego em uma reda��o de jornalismo e passou a se dedicar �s plantas. Hoje � jardineira. Ela conta que foi uma alternativa para relaxar, espairecer e sair da correria do trabalho e, desde ent�o, muita coisa mudou.
Ela coordena um site voltado para plantas e jardinagem, d� cursos e palestras sobre o assunto para grupos e empresas, treinamentos para funcion�rios de gardens e floriculturas, presta consultoria, produz conte�do para marcas e empresas, desenvolve produtos bot�nicos e presentes inspirados em flores e plantas, � autora de livros, colunista e tamb�m participa de um programa de televis�o, tudo dentro do tema. “Sou jornalista h� 20 anos, mas me descobri mesmo depois que criei o site Minhas Plantas, na primavera de 2012. De l� pra c�, o que era um hobby ganhou meu cora��o e, hoje, trabalho em v�rias frentes, como uma �rvore cheia de ramos.”
Para Carolina, as plantas s�o encaradas com uma perspectiva de cura. “Uma maneira de desestressar, combater a ansiedade e ter uma vida mais leve. Percebi muitos benef�cios. Equilibra, por exemplo, os batimentos card�acos. As plantas n�o pedem nada, n�o perguntam nada, acolhem voc�. � uma rela��o sem exig�ncias”, conta.
A pediatra Tulia Fadel sempre conviveu com plantas. Aos 49 anos, ela relembra a inf�ncia envolvida pelo verde. “Adoro, sei todos os nomes, fa�o quest�o de cuidar das minhas plantas pessoalmente”, diz. H� quatro anos, ela contratou um projeto inteiro de paisagismo na casa onde vive, no Vale dos Cristais. Tem jardins, inclusive dentro da resid�ncia, uma horta e v�rias plantas em vasos. Ela disp�e de temperos, ervas, alface, couve, jabuticaba, lim�o, laranja, pitanga, brom�lia, palmeiras, russ�lia, murta, podocarpo, pinheiros, orqu�deas, samambaias, r�fis, espada-de-s�o-jorge, zamioculca, jiboia, lavanda.
Para a pediatra, n�o h� melhor forma de acalmar e ter tranquilidade do que o contato com a natureza. “Sinto paz, bem-estar, me distraio. As plantas criam um clima de aconchego, acolhimento, beleza. Gosto dessa atmosfera. O lugar fica com uma energia boa. Um respiro.”