Dados da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) apontam que cerca de 180 milh�es de mulheres sofrem com endometriose no mundo. No Brasil, de 10% a 15% das mulheres em fase reprodutiva t�m a doen�a, o que equivale a quase 7 milh�es de brasileiras. De dif�cil diagn�stico, a enfermidade pode afetar a vida feminina de forma direta, levando � infertilidade, o que ocorre em 40% dos casos, de acordo com o Minist�rio da Sa�de.
A endometriose envolve fatores gen�ticos, anormalidades imunol�gicas e disfun��o endometrial. A doen�a pode acometer diversas partes do corpo, acarretando graves consequ�ncias. “Por ser caracterizada pela presen�a de endom�trio fora do �tero, a endometriose pode ser encontrada em v�rios �rg�os pr�ximos a ele, como bexiga, ov�rios e intestino”, explica Cl�udia Navarro, ginecologista, obstetra e especialista em reprodu��o assistida.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), 5% dos casos de endometriose n�o apresentam sinais. Sendo assim, o ginecologista Henrique Tavares, da Cl�nica Penchel, alerta que, al�m da informa��o e de atendimento especializado, o conhecimento do pr�prio corpo � fundamental para a identifica��o da doen�a.
A endometriose afeta inclusive a produtividade profissional. Foi o que ocorreu com a estudante de jornalismo Mariana Menezes, de 22 anos, que, ap�s seis anos de d�vidas e dores, descobriu a doen�a. “Muitas vezes, a dor � tanta que eu n�o consigo ir � aula. Precisei, inclusive, sair do meu est�gio, pois n�o aguentava trabalhar devido � dor”, conta.
DESPERCEBIDA
Em muitos casos, por considerar os sintomas normais ao ciclo menstrual, mulheres e especialistas tendem a deixar a endometriose passar despercebida. Al�m disso, a inexperi�ncia quanto ao entendimento da doen�a pode levar a constata��es err�neas, retardando o diagn�stico de fato, bem como o in�cio do tratamento. A estudante de odontologia Renata Guimar�es, de 21, foi diagnosticada pela primeira vez com uma s�ndrome capaz de comprimir a veia atrav�s da art�ria, estagnando o sangue e possibilitando o surgimento de uma �ngua.
Na verdade, Renata sofria de endometriose e a ent�o �ngua era seu intestino, que, devido � presen�a de endom�trio, atravessava um pequeno buraco presente na parede de sustenta��o dos �rg�os e se acomodava em sua pelve. “O angiologista disse que eu teria que fazer uma cirurgia e colocar um stent na veia do intestino para que ela n�o fosse comprimida e eu vivesse. A cirurgia j� estava at� marcada, quando resolvi procurar outro profissional, que me deu o diagn�stico correto”, relata.
O ginecologista Henrique Tavares ressalta que o tratamento de endometriose pode se estender por todo o per�odo f�rtil da mulher, desde o diagn�stico da doen�a at� a menopausa. Portanto, alguns cuidados s�o necess�rios. “� preciso manter uma alimenta��o com o m�nimo de alimentos inflamat�rios poss�veis e praticar atividades f�sicas regularmente.”
Os tratamentos podem gerar efeitos colaterais, principalmente pela alta ingest�o de horm�nios. Alguns deles s�o aumento de peso, produ��o de leite, trombose e altera��o do apetite sexual. Em alguns casos, a mulher n�o se adapta aos rem�dios indicados. Em outros, o corpo feminino rejeita o DIU. E, ainda, h� aquelas que necessitam de realizar uma cirurgia atr�s da outra, sem resultados.
MATERNIDADE
Dados da Federa��o Brasileira das Associa��es de Ginecologia e Obstetr�cia (Febrasgo) apontam que entre 30% e 50% das pacientes com diagn�stico de endometriose apresentam dificuldades para engravidar, devido � diminui��o da quantidade de �vulos e comprometimento das tubas uterinas. Al�m disso, as inflama��es e ader�ncias dificultam a fertiliza��o.
A gerente administrativo Admayra Indira, de 26, est� � espera do primeiro filho, espontaneamente. “Alguns m�dicos me disseram que eu jamais poderia ter filhos e que somente a insemina��o artificial poderia resolver o problema. Com isso, meu mundo foi ao ch�o, me senti a pior pessoa do mundo. Quando tive a not�cia de que seria m�e, depois de in�meras cirurgias, fiquei em choque e emocionada. Para mim, foi a melhor not�cia de todas”, conta.
Em busca de conscientizar n�o s� as mulheres que sofrem com endometriose, mas tamb�m aquelas que ainda n�o t�m o diagn�stico da doen�a, a EndoMarcha � realizada desde 2014 em todo o mundo. A jornalista, ativista e capit� brasileira da EndoMarcha no Brasil, Caroline Salazar, ressalta que a ades�o em massa � de suma import�ncia tanto para o movimento quanto para a conscientiza��o da doen�a. “Seria muito bom se todos participassem da manifesta��o, porque a incid�ncia � muito alta e quanto mais pessoas se informarem, menos mulheres sofrer�o”, destaca Caroline.
Kelly Cristina Patricia Silva Pires, assistente administrativo e coordenadora da marcha em BH, conta que a EndoMarcha busca acolher as mulheres que sofrem diariamente com a presen�a do endom�trio no corpo. “O intuito � abra�ar, apoiar, falar e mostrar essa doen�a, que atinge muitas mulheres. Ent�o, vamos marchar pelo reconhecimento da endometriose como doen�a social. Vamos marchar para disseminar os sintomas dessa doen�a, pois s� assim o diagn�stico poder� ser feito mais precocemente. Vamos marchar em prol das milh�es de brasileiras, especialmente as adolescentes, que sofrem deste mal, para, assim, salvar a futura gera��o de portadoras”, ressalta.
Patologia cr�nica
A endometriose interfere diretamente na sa�de, comprometendo a qualidade de vida
Sintomas
. As ocorr�ncias mais frequentes s�o c�lica menstrual de moderada a limitante, dor profunda na rela��o sexual e dor p�lvica cr�nica
. Pode ser identificada por meio de alguns exames espec�ficos, como o ultrassom transvaginal e a resson�ncia magn�tica, comumente usados para a realiza��o de diagn�sticos de suspeita. J� o diagn�stico definitivo � realizado por meio da laparoscopia, exame cir�rgico capaz de visualizar de forma direta as les�es
. Na fase inicial da doen�a, o diagn�stico pode impedir a progress�o dos focos de endom�trio com o bloqueio ovariano pela ingest�o de horm�nios adequados. No entanto, em muitos casos, a descoberta da doen�a ocorre tardiamente
. O uso cont�nuo de anticoncepcionais e outros m�todos, como o DIU, podem amenizar os sintomas, levando ao desconhecimento total
da doen�a
. Em est�gio mais avan�ado, a endometriose pode gerar consequ�ncias ainda mais graves na vida da mulher, como o surgimento de dist�rbios sexuais, urin�rios e/ou intestinais
Entenda o problema
O endom�trio � o tecido que reveste a parte interna do �tero
No per�odo f�rtil, horm�nios estimulam essa camada, que fica mais grossa, para o caso de uma fecunda��o
Se a gravidez n�o acontece, o endom�trio descama e sangra, formando a menstrua��o
Em quem tem endometriose, as c�lulas do endom�trio, que deveriam ficar s� no �tero, migram para os ov�rios, intestino, bexiga, tubas, etc.
EndoMarcha
Em busca de conscientizar n�o s� as mulheres que sofrem com endometriose, mas tamb�m aquelas que ainda n�o t�m o diagn�stico da doen�a, a EndoMarcha ocorre desde 2014 em todo o mundo. Este ano, 75 pa�ses marchar�o simultaneamente e, no Brasil, ser�o 22 cidades, entre elas Belo Horizonte. Marcado para 28 deste m�s, o evento contar� com a presen�a de trios el�tricos e, na capital mineira, ter� concentra��o na Pra�a da Liberdade, Regi�o Centro-Sul, a partir das 10h. Al�m disso, panfletos ser�o distribu�dos a fim de alertar a popula��o sobre os sintomas e diversos outros aspectos da endometriose.
Cura
A cura da endometriose � pouco difundida devido ao fato de a cirurgia n�o ser reprodut�vel, ou seja, sua aplica��o � feita de diferentes maneiras, de acordo com cada especialista, segundo explica Alysson Zanatta, ginecologista e doutor em medicina pela USP. Al�m disso, a identifica��o da doen�a pode seguir esse padr�o, o que torna ainda mais dif�cil a discuss�o em torno de um procedimento espec�fico de recupera��o total do quadro.
* Estagi�ria sob supervis�o da editora Teresa Caram