
Uma data especial que n�o pode passar em branco. O Dia das M�es ganha novos significados em tempos de coronav�rus. Em muitas fam�lias, esta ser� a primeira vez em que a ocasi�o � experimentada a dist�ncia. Fundamental � perceber que o afastamento social n�o � o mesmo que isolamento emocional. Sentimentos como respeito, admira��o, carinho e amor incondicional parecem potencializados quando n�o se est� por perto – tornam-se ainda mais importantes, urgentes. Quando o beijo e o abra�o apertado n�o podem fazer parte do presente, m�es e filhos reinventam as formas para estar juntos, ainda que separados.
“Est� chegando o Dia das M�es e muitos filhos e m�es v�o passar separados. Alguns por morarem em cidades diferentes, mas muitos est�o na mesma cidade e n�o podem se encontrar por conta do coronav�rus. Muitas m�es, inclusive, fazem parte do grupo de risco para a doen�a. Uma data t�o especial e n�o poder estar perto – isso tem causado ang�stia e ansiedade”, diz a psiquiatra Jaqueline Bifano.
Para ela, importante � que as pessoas se conscientizem e entendam que esse tem sido um ano at�pico, e que o distanciamento f�sico � uma medida de prote��o fundamental diante da pandemia. “O isolamento � um ato de solidariedade com todo mundo, n�o s� entre os fami- liares. Mas � moment�neo, tudo vai melhorar, ainda que n�o exista uma perspectiva clara de tempo para isso acontecer”, opina Jaqueline.
A psiquiatra lembra que o isolamento social n�o precisa significar um isolamento emocional. “Vamos fazer uma videoconfer�ncia, ter um contato visual, conversar, tentar minimizar esse afastamento. Ver se o outro est� bem, dar um beijo e um abra�o virtual, o que tamb�m � uma demonstra��o de carinho. N�o deixar de dizer � m�e o quanto � amada”, pontua. Para Jaqueline, essa � uma situa��o a ser superada. “� hora de um incentivar o outro. Todos estamos aprendendo e vamos tirar daqui uma li��o. Pela aus�ncia f�sica, cada vez mais percebemos o valor em estar presente, em contato com quem amamos.”

DIST�NCIA
A rela��es-p�blicas Bruna Oliveira Zanotti, de 31 anos, � m�e de Luiza, de 4, e Teo, de 5 meses. Por 10 anos vivenciou a dist�ncia da m�e, Vera, de 56, que j� morou no Par�, no Maranh�o e no Cear�, entre outros lugares. Nesse per�odo, desfrutaram juntas o Dia das M�es em tr�s anos diferentes. Agora, em 2020, faz pouco tempo que Vera voltou � capital mineira, justamente na semana em que teve in�cio a qua- rentena. Seria uma �tima oportunidade para reunir todos novamente, n�o fosse o coro- nav�rus. “Infelizmente, n�o vamos passar esse dia juntas. Estamos respeitando todas as recomenda��es de isolamento social. Qualquer sa�da de casa pode ser perigosa”, lamenta Bruna.
O pai de Bruna, H�rcules, de 55, trabalha e reside em Concei��o do Mato Dentro, costumava vir a BH periodicamente, mas com as medidas restritivas est� orientado a permanecer na cidade. “Desta vez � diferente, porque eu e minha m�e estamos na mesma cidade e seria o primeiro Dia das M�es com o Teo. Na P�scoa, fomos � casa dela, e pela janela do carro a Luiza ficou cantando uma m�sica para ela”, lembra. No dia dedicado �s m�es, o plano de Bruna � fazer uma chamada de v�deo, comprar pela internet um bom presente para Vera e enviar uma cesta de caf� da manh�. “Minha m�e sempre fala que est� com saudade, mas que � preciso respeitar esse momento – uma simples volta na rua pode ocasionar a infec��o.”

POR PROTE��O
Michelle Fa�da, de 38, e suas duas irm�s sempre passaram a data com a m�e, Grace, de 60. A cabeleireira � m�e de Caio e Hugo, de 10 e 4 anos, respectivamente. Grace reside em Itaoca, no Esp�rito Santo, mas a dist�ncia nunca foi empecilho para que todos se encontrassem no Dias das M�es – agora � o coronav�rus que quebra esse ciclo. Todos os anos, ou a m�e vinha a BH ou as filhas iam a Itaoca. “Minha m�e mora sozinha e pela primeira vez vai passar esse dia sozinha. Ningu�m estar� com ela. Isso para lhe proteger e a n�s tamb�m. Estamos mesmo � preocupadas com a sa�de. Al�m de ter 60 anos, ela � diab�tica, do grupo de risco”, diz Michelle.
Ela n�o fica t�mida em dizer que desta vez tamb�m vai faltar o agrado – o presente mesmo ser� a liga��o por v�deo para conectar a fam�lia. “Uma maneira de retribuir o carinho que ela dedicou a n�s durante toda a vida. O maior presente que podemos dar a ela � preservar sua sa�de. Estamos respeitando todas as medidas de prote��o”, conta.
Na fam�lia da administradora Fabiana Faria Sales, de 38, neste ano o Dia das M�es tamb�m ser� diferente. Ela � m�e de Matheus, de 16, Bianca, de 7, e Duda, de 6 meses. Em 2020, o filho mais velho n�o vai passar o dia com ela. Ele mora com o ex-marido de Fabiana e optou por estar com a av� paterna, de 73, e o pai, j� que a senhora ficou vi�va h� pouco mais de um ano e vive sozinha. Todos est�o em total isolamento.
Os pais de Fabiana, Adir, de 67, e Maria de Faria Sales, tamb�m de 67, moram juntos, na companhia de outra filha, de 25, e o grupo fica completo com outro irm�o, de 41. O pai e a m�e de Fabiana, al�m de idosos, s�o hipertensos, e a irm� � asm�tica – integram o grupo mais vulner�vel quando da infec��o pela COVID-19. Fabiana e o marido atual costumavam dividir o Dia das M�es entre as fam�lias, revezando o encontro no caf� da manh� ou para o almo�o com a m�e de Fabiana e sua sogra. “Neste ano, vamos passar o dia na minha casa, eu, meu marido e minhas filhas. N�o teremos contato com ningu�m”, diz Fabiana.
A alternativa vem da tecnologia. “Faremos primeiro uma videochamada com a fam�lia do meu marido, seus irm�os e sua m�e, depois com meus irm�os e minha m�e, e depois com o Matheus e minha ex-sogra, com quem tamb�m tenho uma boa rela��o”, descreve Fabiana. A administradora j� comprou um tablet para a m�e, que ser� entregue durante a chamada ao vivo. “Minha m�e de vez em quando v� as crian�as pelo carro mesmo, de longe. Meu marido leva para ela as compras de supermercado, quando precisa, e deixa na garagem, sem contato. � um momento bem dif�cil.”