
Consequ�ncias da crise financeira durante a pandemia ou mesmo maldade com animais indefesos. Esses s�o alguns dos motivos elencados como causadores e/ou incentivadores para o abandono de animais dom�sticos nas ruas de Belo Horizonte e de todo o estado e pa�s. De acordo com a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), aproximadamente 30 milh�es de c�es e gatos s�o abandonados no Brasil.
Ainda, segundo a entidade, estima-se que esse dado represente, na capital mineira, um abandono para cada cinco habitantes. “Um ato inconsequente, fundamentado em quest�es familiares e falta de informa��o”, na avalia��o dos diretores da ONG Adote meu dog, Jonathan Braga Teixeira, de 31 anos, e Robert Costa, de 55.
“Algumas pessoas, por exemplo, foram despedidas de seus empregos nesta pandemia e manter o animal pode ser caro, pois, al�m de consultas com veterin�rio, os gastos s�o elevados com alimenta��o e todos os demais cuidados. Isso aumenta a possibilidade de deix�-los nas ruas. Muitos, inclusive, s�o abandonados em locais escondidos, muito pela vergonha ou medo de serem vistos cometendo tal ato”, afirmam.
A falta de informa��o, citada pelos diretores da ONG Adote meu dog, se d� em dois quesitos: no n�o conhecimento sobre a exist�ncia de institui��es que abrigam animais sem lar e no medo de contamina��o por COVID-19, fator consequente da pandemia.
“As pessoas acreditam que o bichinho vai transmitir a doen�a, o que n�o � verdade, e os abandona. E, tamb�m, por n�o saber que existem pessoas que acolhem e lutam pela causa dos c�es e gatos, acabam deixando-os nas ruas.”
Em casos de maus-tratos, a exemplo do caso recente do pitbull Sans�o – que teve as patas traseiras decepadas por fac�o no in�cio de julho, em Vespasiano, na RMBH –, Jonathan Braga destaca que a entidade conta com a contribui��o policial para conferir den�ncias que chegam at� eles e tentar proteger e salvar o animal v�tima de viol�ncia.
“Todos os animaizinhos que encontramos nas ruas tentamos introduzi-los de novo na sociedade, de forma saud�vel e com carinho. Pegamos e tentamos achar um novo lar para eles.”
“Todos os animaizinhos que encontramos nas ruas tentamos introduzi-los de novo na sociedade, de forma saud�vel e com carinho. Pegamos e tentamos achar um novo lar para eles.”
SALVAR VIDAS
“Resgatamos cerca de 10 c�es por dia. E isso todos os dias. Recebemos, tamb�m, muitas liga��es de pessoas com alguns casos de urg�ncia e/ou den�ncias de maus-tratos, e tentamos ao m�ximo salvar essas vidas e ajudar o c�o de alguma forma.
Outro caso em que ajudamos com recorr�ncia s�o fam�lias que querem doar os pets, porque n�o podem mais ficar com o bichinho. Ent�o, agimos de forma a proteger esse animal, independentemente da circunst�ncia”, contam os diretores da ONG Adote meu dog.
Outro caso em que ajudamos com recorr�ncia s�o fam�lias que querem doar os pets, porque n�o podem mais ficar com o bichinho. Ent�o, agimos de forma a proteger esse animal, independentemente da circunst�ncia”, contam os diretores da ONG Adote meu dog.
Para isso, Robert Costa pontua que a primeira atitude ap�s o resgate � conduzir o animal ao veterin�rio para que ele possa ser avaliado, do ponto de vista de sa�de f�sica e, tamb�m, emocional. “Geralmente, os cachorros encontrados t�m algum trauma, por exemplo, de ser abandonado e de ficar na rua ou por maus-tratos. E, assim, tentamos dar o m�ximo de amor poss�vel e nos aproximar dele para que o animal ele tenha, novamente, confian�a em humanos.”
CUIDADOS
A procura por uma fam�lia, que d� muito amor e carinho aos pets, tem in�cio antes mesmo da decis�o de adotar um c�o ou gato. A busca come�a justamente pela ONG. Jonathan Braga conta que logo ap�s todos os cuidados m�dicos destinados aos c�es resgatados e o procedimento de castra��o feitos, o processo de ado��o tem in�cio, quando esses animais s�o levados para um banho e tosa.

"Adotar � um ato de amor rec�proco,
pois o animal ama muito e se mostra sempre muito grato. E, se cada um de n�s, mesmo quem n�o puder dar um lar para esses pets, doasse e ajudasse de alguma forma as ONGs, seria �timo ia colaborar muito com o trabalho”
F�tima Angeline de Oliveira,
de 61 anos, pediatra, que adotou Lua, cadelinha de 3 anos
“Com o banho, arrumamos o novo amiguinho de uma fam�lia, tiramos uma foto e postamos em nosso Instagram (@adotemeudog), pois essa � a nossa forma de chegar at� as pessoas. E quando divulgamos que h� um novo bichinho para ser adotado, colocamos na legenda todas as informa��es importantes sobre esse pet para que um adotante se apaixone.”
E foi justamente assim, por meio das redes sociais, que a pediatra F�tima Angeline de Oliveira, de 61 anos, encontrou Lua, sua cadelinha, de quase 3 anos. “Entrei no site de um instituto, vi a Lua e me apaixonei. Tinha que ser ela, a minha Luazinha. Eu a amo de paix�o, me afei�oei muito, porque ela � uma cachorra muito carente. T�-la por perto � muito bom, como ter as minhas outras companhias de quatro patas tamb�m.”
Mas o processo de ado��o n�o consiste em apenas curtir a foto do c�o ou gato e entrar em contato requisitando a a��o. Isso porque, segundo Jonathan Braga e Robert Costa, ao adotar o animal, o tutor leva consigo a responsabilidade de cri�-lo e, portanto, todos os cuidados s�o tomados antes de entregar o pet para um lar.
“Quando recebemos o pedido de ado��o, fazemos algumas perguntas, levamos o animal at� o ambiente para ver se ele vai se acostumar e se ter� a aten��o devida, e verificamos se a pessoa preenche os requisitos e exig�ncias para cuidar do animal. � importante adotar e proporcionar um lar para esses animais, mas sabendo que h� uma responsabilidade de cuidar, alimentar e dar carinho.”
Robert Costa destaca, ainda, que apesar de os atos de ado��o serem constantes e, em muitos casos, demorar poucos dias, muito animais ficam sem lar por um per�odo longo de tempo.
Nestes casos, um dos diretores da ONG Adote meu dog pontua que at� o momento da ado��o se concretizar, todos os c�es e gatos, resgatados pela institui��o, ficam em lares tempor�rios, sem taxa a ser cobrada.
Nestes casos, um dos diretores da ONG Adote meu dog pontua que at� o momento da ado��o se concretizar, todos os c�es e gatos, resgatados pela institui��o, ficam em lares tempor�rios, sem taxa a ser cobrada.
“Infelizmente, por causa disso e, tamb�m, por quest�o de recursos, conseguimos acolher poucos pets, porque n�o recebemos nenhuma doa��o, � apenas o nosso amor mesmo. Ent�o, justamente por isso, a nossa inten��o �, em um futuro pr�ximo, poder contar com alguma ajuda para aumentar nosso espa�o, para assim poder salvar mais vidas.”
Para F�tima, � devido a essas dificuldades encontradas pelas ONGs que mais pessoas deveriam ajudar e colaborar com a prote��o animal. “Adotar � um ato de amor rec�proco, pois o animal ama muito e se mostra sempre muito grato. E, se cada um de n�s, mesmo quem n�o puder dar um lar para esses pets, doasse e ajudasse de alguma forma as ONGs, seria �timo e ia colaborar muito com o trabalho feito por eles”, declara.

Um ato de amor
“Ado��o salva vidas, porque, muitas vezes, esses animais estavam em situa��es deplor�veis nas ruas e sofrendo diversos traumas. Ent�o, essa � a segunda chance que este c�o ou gato vai ter. Al�m disso, esses pets tamb�m salvam vidas. Muitos adotantes relatam como a presen�a desses bichinhos faz bem e o quanto a vida melhora com a companhia deles”, diz Deise �zara, de 36 anos, respons�vel pela ado��o de animais dom�sticos no Instituto Anhang�, ao comentar a import�ncia de dar um novo lar aos animais resgatados.
E foi justamente um novo lar que uma das cadelas resgatadas pelo Instituto ganhou e que recebe, agora, muito amor. Adotada pela fam�lia da psic�loga Simone Assun��o Mota, de 49, Lara, de 2 anos, est� h� apenas seis meses na nova casa e j� demostrou muito companheirismo e, tamb�m, gratid�o.
“Ela � minha amiga de quatro patas e uma grande companheira. Lara � muito d�cil, carinhosa e brincalhona, me acompanha pela casa, me enche de carinho e adora brincar. O amor de um c�o � muito genu�no, verdadeiro, n�o pede nada em troca e demonstra gratid�o por estarmos por perto”, afirma Simone.

A ado��o de Lara foi, de fato, um verdadeiro ato de amor e prote��o animal, j� que, conforme a psic�loga, a ideia inicial de oferecer sua casa como lar para um pet foi ao tomar conhecimento do elevado n�mero de c�es e gatos abandonados ou resgatados das ruas. “Eu adoro cachorros, e quando vi a foto da Lara nas redes sociais do Instituto (@institutoanhanga), me encantei e a quis conosco. Me sinto muito feliz por ter ajudado um c�o que precisava de um lar e recebo amor em dobro da Lara.”
Mais que salvar uma vida, Simone proporcionou tamb�m mais alegria � sua casa e ao seu outro companheiro, Chokito, adotado h� cerca de seis anos. “Eles se d�o muito bem. E Chokito parece at� mais feliz depois da chegada da Lara.”
DIFICULDADE
Arley Fulco, presidente do Instituto Anhang�, pontua que o desejo � resgatar e encontrar um lar para a maior quantidade de c�es e gatos poss�vel. No entanto, o trabalho � dificultado pela falta de fam�lias dispostas a proporcionar uma vida melhor para esses animais. Por isso, Fulco destaca que � importante que as pessoas se conscientizem sobre esse ato, sabendo que h�, tamb�m, uma responsabilidade em torno da ado��o.
“Cada c�o ou gato adotado � uma oportunidade para resgatarmos outro. E isso salva vidas mesmo, porque enquanto o animal est� nas ruas ele est� sujeito a acidentes e maus-tratos, que podem lev�-lo � morte. E hoje, devido � lota��o do instituto, n�o conseguimos mais resgatar. Temos quase 300 animais para ado��o. Mas tamb�m sabemos que n�o adianta apenas adotar e, sendo assim, fazemos de tudo para que este animal seja direcionado para uma fam�lia que ir� cuidar e dar amor a esse pet”, afirma.
Neste contexto, Deise �zara ressalta que � preciso que o adotante analise sua condi��o para adotar, pois, segundo ela, muitas pessoas adotam pela emo��o do momento, o que pode culminar em mais abandonos futuramente. “O animal pode ser, sim, uma companhia, mas � preciso que o tutor se atente aos cuidados tamb�m, pois ter� gastos e o cuidado demanda tempo. � preciso educar esse animal, dar aten��o e carinho. � uma vida que precisa de n�s.”
Portanto, a volunt�ria do instituto pondera que, ao adotar, as pessoas reflitam sobre o futuro desse c�o ou gato e, tamb�m, os pr�prios projetos. Isso porque, al�m de caber no or�amento, este pet precisar� tamb�m fazer parte da vida do tutor e de seus planos, para que n�o seja novamente abandonado, o que pode ser enquadrado como crime dentro da Constitui��o Federal.
Ado��o � coisa s�ria e demanda responsabilidade. Existem casos de pessoas que pegam um c�o ou gato e depois desistem de cuidar, maltratam ou abandonam. Animal n�o � coisa. Demanda cuidado, aten��o, paci�ncia, levar pra passear, limpar as sujeiras, tratar em caso de doen�a, n�o pode ficar sozinho quando viajamos, entre outras coisas.
"Por isso, n�o se deve adotar por impulso, sem pensar se realmente est� disposto a ficar com o animal durante toda a vida dele, cuidando com muito zelo”, comenta Simone.
"Por isso, n�o se deve adotar por impulso, sem pensar se realmente est� disposto a ficar com o animal durante toda a vida dele, cuidando com muito zelo”, comenta Simone.
ANTES E DEPOIS
Deise conta que, tendo em vista a responsabilidade tamb�m do instituto, todas as ado��es s�o acompanhadas de perto pelos volunt�rios e respons�veis pela entidade, com visitas ao novo lar e contatos frequentes com os adotantes, a fim de saber se o animal est� sendo bem cuidado e se adaptando � nova casa e fam�lia.
“Costumamos tamb�m fazer fotos do antes e depois destes animais, quando foram resgatados e o atualmente, para mostrar em nossa p�gina mais uma vida que foi salva. E � muito bacana poder dar essa segunda chance para eles e ver o v�nculo lindo que os pets criam com seus adotantes. Gostamos de ver que eles est�o sendo bem cuidados e amados.”
QUARENTENA
“Temos uma s�rie de exig�ncias e nem toda procura acaba em ado��o, at� porque � muito importante que a pessoa entenda o compromisso que est� fazendo. Ter um gato � um compromisso de muitos anos e algo que precisa ser muito pensado. E desde o in�cio do isolamento social, com o aumento da procura por ado��es, assumimos uma postura mais atenta, tentando mostrar que adotar n�o pode ser uma sa�da f�cil para o t�dio da quarentena, pois esse per�odo vai acabar, e o gato continuar� a precisar de cuidados”, afirma Miriene Fernanda Lorenzi, uma das respons�veis pela Gato Uai.
Ainda, segundo Miriene, adotar animais dom�sticos � um ato de amor em forma de lar, e que zelar por eles � uma responsabilidade a ser dividida por todos. “Aos poucos, devido ao trabalho de conscientiza��o de abrigos e protetores, o preconceito contra gatos est� diminuindo. Os felinos s�o extremamente companheiros e conviver com eles � algo muito especial.”
* Estagi�ria sob a supervis�o da editora Teresa Caram