Os jovens podem estar preparados para herdar o futuro, mas � o envelhecimento da popula��o que est� definindo o nosso tempo.
Em 2018, pela primeira vez na hist�ria, o percentual de pessoas com 65 anos ou mais ultrapassou o de crian�as com menos de cinco anos no mundo. E a previs�o � que o n�mero de indiv�duos com 80 anos ou mais triplique – de 143 milh�es em 2019 para 426 milh�es em 2050.
A popula��o com 65 anos ou mais est� crescendo mais rapidamente do que todas as outras faixas et�rias, sobretudo porque a taxa de natalidade global vem caindo desde a segunda metade do s�culo 20.- Por que pandemia est� acelerando sa�da de idosos do mercado de trabalho
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De acordo com a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), as taxas de fecundidade em todas as regi�es, exceto na �frica, est�o pr�ximas ou abaixo do que � considerado a “taxa de reposi��o” – ou seja, a taxa necess�ria para manter a popula��o est�vel. Na maioria dos pa�ses de alta renda, gira em torno de 2,1 filhos por mulher.
Mas a popula��o n�o est� apenas envelhecendo: as pessoas est�o vivendo mais e aumentando sua "expectativa de vida saud�vel".
Isso significa que, � medida que a popula��o de idosos aumenta, cresce tamb�m um grupo de consumidores, trabalhadores e empreendedores.
Em outras palavras, eles n�o precisam necessariamente dos servi�os da chamada “silver economy”, voltada exclusivamente para pessoas idosas – a popula��o mais velha pode continuar participando integralmente da economia global.
“Estamos falando agora de uma nova fase da vida, que equivale � �ltima parte da vida adulta", diz Joseph Coughlin, diretor do AgeLab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em ingl�s) e autor do livro The Longevity Economy: Unlocking the World’s Fastest-Growing, Most Misunderstood Market (“A Economia da Longevidade: desvendando o mercado em mais r�pida expans�o e mais mal entendido do mundo”, em tradu��o livre).
� medida que os idosos vivem mais e com sa�de, participando ativamente da economia global, s�o abertas novas possibilidades de converter a longevidade em um ativo para a sociedade.
Em 2015, os americanos com 50 anos ou mais geraram quase US$ 8 trilh�es em atividades econ�micas.
O Boston Consulting Group estima que, em 2030, a popula��o com mais de 55 anos nos EUA representar� metade de todo o crescimento do gasto do consumidor dom�stico desde a crise financeira global. Esse percentual sobe para 67% no Jap�o, e 86% na Alemanha.
Com os idosos impulsionando uma parte substancial da atividade econ�mica do mundo, hoje e no futuro, a "economia da longevidade" pode ser uma oportunidade de crescimento ainda n�o explorada.
Desafiando a 'velhice'

O envelhecimento da sociedade global geralmente � considerado prejudicial � sa�de econ�mica de um pa�s, uma vez que reduz a for�a de trabalho e aumenta os encargos sobre os sistemas de sa�de.
Na reuni�o do ano passado do G20 no Jap�o, o envelhecimento entrou na lista de prioridades pela primeira vez.
Na ocasi�o, o presidente do Banco do Jap�o, Haruhiko Kuroda, afirmou que o envelhecimento da popula��o pode representar "s�rios desafios" para os bancos centrais.
Um relat�rio recente da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) tamb�m alertou que o envelhecimento global aumentaria as “press�es fiscais que muitos pa�ses v�o enfrentar nas pr�ximas d�cadas, enquanto buscam construir e manter sistemas p�blicos de assist�ncia � sa�de, aposentadoria e prote��o social para idosos”.
Isso pode ser particularmente impactante para muitos pa�ses do mundo, com um n�mero cada vez maior de aposentados.
Mas Coughlin, do MIT, acredita que, embora as popula��es estejam envelhecendo em n�meros significativos, n�o podemos deixar a ideia de 'velhice' e suas implica��es reprimirem a maneira como pensamos as oportunidades econ�micas.
Ele argumenta que a velhice � uma constru��o social que n�o reflete como as pessoas vivem realisticamente ap�s a meia-idade – e diz que as empresas precisam oferecer o que as pessoas mais velhas realmente querem, e n�o o que a sabedoria popular sugere que elas precisam.
E isso n�o se refere apenas a carros para homens mais velhos, por exemplo, mas divers�o, moda, turismo e muito mais.
"Se trata de n�o ter idade – coisas mais personalizadas, mais focadas no bem-estar, em facilitar a vida.”
“Esses conjuntos de valores valem para todas as gera��es”, acrescenta Coughlin.
Segundo ele, embora as necessidades dos millennials (nascidos entre 1980 e 1995) estejam ligadas � ascens�o da chamada economia sob demanda, a conveni�ncia deste sistema tamb�m beneficia imensamente os idosos.
"Para os mais velhos, se tornou uma assist�ncia virtual."
Embora n�o haja muita pesquisa dispon�vel sobre a economia da longevidade propriamente dita, o que est� claro � que, se as empresas conseguirem aproveitar essa base de consumidores que envelheceu, nesta nova fase de suas vidas, poder� significar uma grande oportunidade.
Afinal de contas, esses grupos est�o consumindo. O relat�rio de 2017 da KPMG sobre consumidores online, realizado em 51 pa�ses, mostrou que os baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964) gastam em m�dia US$ 203 por transa��o na internet, enquanto os millennials "entendidos em tecnologia" gastam uma m�dia de US$ 173 .
O maior mercado para a economia da longevidade pode ser o Jap�o, na��o que envelhece mais rapidamente no mundo.
O pa�s precisou se adaptar �s necessidades cotidianas desta popula��o. E passou a oferecer pequenas conveni�ncias, como disponibilizar �culos de leitura em ag�ncias dos correios, bancos e hot�is, com o dizer: “Sinta-se � vontade para us�-los”.
E tamb�m implementou melhorias estruturais, como a instala��o de bot�es nas faixas de pedestres que, quando pressionados, oferecem mais tempo para atravessar o sinal.
Com pelo menos 20% da popula��o acima de 70 anos, o Jap�o desenvolveu uma cultura inclusiva, que se reflete na maneira como os idosos consomem junto �s gera��es mais jovens – nas piscinas, nas viagens de f�rias e nas aulas de gin�stica, por exemplo.

O surgimento de uma nova gera��o de idosos online – como o casal Bon e Pon, que compartilha no Instagram fotos de suas viagens e atividades usando roupas combinadas – � um exemplo de como os idosos est�o consumindo e aproveitando a vida como os mais jovens.
Prolongando a vida profissional
Uma parte essencial da longevidade e do aumento da expectativa de vida saud�vel � a liberdade para trabalhar.
Quando os profissionais vivem mais e com sa�de, pode ser uma oportunidade de colher o que a consultoria Deloitte chama de “dividendo da longevidade” – ou seja, aumentar a produtividade econ�mica a partir de profissionais mais velhos.
Na Alemanha, manter os trabalhadores idosos ativos � uma quest�o de estabilidade econ�mica nacional. Mais de 21% da popula��o alem� tem mais de 65 anos.
A Moody's, ag�ncia de classifica��o de risco, afirmou que o envelhecimento da popula��o apresenta uma amea�a � for�a econ�mica do pa�s europeu.
Se a Alemanha perder a nota de cr�dito triplo A (AAA), a Moody´s alertou que provavelmente ser� por causa do" impacto da mudan�a demogr�fica na economia e nos sistemas de seguridade social" do pa�s.
Diante dos avan�os na expectativa de sa�de e de vida, espera-se que um alem�o de 65 anos viva hoje mais 20 anos, segundo a Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico (OCDE).
No entanto, devido � natureza fisicamente exigente da ind�stria de transforma��o, manter trabalhadores no ch�o de f�brica at� a idade da aposentadoria continuar� sendo um desafio.
Algumas empresas alem�s est�o recorrendo � tecnologia para acomodar trabalhadores idosos e mant�-los ativos. A f�brica da Porsche em Leipzig, por exemplo, implementou medidas de ergonomia na linha de produ��o para ajudar os trabalhadores.
Os funcion�rios normalmente trabalham em turnos de uma hora, e v�o trocando de esta��o ao longo do dia.
Toda a f�brica foi mapeada com um sistema de sem�foros que indica o grau de conforto ergon�mico de cada esta��o, para que os gestores possam programar turnos que garantam que nenhuma parte do corpo do funcion�rio ficar� sobrecarregada.
"O objetivo da ergonomia n�o � reagir, mas prevenir", diz Alissa Frey, especialista em ergonomia da Porsche em Leipzig.
“A rota��o entre as diferentes etapas da linha de produ��o ajuda a evitar tens�es unilaterais. Al�m disso, ajustes de processos e componentes, limita��o de for�a, esta��es de trabalho de altura ajust�vel, dispositivos de manipula��o e sistemas de suporte, assim como o destacamento adequado de nossos funcion�rios, evitam uma sobrecarga f�sica.”
Mas se o aumento da longevidade vai se tornar um fardo ou um dividendo, depender� de quanto as sociedades v�o se preparar para enfrentar os desafios do envelhecimento da popula��o, al�m de identificar e maximizar seus benef�cios.
"Os baby boomers representam uma nova gera��o", diz Coughlin.
"Portanto, existe a expectativa de que, embora n�o sejam mais jovens, eles se sintam jovens. E n�o apenas esperam, mas em muitos casos exigem novos produtos, novos servi�os, novas experi�ncias, para tornar cada etapa da vida – se n�o todos os dias – um pouco melhor.”
Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Work Life.
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