'Sou a m�e dela', de Adriana Ara�jo, � como uma semente de esperan�a

“Minha filha, Giovanna, tinha um ano e meio. J� havia enfrentado tr�s cirurgias e andava com ajuda de um aparelho ortop�dico – uma engrenagem de pl�stico e metal que come�ava no p� e s� terminava na virilha e deixava aquele pedacinho de gente com um ar de robocop, com passos meio desengon�ados”, diz a jornalista e apresentadora de TV Adriana Ara�jo em uma carta aberta escrita h� cinco anos e destinada a um m�dico, o qual n�o se lembra o nome, e que, em suas palavras, n�o enxergou sua filha. 

Carta essa que, atualmente, faz parte do livro “Sou a m�e dela”, escrito por Adriana Ara�jo e publicado pela Globo Livros recentemente. Giovanna Ara�jo, atualmente com 23 anos e agora estudante de medicina, fazia uso desse aparelho para andar, pois, em raz�o de um problema cong�nito, a Hemimelia Fibular – aus�ncia de um osso que compromete o desenvolvimento do membro mais afetado, no caso, a perna direita –, havia nascido com as pernas deformadas. 

“Mas ela seguia atr�s de uma bola e sorria, como qualquer crian�a”, relembra a m�e em outro trecho da carta. Por�m, mesmo ap�s in�meras cirurgias e algumas melhoras, Giovanna ainda caminhava com algumas dificuldades. Foi, ent�o, que o m�dico ao qual a carta e parte do livro se destinam as atendeu e declarou que a melhor op��o para a pequena era a amputa��o do membro. 

Adriana, por sua vez, n�o desistiu de sua filha e logo o n�mero 18 surgiu em sua mente, conforme relatos. “Dei a minha decis�o de m�e, assim, com a perna bamba, o cora��o disparado e o choro por um fio: ‘o dia que ela fizer 18 anos, se ela quiser amputar o p�, ela vem aqui, te procura e autoriza a amputa��o'”, diz. Aquele dia, que parecia intermin�vel para a rep�rter, acabou alguns anos depois, mais precisamente em 2015, quando Giovanna completou a maioridade. 

“Ela continua baixinha, o que a faz parecer mais uma adolescente do que uma adulta. Ela j� tem aparelhos nas pernas. Tem cicatrizes. Seguimos lutando contra o medo. Minha filha n�o vai voltar ao consult�rio dele e autorizar a cirurgia de amputa��o. Hoje ela tem as pernas do mesmo tamanho, o calcanhar quase todo apoiado no ch�o. Tem dificuldades para usar salto alto, mas j� n�o precisa de nenhum aparelho ortop�dico na perna. E n�o precisa de mais cirurgias. Usa t�nis quase todo o tempo, anda, corre, faz gin�stica, nada, estuda, viaja, pega metr�, sai com as amigas…”, relata. 

Como toda menina de 8, 18 ou 23 anos merece sorrir, Giovanna sorri at� hoje. Para al�m do m�dico que n�o a “enxergou”, foram muitos desafios. Uma jornada m�dica, sim, conforme conta Adriana Ara�jo, mas tamb�m uma busca incessante pela autoestima. “Quando voc� tem um filho ou filha com uma diferen�a f�sica, voc� pensa no quanto voc� precisa caminhar para construir a autoestima, o respeito e amor por si mesma, porque o mundo muitas vezes v� limita��es e impossibilidades antes de possibilidades.” 

“O mundo �s vezes usa palavras que limitam, diminuem, machucam e que podem causar um estrago muito grande em crian�as com uma diferen�a t�o grande, como a Giovanna e tantas outras. S�o 1 bilh�o de pessoas com diferen�as no mundo. Ent�o, o livro fala sobre a import�ncia de voc� refletir sobre como ajudar crian�as com diferen�as a crescer com autoestima”, diz a m�e dela, que conta, ainda, que foi ao ver a sua hist�ria e de Giovanna como uma semente de esperan�a para tantas outras que a ideia do livro surgiu. 

 

 

“Depois de a Giovanna ter entrado na faculdade de medicina e ter conclu�do etapas angustiantes, senti uma necessidade de fazer uma revis�o de tudo que a gente tinha vivido. E fiz da escrita uma terapia. Simultaneamente, entrei em uma outra fase muito angustiante, a de procurar as luvas m�dicas da Giovanna, luvas feitas sob medida, porque ela tem dois dedos na m�o direita, ela nasceu assim por conta da s�ndrome ortop�dica. E ela precisava de luvas sob medida para ser m�dica. Foi angustiante porque n�o � algo que exista facilmente e muitas pessoas te d�o 'n�os', sem nem tentar.” 

“Nesse processo todo, comecei a escrever, inclusive escrevi para os dois m�dicos dos anjos de jaleco – que ajudaram Giovanna – para quem sempre quis escrever. Mas ainda n�o pensava como um livro. Quando descobrimos as luvas, depois de um ano e meio de busca e de levar muitos 'n�os', vi que a Giovanna n�o era a �nica no mundo que precisava de uma luva m�dica sob medida para poder exercer a medicina. E ent�o enxerguei que contar a nossa hist�ria poderia levar uma semente de esperan�a para outras pessoas”, completa. 

Adriana Ara�jo conta que Giovanna n�o acompanhou de perto todo o processo de escrita, muito em fun��o da falta de tempo pelos estudos e, tamb�m, da particularidade dos textos de m�e, como denomina a autora. “Eu guardava. Quando efetivamente pensei que poderia virar um livro, ela leu e, inicialmente, ficou reservada, porque � do estilo dela, e resistiu sobre a ideia do livro”, relata a jornalista. Por�m, segundo ela, a jovem se surpreendeu com o que ali continha. 

 

"Foi uma luta grande, teve afli��es, ang�stias, dores, mas tiveram muitas alegrias e pessoas que estenderam as m�os. Ent�o, esse livro � uma tentativa de fazer, tamb�m, uma jornada de gratid�o"

Adriana Ara�jo, jornalista e autora do livro "Sou a m�e dela"

 

“Ela que escreveu a introdu��o e, l�, ela conta que resistiu � ideia do livro, mas, no momento que leu, foi surpreendida ao ver a hist�ria que conhecia contada pela perspectiva da m�e. Uma jovem. Ent�o, ela viu que eu tamb�m era jovem quando fui m�e e percebeu o bastidor da hist�ria sobre o meu olhar. E tem um texto muito bonito dela falando sobre isso, sobre enxergar a pr�pria hist�ria na vis�o da m�e, que esteve ao seu lado nos melhores e piores momentos. Fiquei muito emocionada.” 

Para al�m de todas as lutas e jornada enfrentadas ao longo da vida de Giovanna Ara�jo, essa, para Adriana, � gratid�o pura. “Foi uma luta grande, teve afli��es, ang�stias, dores – ela enfrentou muitas dores entre as cirurgias –, mas tiveram muitas alegrias e pessoas que estenderam as m�os. Ent�o, esse livro � uma tentativa de fazer, tamb�m, uma jornada de gratid�o”, pontua. 

O livro “Sou a m�e dela” n�o ficou apenas em relatos, reconhecimento e pertencimento. Para al�m de crian�as poderem se enxergar na hist�ria e lutar pela vida e autoestima, elas poder�o sentir na pele um pouco de todo esse amor em forma de doa��o. Segundo a autora e jornalista, Adriana Ara�jo, a princ�pio, todo o valor arrecadado por ela seria dividido entre doa��es e uma “poupan�a” para Giovanna investir em sua profiss�o futuramente. Por�m, a jovem guerreira abriu m�o de sua parte. 

“Decidi doar para crian�as com Hemimelia Fibular, pois ela � uma s�ndrome que demanda muitas cirurgias, o SUS n�o tem vagas dispon�veis e especialistas em todas as capitais para atenderem essas crian�as. Ent�o, muitas acabam amputadas ou n�o caminham, e muitas est�o fazendo vaquinhas na internet para as cirurgias. Eu coloquei no livro, na contracapa, que parte dos royalties iriam para as crian�as e a outra parte eu gostaria de dar de presente para a Giovanna investir em alguma coisa dela como m�dica. Mas a Giovanna abriu m�o desse presente e aceitou doar tamb�m, ent�o vai tudo para as crian�as”, diz orgulhosa. 

Para comprar o livro “Sou a m�e dela”, basta acessar o link: https://globolivros.globo.com/livros/sou-a-mae-dela. 

*Estagi�ria sob supervis�o da editora Teresa Caram