Entenda como falta de rem�dio pode parar transplantes de medula no Brasil

O fim da disponibilidade do medicamento bussulfano no Brasil, devido ao fechamento no pa�s do laborat�rio franc�s Pierre Fabre, que produzia o f�rmaco, preocupa m�dicos e pacientes. O medo � que a falta do rem�dio no mercado brasileiro provoque um grande n�mero de adiamento ou mesmo a paralisa��o dos transplantes. Entenda como um �nico medicamento pode afetar milhares de procedimentos m�dicos nacionais a partir de junho de 2021.

O bussulfano, medicamento mais usado no mundo no tratamento condicionante para pacientes que v�o passar por transplante de medula �ssea, � indispens�vel para crian�as e adultos que necessitam do procedimento. Somente em 2019, o Brasil realizou 3,8 mil transplantes de medula �ssea em adultos e 534 pedi�tricos.

“Como paciente que j� passou pelo tratamento oncol�gico e precisei da medica��o, me sinto angustiada pelas outras pessoas por saber o quanto � duro se submeter a um transplante. Quando encontra seu doador, faz todo o tratamento esperando a cura definitiva, que talvez venha com o transplante, e fica sabendo que n�o talvez n�o seja poss�vel realizar, n�o porque voc� n�o quer ou porque te falta um doador, mas sim porque est� faltando uma media��o para realizar o tratamento da forma mais adequada”. O relato � da escritora Duda Riedel, diagnosticada com leucemia em 2019, frente ao iminente desabastecimento de bussulfano no Brasil.

A ang�stia de Duda � compartilhada por m�dicos e pacientes � espera do transplante, isso porque o bussulfano � distribu�do por um �nico laborat�rio no Brasil, o franc�s Pierre Fabre, que comunicou em novembro de 2020 a suspens�o da disponibilidade do medicamento a partir de junho de 2021. A �nica f�brica aprovada pela Anvisa, no Rio de Janeiro, foi desativada.

Em nota, a Pierre Fabre afirmou que “a possibilidade de interrup��o do abastecimento surgiu de uma quest�o operacional, decorrente do encerramento da atividade de produ��o do medicamento no local de fabrica��o atualmente aprovado pela Anvisa”. A reserva do Instituto Nacional do C�ncer, o Inca, tem dura��o de apenas tr�s meses. A nota do laborat�rio ainda afirma que est� “trabalhando ativamente com Otsuka (laborat�rio japon�s detentor da licen�a do medicamento) para buscar uma nova op��o de fornecimento de bussulfano ao mercado brasileiro.” 

O presidente da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula �ssea (SBTMO), Nelson Hamerschlak explica a import�ncia do medicamento para os transplantes. “A medula est� presente nos ossos do corpo todo, e o que os medicamentos quimioter�picos, como o bussulfano, fazem � abrir espa�o para receber a nova medula. O bussulfano  � o mais importante usado nesse sentido. Al�m disso, � praticamente o �nico no Brasil, apesar de existirem alternativas fora do pa�s, mas que s�o pouco efetivas ou muito t�xicas”, descreve Hamerschlak. 

O coordenador do servi�o de Transplante de medula �ssea da Santa Casa de BH Wellington Azevedo corrobora com a fala de Hamerschlak. “No mercado brasileiro podemos encontrar a radioterapia corporal total que � muito mais t�xica, e implica em maiores efeitos colaterais ao paciente. No mercado internacional o bussulfano est� dispon�vel, o problema � que a importa��o apresenta dificuldades regulat�rias, como aprova��o da Anvisa e tem seu pre�o muito mais caro, o que inviabiliza seu uso pela n�o aceita��o deste custo pelas fontes pagadoras (SUS e planos de sa�de)”.

Existem 70 centros para transplantes de medula �ssea no Brasil. Destes, 30 realizam transplantes com doadores n�o aparentados, quando prov�m de uma pessoa desconhecida, e est�o distribu�dos por oito estados brasileiros e o Distrito Federal. Em Minas Gerais, a Santa Casa � um dos hospitais de refer�ncia para a realiza��o do TMO quando fez o primeiro transplante de medula em 2012, de l� para c� foram mais de 190 pessoas transplantadas na casa de sa�de.

Em nota, a Anvisa afirmou que “n�o possui instrumento legal que impe�a os laborat�rios farmac�uticos de retirarem seus medicamentos do mercado”, mas que realizou uma reuni�o com a empresa Pierre Fabre para tratar da situa��o regulat�ria do medicamento bussulfano.

“Nesta oportunidade, a empresa informou que possui estoque dispon�vel do medicamento para atender � demanda nacional prevista at� junho/2021. Adicionalmente, a empresa realizar� nos pr�ximos dias uma solicita��o excepcional � Anvisa, para a importa��o de um quantitativo, deste medicamento, suficiente para abastecer o mercado nacional por mais um ano. Dessa forma, h� uma previsibilidade de estoque do produto at� junho/2022”, disse a ag�ncia. 

A medula �ssea � a f�brica de sangue do organismo, por conter as c�lulas-tronco que produzem alguns componentes do sangue, como as hem�cias ou gl�bulos vermelhos, os leuc�citos, que s�o parte do sistema de defesa organismo, e as plaquetas, respons�veis pela coagula��o sangu�nea. A medula 

Em raz�o da pandemia de coronav�rus, dados mais atualizados do Redome, do Instituto Nacional do C�ncer, mostram que 2020 foi o ano com a menor entrada de novos doadores no cadastro para doa��o. No Brasil, 850 pessoas ainda esperam na lista para fazer o Transplante de Medula �ssea, ainda de acordo com dados do Redome (Registro Nacional dos Doadores de Medula �ssea). 

Para ser doador � necess�rio ter entre 18 e 55 anos de idade e boa sa�de. Para se cadastrar, o candidato a doador dever� procurar o hemocentro mais pr�ximo de casa para esclarecer d�vidas que existam. Os dados do doador s�o inseridos no cadastro do Redome e, sempre que surgir um novo paciente, a compatibilidade ser� verificada. Uma vez confirmada, o doador ser� consultado para decidir quanto � doa��o. O transplante de medula �ssea � um procedimento seguro, realizado em ambiente cir�rgico, feito sob anestesia geral, e requer interna��o de, no m�nimo, 24 horas.