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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Envelhecimento: 'A coisa mais moderna que existe nesta vida � envelhecer'

N�o � a passagem do tempo que torna t�o dif�cil envelhecer, mas sim o preconceito de idade e a cultura de descarte


02/05/2021 04:00 - atualizado 01/05/2021 21:30

“A coisa mais moderna que existe nesta vida � envelhecer/A barba vai descendo/E os cabelos v�o caindo pra cabe�a aparecer/Pois ser eternamente adolescente/Nada � mais d�mod�/N�o sei por que essa gente/Vira a cara pro presente e esquece de aprender/Que felizmente ou infelizmente/Sempre o tempo vai correr.” Arnaldo Antunes, de 60 anos, m�sico, poeta, compositor e artista visual, ex-integrante e um dos fundadores do Tit�s, em plena atividade, em sua can��o “Envelhecer” traduz com maestria esta fase da vida, t�o rica e t�o desprezada, atacada e menospreza por muitos.

Sem tabus, sem lutar contra o inevit�vel na ordem natural da vida, � preciso entender que vale a pena passar pelo processo do envelhecimento. No entanto, apesar da revolu��o da longevidade nas �ltimas d�cadas, com maior expectativa de vida, o preconceito � real e o entrave na vida de quem encara a velhice continuam presentes. Tanto que o termo age�smo, do ingl�s ageism, foi criado pelo psiquiatra americano Robert Butler, em 1969, para descrever que o preconceito da sociedade com as pessoas mais velhas ainda persiste. Seus estudos observaram que o estere�tipo desencadeia pr�ticas discriminat�rias e favorece o isolamento.
 
Rô Maciel, arquiteta e designer de joias, de 61 anos, diz que é superimportante mostrar que é possível chegar à maturidade com leveza. Nunca me imaginei tão feliz em chegar aos 60, quase 62 anos Rô Maciel, arquiteta, consultora de imagem, designer de joias
R� Maciel, arquiteta e designer de joias, de 61 anos, diz que � superimportante mostrar que � poss�vel chegar � maturidade com leveza. Nunca me imaginei t�o feliz em chegar aos 60, quase 62 anos R� Maciel, arquiteta, consultora de imagem, designer de joias (foto: Vict�ria Pekny/Divulga��o)
 
O age�smo, tamb�m identificado como idadismo, etarismo e idosismo, � entendido como a��es diretas ou indiretas em que algu�m � exclu�do, considerado diferente, ignorado ou tratado como se n�o existisse devido � sua idade. � a discrimina��o aos idosos, a marginaliza��o e eventual exclus�o social. � urgente que haja uma ressignifica��o no modo de vivenciar, representar e conviver com o velho e o processo de envelhecimento.

O envelhecer nunca � igual para todos. E o “envelhecer bem” � subjetivo. Fato � que cada um tem sua hist�ria e quem continua ativo, independente, produtivo, curioso, com sa�de e saud�vel, tem o direito de seguir presente em todos os n�veis da sociedade. E quem necessita de cuidado, das mais diversas ordens, tamb�m tem o direito de ser tratado, auxiliado, acompanhado da maneira mais humana e digna para levar a vida. J� passou da hora de as pessoas se livrarem de estere�tipos negativos e eufemismos que deram origem a express�es como “terceira idade”, “melhor idade”, “meia-idade”, “maior idade”, que n�o passam de termos discriminat�rios para justificar uma sociedade pautada pelos padr�es de consumo focada nos jovens.
 
Mesmo diante de uma mudan�a inevit�vel, com a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) mostrando que a propor��o de pessoas com 60 anos ou mais em todo o mundo ir� duplicar nas pr�ximas d�cadas, devendo alcan�ar a marca de 2 bilh�es at� 2050. Entre os idosos, a faixa populacional que mais cresce � aquela que compreende os acima de 80 anos. Foram contabilizados 70 milh�es em 2000 e estima-se que venham a quintuplicar ao longo da primeira metade deste s�culo. Viveremos dias em que haver� mais av�s do que netos.


SEPTUAGEN�RIA MUITO VIS�VEL 


A psic�loga cl�nica Clara Feldman, que se orgulha de ser uma “septuagen�ria muuuito vis�vel”, com 71 anos, destaca que, antes de mais nada, � preciso pensar na in/visibilidade dos velhos em dois n�veis: circunst�ncias externas que “querem” tornar o velho invis�vel; e o sentimento de ser invis�vel. E nem sempre a (in)visibilidade tem a ver com a idade: dependendo da perspectiva, existem jovens invis�veis e velhos muito vis�veis.

Para a psicóloga Clara Feldman, de 71 anos, existe uma essência em cada um, e ela está presente a cada fase da vida, não importa a idade
Para a psic�loga Clara Feldman, de 71 anos, existe uma ess�ncia em cada um, e ela est� presente a cada fase da vida, n�o importa a idade (foto: Dani Castro/Divulga��o)


Clara, muito ativa no trabalho e na vida social, revela que carrega uma frase que ouviu da m�e desde cedo: “Precisamos envelhecer com dignidade, minha filha”. E o que seria envelhecer com dignidade? “Lembro-me da Ora��o da Serenidade, que aplico � minha vida na maior parte do tempo: 'Que eu tenha a for�a para mudar o que posso mudar; serenidade para aceitar o que n�o posso mudar; e sabedoria para diferenciar uma situa��o da outra'. Assim � tamb�m com o envelhecimento: serenidade e aceita��o para as limita��es que a idade nos imp�e; for�a e energia para continuar vivendo de forma rica, interessante e produtiva”.

Por amar o que faz, Clara conta que sua palavra-chave � trabalho. E todas as consequ�ncias que dele resultam: independ�ncia financeira e emocional, autonomia, gratifica��o, senso de import�ncia e de utilidade. “Me sinto profissional e pessoalmente como vinho: quanto mais velha, melhor. Mais experiente, mais madura, mais equilibrada, menos ansiosa.”

Para ela, ainda que possa soar como clich� psicol�gico, � um clich� verdadeiro: “A (in)visibilidade come�a dentro de n�s. Serei desrespeitada se eu n�o souber me respeitar e se n�o souber impor respeito aos outros. N�s, velhos, temos que tomar muito cuidado para n�o assumir o papel de v�timas. Temos nossa enorme parcela de responsabilidade na maneira como seremos vistos. Se me vejo com bons olhos, serei vista assim tamb�m.”

N�s, velhos, temos que tomar muito cuidado para n�o assumir o papel de v�timas. Temos a nossa enorme parcela de responsabilidade na maneira como seremos vistos. Se me vejo com bons olhos, serei vista assim tamb�m

Clara Feldman, de 71 anos, psic�loga

Clara compartilha a observa��o de um autor americano que estudou e cujos livros traduziu e publicou, John Powell: “'Como se vive, se envelhece'. Acho que, nesse sentido, n�o existem peculiaridades dos velhos, mas das pessoas. Creio que existe uma ess�ncia em cada um, e ela est� presente a cada fase da vida, n�o importa a idade”. Ent�o, sabe de quem depende essa postura de descarte do velho? Para Clara, dos velhos. “N�o adianta querer me descartar: eu estou aqui trabalhando, desfrutando do que gosto, tra�ando meus caminhos. Eu n�o me descarto.” 

Clara sabe que n�o � dif�cil ver a nega��o da velhice e o sofrimento de quem a nega: “M�ltiplas cirurgias pl�sticas, roupas inadequadas para o corpo que mudou, tentativa de imitar os jovens, relacionar-se s� com pessoas bem mais novas.  O tempo, o envelhecimento e a morte s�o irrevers�veis, incur�veis, inexor�veis. � da responsabilidade do velho impor respeito”.


AINDA NO JOGO 


Rog�ria Maciel, conhecida como R� Maciel, de 61, arquiteta, consultora de imagem, designer de joias e fundadora da marca Rog�ria Maciel – Estilo & Acess�rio, est� em movimento e sem medo de envelhecer. “Sempre fa�o quest�o de falar minha idade, 61 anos, quase chegando aos 62, inclusive. Superimportante para mostrar que � poss�vel chegar � maturidade com leveza. Nunca me imaginei t�o feliz em chegar aos 60”, diz.

R� Maciel enfatiza que se coloca e se identifica com uma mulher ageless – do tempo de agora. “Muito do que sou � o espelho do que vivenciei em casa. Tive uma cria��o em que a posi��o da mulher – no caso a minha m�e – sempre foi de lideran�a afetiva e liberdade nas escolhas. Minha constru��o foi em cima dessas refer�ncias. Seguran�a daquilo que somos e queremos, com certeza, abre portas e � algo totalmente desvinculado da idade.”

Com sua marca, R� Maciel decidiu focar no p�blico 50+, mas revela que ocorreu naturalmente: “Sempre estive � frente dos meus neg�cios e expondo minha imagem. Com o tempo, essa imagem se tornou meio que uma inspira��o para esse p�blico, de que eu tamb�m fa�o parte”. Hoje, al�m das consultorias, divulga produtos em que acredita. “Conhecer-se � fundamental em todos os per�odos da vida, por�m, na maturidade, traz seguran�a e consequentemente autoestima.”

R� Maciel contagia pelo fato de n�o ter estacionado na vida.  “Acho que minha curiosidade e inquietude me trouxeram aonde cheguei. Sou geminiana, gosto do novo e n�o paro diante da vida e dos erros. Continuo querendo aprender, ainda estou totalmente no jogo. Simples assim.”






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