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Estado de Minas ESSENCIAL

Literatura desperta jovens para a compreens�o do mundo e o autoconhecimento

Adolescentes estimulados a mergulhar na literatura despertam para a compreens�o de um mundo de sensa��es e desejos


10/10/2021 06:00 - atualizado 10/10/2021 11:10

Adolescente se inspirou na paixão dos pais pelos livros
Rafael Penido explora a estante de livros em casa, encontrando temas que n�o acessa na internet (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Ferramenta importante de conhecimento, compreens�o de perspectivas, desejos e sensa��es, a leitura proporciona tamb�m a elabora��o de repert�rios e projetos de vida. S�o quest�es que ganham sentido especial na adolesc�ncia, momento de descobertas e transforma��es. Na era digital, em que tudo � veloz e muitas vezes superficial, a literatura pode ser uma forma de autopercep��o e posicionamento frente � sociedade, assim como forma de entender a exist�ncia, durante o per�odo em que as pessoas est�o em forma��o. 

Isso explica a recomenda��o de especialistas no sentido de que seja encurtada a dist�ncia entre os jovens e os livros. Afinal, mergulhar nas palavras tamb�m � ler o mundo. Falar de literatura � ter interesse pela vida, com suas alegrias, afli��es, inseguran�as, o que se chamaria de certezas, ou medos, um meio de identificar e dar nome aos sentimentos, como observa a educadora social Bel Santos Mayer, coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunit�rio (IBEAC) e cogestora da Rede Li- teraSampa. 
 
“Deve-se encontrar uma leitura que ajuda a falar. N�o um texto que vem dar respostas, mas um texto que provoca, que nos faz indaga��es, nos ajuda a perguntar sobre o que a gente sente. H� muitas quest�es na adolesc�ncia, e a literatura � um jeito de elaborar essas quest�es”, refor�a. A fam�lia e a escola s�o agentes centrais nessas constru��es, segundo a educadora.

A literatura compartilhada � uma oportunidade de abrir o di�logo. Para manter o interesse dos adolescentes pela leitura, Bel Mayer diz que uma das ideias � inserir os livros nas atividades da fam�lia. Em geral, eles n�o est�o entre as principais esco- lhas de entretenimento.

“� importante ter livros em casa, frequentar espa�os onde os livros habitam, participar de eventos culturais. E na escola nem se fala. �s vezes, fica muito centrada em um curr�culo, insere a obra liter�ria como complemento de outros conte�dos, mas a dire��o deveria ser outra: quais s�o as experi�ncias que os adolescentes atravessam e quais livros podem ajudar a conversar sobre elas”, pontua.

Para Bel Mayer, o homem est� sempre fazendo a leitura do mundo e, assim, o desafio � encontrar palavras que ajudem no comparti- lhamento dessas leituras do mundo. Estar no universo liter�rio � romper com vis�es limitadas, com monop�lios de narrativas. Preservar o h�bito da leitura � associ�-lo tamb�m � escrita. “Os adolescentes vivem escrevendo, �s vezes com palavras, outras com imagens. Se aproximarmos a literatura de sua vida, incluindo a escrita e outras linguagens, faz sentido que esses meninos e meninas leiam cada vez mais. Isso amplia seu repert�rio de comunica��o”, acrescenta.

Os adultos s�o parte desse processo. "Ver pessoas lendo, nas mais variadas situa��es, contribui para a edifica��o do gosto pela leitura, al�m de estabelecer algumas rotinas para garantir o tempo de ler”, destaca a  educadora. Nesse aspecto, o contato com o livro e os espa�os digitais, para a educadora, n�o est�o em oposi��o.

Os meios virtuais, ela diz, tamb�m s�o instrumentos de leitura e para falar de leitura. Sejam as leituras individuais, sejam as coletivas, as redes sociais funcionam como ferramentas para contar sobre a leitura do momento, sobre o que se est� lendo. “O digital � um formato poss�vel para acessarmos os textos liter�rios e tamb�m uma porta para conversar sobre os livros, para as indica��es liter�rias. Uma postagem acaba desencadeando muitas outras conversas. Afinal, estamos falando de vida. Sempre tem um livro que se conecta aos v�rios assuntos, sempre tem um livro para chamar de seu”, ressalta Bel Mayer.
 
 Educadora chama a atenção para que seja oferecida aos adolescentes leitura provocativa da consciência
Bel Santos Mayer (foto: Douglas Barcelos/Divulga��o)

"Quanto mais voc� l�, mais repert�rio, mais compreens�o, mais an�lise. Se isso se d� em rituais coletivos, o ganho � ainda muito maior"

Bel Santos Mayer, cogestora da Rede LiteraSampa



MUSCULATURA Os benef�cios do livro para a aprendizagem n�o t�m limites. “Quem l� mais escreve mais, imagina mais, conversa mais. A literatura vai dando uma musculatura para estar presente no mundo. Quanto mais voc� l�, mais repert�rio, mais compreens�o, mais an�lise. Se isso se d� em rituais coletivos, o ganho � ainda muito maior”, constata a educadora.

Considerando os reflexos da leitura para a forma��o cidad�, est� a possibilidade de reconhecer a pr�pria presen�a no mundo. “Quando leio obras liter�rias que foram escritas muito antes de meu nascimento, me sinto pertencente � humanidade. Quando leio obras de pessoas mais jovens do que eu, percebo a continuidade dessa humanidade, essa dire��o de estar frente aos outros. � o conceito da autonomia, que Paulo Freire insere na pedagogia. O benef�cio de construir uma autonomia de pensamento, de leitura, de escolhas”, diz.

EXPERI�NCIA NOVA Rafael Penido, de 12 anos, tem no pai e na m�e, Pedro e Patr�cia, exemplos de devoradores de livros, inspira��o para mergulhar na leitura. Sempre que tem vontade de ler, se dirige � estante de casa e explora aquele universo. Come�a a leitura e, aos poucos, segue at� as �ltimas p�ginas. Seu tema preferido s�o os animais. Ele conta, ainda, que gosta de hist�rias diferentes, poesias, adora revistas em quadrinhos e imagens.

O garoto sabe que os conte�dos oferecidos nos livros nem sempre s�o acessados no computador. “No livro eu encontro outros assuntos que n�o tem na internet. Tem coisas sobre o passado, temas de quando eu ainda nem era nascido. Tamb�m chega uma hora em que ficar muito na frente da tela faz mal”, diz. 

Para Rafael, os livros s�o mais elaborados, ajudam a melhorar a escrita, a conhecer palavras novas. "Se eu n�o sei escrever uma palavra, olho no livro. Sei que l� vai estar certo." Bel Santos Mayer compara a experi�ncia da leitura � da nutri��o.

Da mesma forma que h� um esfor�o entre a fam�lia para introduzir uma alimenta��o saud�vel na vida das crian�as, estrat�gias tamb�m deveriam ser usadas para incentivar a leitura. “Sabe aquela hist�ria de dizer que n�o gosta de uma comida sem nunca a ter provado? Tem pessoas que dizem que n�o gostam de ler porque nem tiveram a oportunidade de fazer essa escolha, porque a literatura n�o lhes foi sequer apresentada”, alerta.Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Inspirado no h�bito dos pais, Rafael Penido explora a estante de livros em casa, encontrando temas que n�o acessa na internet

H�bito que demanda constru��o cont�nua

A despeito de toda a riqueza proporcionada pela leitura, algo desfavor�vel � a constata��o de que a leitura vai sendo abandonada ao longo da vida. L�-se mais na inf�ncia, quando h� sempre algu�m lendo para a crian�a, depois nos primeiros anos escolares, j� que a literatura est� presente na pr�tica curricular, e logo ela fica mais restrita, seguindo no ensino m�dio e depois no ensino superior. 

“Depois s�o os adultos que sabem ler, mas que muitas vezes deixam a leitura de lado”, observa a educadora Bel Mayer, ponderando que, por outro lado, s�o situa��es que n�o devem ser generalizadas. Para ela, esse abandono, esse descaso do adulto com a leitura, quando ocorre, � como deixar para tr�s a import�ncia de construir o h�bito. "Devemos emprestar nossa voz e fazer da leitura um momento de aconchego, um gesto de entrega, quando a gente oferece um colo liter�rio, uma casa liter�ria, o que eu chamo tamb�m de um quilombo liter�rio. Trata-se da elabora��o de uma nova sociedade tamb�m pela palavra", diz.

A literatura continua viva, ainda que h� algum tempo as pessoas possam ter imaginado que os livros seriam extintos. A cena cultural d� provas disso pelas ruas, em saraus, festas liter�rias, teatro, nas interven��es po�ticas, bi- bliotecas comunit�rias. "� levar a lite- ratura para al�m das estantes. Ali os livros esperam o leitor. Agora, os livros saem, ocupam as ruas, os postes, os meios de transporte, as redes sociais. S�o iniciativas que precisam se tornar cada vez mais vis�veis", ensina Bel Mayer.


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