
“O essencial � invis�vel aos olhos. S� se v� bem com o cora��o.” A c�lebre frase de Antoine de Saint-Exup�ry no livro “Pequeno Pr�ncipe”, romance cl�ssico de 1943, � ideal para as pessoas encararem aquelas que s�o superdotadas e t�m habilidades especiais. S�o indiv�duos especiais, mas que devem ser tratados e de maneira natural.
A psic�loga Denise Arantes Brero, doutora em psicologia de desenvolvimento de aprendizagem e presidente do Conselho Brasileiro para Superdota��o (Conbrasd), destaca que o maior desafio � o desconhecimento sobre o tema. A desinforma��o leva a pensamentos err�neos de que essas pessoas s�o boas em tudo, que ter�o sucesso na vida, independentemente do trabalho duro, entre outros mitos.
“Essas ideias aumentam as expectativas sobre a pessoa, causando desconforto e, em alguns casos, recusa em demonstrar seus talentos para passar despercebida e evitar uma cobran�a exagerada. Precisamos falar sobre o tema, levar informa��o cient�fica e de qualidade para professores, pais e profissionais da sa�de, de modo que todos possam compreender esta situa��o e oferecer as melhores condi��es para a nutri��o desses potenciais. Um ambiente saud�vel promove o encorajamento dos talentos; desse modo, a pessoa superdotada poder� alcan�ar bem-estar e autorrealiza��o.”
Denise Arantes Brero enfatiza que, devido ao desconhecimento, o grande desafio � encontrar um ambiente adequado nas escolas. “Muitas delas n�o compreendem que estes estudantes fazem parte do p�blico-alvo da educa��o especial e t�m direito a atendimento educacional especializado. Outras duvidam do diagn�stico e procuram desqualificar os talentos do estudante, apontando aquela �rea em que ele n�o tem tanto destaque, por pensar que ele precisa ser bom em tudo.
De acordo com a especialista, as fam�lias tamb�m encontram dificuldades em localizar profissionais especializados que possam avaliar e apoiar seus filhos na rede p�blica de educa��o e sa�de. “Nesse sentido, � preciso que o poder p�blico re�na esfor�os para garantir atendimento de qualidade para este p�blico t�o invisibilizado e marginalizado.”
A doutora em psicologia avisa que, apesar de o governo de Minas Gerais n�o ter implantado os N�cleos de Atividades de Altas Habilidades e Superdota��o (NAHHS) em algumas cidades, como Lavras e Po�os de Caldas, existe o Centro para Desenvolvimento do Potencial e Talento (Cedet). “Essa � uma iniciativa formid�vel para o atendimento dos superdotados e foi idealizada pela professora Zenita Guenter. As estimativas mais conservadoras indicam que temos, no m�nimo, de 3% a 5% da popula��o com altas habilidades/superdota��o (AHSD). Nesta perspectiva, ter�amos mais de 6 milh�es de brasileiros superdotados, e muitos deles n�o tiveram oportunidade de ter seus potenciais reconhecidos e nutridos.”

Para entrar em contato com a entidade, que participa de diversas iniciativas no Brasil, Denise Arantes Brero recomenda o site www.conbrasd.org, que tem uma lista atualizada de associados prestadores de servi�os de avalia��o e orienta��o, al�m de divulgar conte�dos cient�ficos e de interesse, tamb�m nas redes sociais (@conbrasd) e na revista da Conbrasd.
MENSA BRASIL
Fundada em 2002, a Associa��o Mensa Brasil � a afiliada brasileira oficial da Mensa Internacional (www.mensa.org), criada em 1946, no Reino Unido, apontada como a mais antiga e prestigiada organiza��o de alto QI do mundo, criada para promover a intelig�ncia como ferramenta estrat�gica para o desenvolvimento e a evolu��o da humanidade.
Rodrigo Sauaia, presidente da Associa��o Mensa Brasil, destaca que ainda existe uma lacuna grande, uma aus�ncia de informa��es sobre o potencial intelectual brasileiro. “O que falta, especificamente, � a mensura��o desse potencial e at� mesmo a constru��o de um censo que permita termos mais clareza de como est� distribu�da e de como aproveitar essa intelig�ncia, especialmente em crian�as e adolescentes. Isso porque durante os anos iniciais do desenvolvimento, o diferencial de cogni��o pode fazer muita diferen�a para abrir portas, proporcionar oportunidades a esses indiv�duos, desde que esse potencial seja trabalhado, estimulado e treinado. O potencial sozinho n�o necessariamente se desenvolve.”
Nesse sentido, Rodrigo Sauaia destaca que a Mensa Brasil tem feito um esfor�o volunt�rio para realizar testes de admiss�o para avalia��o do alto QI intelig�ncia: “Ao identificar esses indiv�duos, � poss�vel apoi�-los no seu desenvolvimento. Esse � um assunto pouco explorado, mas fundamental quando pensamos no desenvolvimento de uma sociedade mais eficiente, mais inclusiva e que melhor aproveite seus recursos e suas potencialidades em benef�cio da humanidade.”
Rodrigo Sauaia alerta que reconhecer as altas habilidades, tanto em crian�as quanto em adultos, pode ser um desafio para pais, professores, amigos e colegas de trabalho. “Para os adultos, descobrir se voc� tem alto QI pode contribuir para ampliar sua rede de contatos e se envolver mais ativamente em iniciativas em prol das altas habilidades/superdota��o.

J� para as crian�as e jovens, pode fazer uma enorme diferen�a em todos os aspectos da vida, principalmente durante a forma��o socioeducacional, “com reflexos profundos na vida pessoal e profissional”. Os testes s�o feitos por psic�logos e neuropsic�logos, conforme diretrizes do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Este ano, a organiza��o j� promoveu uma rodada de testes de admiss�o, em 26 de mar�o, em 11 cidades de oito estados brasileiros. Na ocasi�o, foram identificadas 19 pessoas com altas habilidades. A entidade prepara nova rodada, prevista para o fim de maio.
sinais
De acordo com Rodrigo Sauaia, o primeiro passo para reconhecer sinais de altas habilidades � respeitar as caracter�sticas individuais da pessoa. “Indiv�duos com alto QI compartilham alguns tra�os recorrentes, que podem servir de pistas. A intelig�ncia � inerente � pessoa, mas o ambiente externo no qual ela est� inserida tamb�m exerce influ�ncia. Al�m disso, a intelig�ncia n�o est� restrita ao desempenho escolar ou acad�mico. Essas capacidades se expandem para outras �reas da vida, como atividades art�sticas, esportivas, profissionais e idiomas, entre outras”.
"A desinforma��o leva a pensamentos err�neos de
que essas pessoas s�o boas em
tudo, que ter�o sucesso na vida, independentemente do trabalho duro
Denise Arantes Brero,
psic�loga
palavra de especialista
Aline Rinco Dutra Salgado
mestre em diversidade e inclus�o/UFF, doutoranda em ensino em bioci�ncias e
sa�de/Fiocruz e representante de Minas Gerais no Conselho Brasileiro para Superdota��o (Conbrasd)

Direitos nem sempre garantidos
“Constatamos que h� d�cadas a educa��o brasileira passa por um grande desafio, ao determinar, em documentos legais, o acesso e a perman�ncia dos estudantes na escola, especialmente os que s�o o p�blico da educa��o especial. Nesse cen�rio, est�o inseridos crian�as e jovens com altas habilidades ou superdota��o, que apresentam potencial elevado e grande envolvimento com as �reas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, lideran�a, psicomotora, artes e criatividade. N�o obstante, s�o poucas as iniciativas que, efetivamente, buscam garantir os direitos desse alunado, visto que h� estat�sticas que indicam que quando a escolariza��o n�o est� em conson�ncia com suas demandas educacionais, perdem a motiva��o pela escola e tendem a um baixo desempenho na avalia��o, podendo apresentar problemas comportamentais, sociais e psicol�gicos. Destarte, sentem-se desmotivados com as atividades rotineiras da escola, permanecendo na invisibilidade e no descr�dito em rela��o ao potencial que podem atingir. Isso posto, necessitam participar do atendimento educacional especializado (AEE), no contraturno � escolariza��o, como forma de suplementar o ensino regular, a fim de potencializar suas �reas de interesse. Sempre que poss�vel, parcerias devem ser efetivadas, tendo em vista a participa��o em atividades desenvolvidas por institui��es de ensino superior, institutos voltados ao desenvolvimento e incentivo � pesquisa, �s artes e aos esportes, ou, ainda o acesso aos n�veis mais elevados do ensino, da pesquisa e da cria��o art�stica, de acordo com os talentos que apresentam. Com isso, vislumbro que sejam protagonistas e, dessa forma, colaborem para o fortalecimento de profissionais comprometidos com o desenvolvimento da ci�ncia e o avan�o tecnol�gico, entre outras �reas em nosso pa�s.
Cinco sinais de superdota��o*
1 – Racioc�nio r�pido para resolver problemas
2 – Boa mem�ria de longo prazo
3 – Boa mem�ria operacional, capta e processa diferentes tipos de informa��es ao mesmo tempo
4 – Consegue diferenciar sons e visualizar detalhes em imagens com muita facilidade
5 – R�pida curva de aprendizado, apresentando habilidades avan�adas para a sua idade cronol�gica
*Fonte: Mensa Brasil
Capacidades ponderadas
em um teste de QI*
» Habilidades de linguagem e matem�tica
» Capacidade de resolu��o de problemas
» Racioc�nio l�gico
» Rela��es espaciais
*Fonte: Psic�logo Belo Horizonte (https://www.psicologobelohorizonte.com.br/)
Em que situa��es um teste
de QI pode ajudar tanto o adulto quanto a crian�a?*
» Desordem do espectro autista
» Transtorno do d�ficit de aten��o e hiperatividade (TDAH)
» Dislexia, disgrafia e dispraxia
» Dist�rbios do desenvolvimento
» Detec��o de indiv�duo “superdotado” e/ou com talentos especiais
» Dificuldades espec�ficas de aprendizagem (SpLDs) e necessidades complexas
*Fonte: Psic�logo Belo Horizonte (https://www.psicologobelohorizonte.com.br/)
M�dia de QI de alguns pa�ses*
O teste de QI mais utilizado no mundo � o WAIS. Nele, � feita a maioria dos estudos em rela��o � m�dia do QI mundial em cada pa�s, em pontos e percentil, com desvio padr�o 15.
A melhor avalia��o seria a chamada de percentil, que tem como pico m�ximo 99.9 (equivalente a 99% de acertos,
j� que n�o existe 100, pois h� nuances que impedem
de existir o valor total mesmo quando se acertam 100% das quest�es no teste)
» Hong Kong e Coreia do Sul: 106 pontos, percentil 65,54
» Jap�o: 105 pontos, percentil 63,05
» Alemanha: 102 pontos, percentil 55,30
» China: 100 pontos, percentil 49,99
» EUA: 98 pontos, percentil 44,69
» Argentina: 96 pontos, percentil 39,48
» Brasil: 87 pontos, percentil 19,30
*Fonte: Sistema Knewin/pressmf.global