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Estado de Minas homenagem

Carreira e maternidade podem andar juntas

Embora pare�a imposs�vel, conciliar o trabalho e o cuidado dos filhos � vi�vel quando a mulher consegue transformar a culpa em uma conviv�ncia de qualidade


08/05/2022 04:00


 
A inser��o da mulher no mercado de trabalho ainda � uma conquista atual. Desde os prim�rdios da humanidade, a mulher � vista como uma extens�o da casa e do marido, tendo que colocar a fam�lia, principalmente os filhos, e o lar em primeiro lugar. Atualmente, essa ideia vem mudando. S�o in�meras as mulheres que passaram a conciliar a maternidade com o sonho de construir uma carreira profissional, mas ser� que isso � poss�vel?

“A entrada no mercado de trabalho foi uma conquista muito importante para nossa dignidade e autonomia. O problema � que o mundo do trabalho, apesar de muitas coisas j� terem mudado, ainda continua sendo um espa�o cruel e excludente para as m�es”, explica Carolina Dantas, psic�loga sist�mica e coautora do livro “Meu adolescente: Mem�rias, di�logos, conex�es”.

Quem precisa ou deseja trabalhar e ser m�e, encontra muitas barreiras e vivencia muitos desafios, como jornada dupla ou tripla, sobrecarga de tarefas e, consequentemente, encara a culpa e a ang�stia por ter que se ausentar tanto, al�m de cobran�as e julgamentos por suas escolhas. Estudo realizado pela revista Crescer entrevistou 2.887 mulheres, das quais 94% relataram ter dificuldade para conciliar maternidade e carreira, seja por preconceitos ou por falta de pol�ticas trabalhistas.
 
 
Graziela Andrade e a filha Helena
A pesquisadora da UFMG, Graziela Andrade, descobriu na dan�a novos modos de conciliar o trabalho aos tratamentos da filha Helena (foto: Arquivo pessoal)
 
“Tive medo de n�o conseguir continuar trabalhando por causa do desconforto da barriga, medo de parar durante a licen�a e perder minha renda, j� que sou aut�noma, muitas d�vidas sobre o que fazer nos primeiros meses, como faria para amamentar, se escolheria bab� ou creche. Tudo isso passa na cabe�a de uma m�e que precisa ou deseja continuar no mercado de trabalho”, destaca Carolina Dantas.

Mas, apesar de ser mais dif�cil, � sim poss�vel conciliar maternidade e carreira. Uma alternativa para o sentimento de culpa, por exemplo, muito discutida entre profissionais da psicologia, diz respeito a ter “tempo de qualidade” com seu filho. Isso significa que n�o importa a quantidade de horas que uma m�e passe ao lado de seu filho, e, sim, o quanto ela estar� conectada com ele nos momentos em que estiverem juntos. Essa t�cnica vai ajudar a estabelecer conex�o e v�nculo entre m�e e filho mais fortes e sem demandar muito tempo.   

Vale lembrar que conciliar essas duas tarefas vai se tornando mais “f�cil” com o passar do tempo. O trabalho de uma m�e de crian�a � diferente do trabalho das m�es de adolescentes. Al�m dos anos de pr�tica, � medida que o filho vai crescendo, ele vai ganhando mais autonomia e buscando, tamb�m, seu lugar no mundo. 

Segundo a psic�loga, existe uma coisa que privilegia m�es de adolescentes, porque os jovens t�m mais autonomia e n�o dependem tanto dessa presen�a materna constante, nem de ter um adulto fazendo tudo por ele ou cuidando dele o dia todo.

“� o caminho esperado.  Portanto, quanto maiores e mais independentes os filhos v�o se tornando, mais liberdade e tempo livre ter�o as m�es, e assim, consequentemente, poder�o se dedicar � sua vida pessoal e profissional com menos press�o ou preocupa��es que tanto assolam as m�es de crian�as. Isso vai depender da idade e da matura��o cognitiva e emocional e do n�vel de independ�ncia desses filhos”, conclui a especialista.


"Quanto maiores e mais independentes os filhos v�o se tornando, mais liberdade e tempo livre ter�o as m�es, e assim poder�o se dedicar � sua vida pessoal e profissional”
Carolina Dantas, psic�loga



A incompar�vel for�a das m�es

No caso da artista Graziela Andrade, professora da Escola de Belas Artes e pesquisadora da UFMG, conciliar trabalho e ma- ternidade foi mais que uma vontade, foi uma necessidade. De- pois de 4 anos afastada de suas fun��es como pesquisadora para cuidar da filha com para- lisia cerebral – como consequ�ncia de um parto malsucedido –, ela percebeu uma nova forma de conciliar seus projetos com o tratamento da filha.

“Quando Helena nasceu, eu e minha fam�lia vivemos um trauma indescrit�vel, e eu entendi que nunca mais conseguiria me dedicar �s pesquisas. H� pouco tempo, percebi que, como m�e de uma crian�a especial, eu nunca parei de pesquisar, eu apenas havia mudado meus interesses de conhecimento”, conta Graziela.

Foi investigando novas abordagens para as quest�es moto- ras de sua filha e a partir das experi�ncias que ambas adquiriram ao longo de diversos procedimentos terap�uticos que a m�e-pesquisadora percebeu o caminho em potencial para o desenvolvimento da filha por meio da dan�a, ao qual ela se dedica. De acordo com Graziela, a filha faz todos os tratamentos tradicionais e que s�o importantes para ela em termos de manuten��o f�sica.

“Mas o aprendizado em si, no caso dela, me parecia acontecer quando havia uma proposta baseada em sua consci�ncia, em seu engajamento. Foi em suas li��es de Feldenkrais que eu realmente notei algo novo acontecendo em seu corpo. Ent�o, co- mecei a buscar o que mais estava sendo desenvolvido em ou- tros pa�ses, para al�m das pes- quisas m�dicas que eu j� mape- ava”, conta a m�e.

CONSCI�NCIA CORPORAL 

O Feldenkrais � uma das t�cnicas que fazem parte do campo das abordagens som�ticas que v�o estudar o corpo de um modo mais global, e que sempre le- vam em conta a consci�ncia corporal e o pensamento para al�m do movimento. Foi pes-    quisando esses caminhos que ela encontrou o canadense de origem japonesa Yuji Oka, fundador da Spiral Praxis, uma modalidade contempor�nea que visa promover um estado de fluidez entre a��es e sentimentos, fazendo com que os movimentos humanos sejam mais conscientes e menos auto- m�ticos. 

“Assim como eu, Oka veio da dan�a, talvez por isso minha identifica��o com o seu trabalho tenha sido t�o imediata. Ele vem desenvolvendo seu m�todo h� 25 anos, � uma figura muito afetuosa, encorajadora e tem ajudado crian�as no mundo todo. Agora chegou nossa vez!”, diz Graziela, esperan�osa.

A artista e sua filha se pre- param para embarcar para To- ronto, onde v�o experimentar – uma como pesquisadora e outra como paciente – a t�cnica Adapted Spiral Praxis, fundada por Yuji Oka e ainda in�dita no Brasil. A fam�lia organizou a campanha “Sapeca Leleca no Canad�” (benfeitoria.com/projeto/sapecaleleca), para arrecada��o de fundos para o projeto. No site, � poss�vel conhecer um pouco melhor essa hist�ria, contribuir com qualquer valor e ainda receber re- compensas que variam entre livros, desenhos e pinturas dos pr�prios pais de Helena. 

Al�m dessa primeira expe- ri�ncia, Graziela acaba de ser aceita pela Universidade de Montreal (UQAM), onde desenvolver� sua pesquisa de p�s-doutorado, prevista para 2023, relacionando a dan�a � paralisia cerebral. “Eles se interessaram pela minha pesquisa, pois minha abordagem � bem inovadora e, na verdade, muito simples. A ideia � envolver pais e crian�as em uma esp�cie de jogos de dan�a, onde o prazer, o ritmo e a ludicidade ser�o chaves para o movimento, respeitando a singularidade de cada corpo presente, explica a professora.

* Estagi�ria sob supervis�o da editora Ellen Cristie


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